A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2022-05-30 às 06h00
Depois de dois anos de sucessivas restrições devido a um vírus que insiste em permanecer entre nós, a vontade de viver melhor é grande. O trabalho já não é, para muitos, uma prioridade absoluta. No entanto, subitamente, abateu-se sobre nós uma pesada inflação. Que nos atinge a todos, mas sobretudo os mais vulneráveis.
Hoje, em Portugal, há um milhão de pessoas com menos de 250 euros mensais e dois milhões com menos de 450 euros. Nem imaginamos de que modo se (sobre)vive assim. Ainda que o Presidente da República tenha agitado a bandeira dos sem-abrigo no primeiro mandato, há atualmente oito mil pessoas nessa situação. Alguns podem insistir em permanecer na rua, mas a maioria não dispõe de meios para dali sair. E isso deveria fazer-nos pensar.
Neste fim-de-semana, o Banco Alimentar Contra a Pobreza desenvolveu mais uma campanha de recolha de alimentos. Para além desta última onda covid ter naturalmente afetado alguns voluntários e subtraído dinâmica ao peditório, desta vez a organização terá tido mais dificuldade em reunir doações devido ao aumento que os bens alimentares têm sofrido nos últimos meses. Nas duas idas ao supermercado, não testemunhei muita adesão e isso deixou-me apreensiva, porque sei que é preciso ajudar a ajudar. Contradições de um tempo já de si cheio de paradoxos. Porque também é de festas e animação que se preenchem estes dias.
Quem percorreu este fim-de-semana o centro da cidade de Braga dificilmente acreditaria que vivemos um período de dificuldades económicas. As ruas transbordavam de gente. Os bares, restaurantes e esplanadas também. Sinais, talvez, de uma explosão libertadora de meses de confinamentos...
No entanto, dados estatísticos dão outro retrato do país. Segundo a Rede Europeia Anti-Pobreza, em 2020, 11.2 por cento dos portugueses que trabalhavam estavam em risco de pobreza. De acordo com os rendimentos de 2019, Portugal era o nono país com maior risco de pobreza entre os trabalhadores por conta de outrem e o terceiro no caso dos restantes trabalhadores.
Esta situação é ainda pior se juntarmos outro elemento: o número de horas que trabalhamos. Que são muitas, quando nos comparamos com outro país. Na edição de 14 de maio, o Dinheiro Vivo escolhia para manchete este título: “Não trabalhávamos tanto há mais de uma década, mas os salários já estão a travar”. Ora se os índices de desemprego não são expressivos, os salários baixos e uma inflação alta obrigam a duplicar empregos. Segundo o jornal, os segundos empregos estão a disparar como nunca, somando-se já 254 mil trabalhadores nesta condição. E assim vão continuar, se não houver uma travagem desta escalada de preços.
Não há muitas razões para termos a esperança de que surgirá em breve uma nova e auspiciosa conjuntura. Na Ucrânia, a guerra não parece dar tréguas e está a atingir um sistema alimentar global já anteriormente atacado pela Covid-19. No entanto, mesmo antes do conflito começar, já o Programa Alimentar Mundial tinha avisado que 2022 seria um ano terrível. No mundo há quase 250 milhões de pessoas à beira da fome e nós não temos sido capazes de reverter este flagelo. E isso deveria levar a uma profunda reflexão.
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