Diz-nos a sabedoria popular que não devemos julgar um livro pela sua capa, que, deveras, a sua riqueza está no conteúdo. Mas, por outro lado, o livro é um todo. E, muitas vezes, o que nos faz parar, retirá-lo da estante e começar a desfrutá-lo, é a sua capa, parte integrante desse todo, bem como a finalidade do livro é frequentemente servida por uma ou outra ocasional ilustração, que clarificam e potenciam o seu conteúdo. Esta é uma verdade maior, por exemplo, no caso da literatura infantil.

Em setembro de 2023, educadoras, pais e Junta de Freguesia do Jardim de Infância das Regadinhas, em Lomar, uniram-se, a partir de uma ideia da educadora Daniela Silva, num projeto que denomina- ram “Mais Recreio, Melhor Infância”. Num trabalho conjunto e intenso, a terra batida foi substituída pelo verde, as árvores foram coloridas com peças de tecido, jogos foram pintados no chão e espaços de brincadeira foram espalhados pelo recinto. Fazendo com que uma criança que chegue ao Jardim pela primeira vez perceba, logo pela capa, que está num “livro” cujo conteúdo é diferente e onde uma comunidade de interessados se une, permanentemente, para que a sua infância seja melhor e mais significativa. Como tantas vezes repetimos, o sucesso educativo diário só acontece se três partes se completarem e articularem permanentemente: escola, poder local e pais.

Quando as partes se unem, o sucesso acontece: e se premiado, melhor! Na sexta-feira passada, no Auditório Vita, aconteceu uma festa: numa iniciativa da Federação das Associações de Pais do Conse- lho, decorreu o IV Encontro da Comunidade Educativa de Braga, no qual, para além das atuações de inúmeros alunos de escolas, foram entregues os Prémios Escola Amiga da Criança. Os prémios, resultantes de uma iniciativa conjunta da CONFAP (Confederação Nacional das Associações de Pais), da LeYa e do psicólogo Eduardo Sá, visam distinguir escolas que concebem e concretizam ideias extraordinárias, contribuindo para um desenvolvimento mais feliz da criança no espaço escolar, procurando, ainda, divulgar e partilhar boas práticas, como, entre outros projetos premiados, o projeto “Mais Recreio, Melhor Infância”, do Jardim das Regadinhas.

A todos os evolvidos nos projetos premiados das diversas escolas, bem como à FAP-Braga, na pessoa da sua presidente da Direção, Carla Silva, o nosso louvor e os parabéns por mais este culminar!
Mas, se as crianças são o fim da escola e é incontornável que a escola só possa ser sua amiga, a escola também é espaço de inúmeros outros atores, que na mesma se cumprem diariamente.
É, assim, necessário que, sem deixar de ser, antes de tudo, amiga das crianças, a escola também seja um espaço amigo para pais, pessoal não docente e professores. Esta constatação é particularmente crítica num momento em que se verifica uma significativa falta de docentes e de apelatividade da profissão de professor.

Como já aconteceu em tempos idos, somente quando os alunos virem nos seus professores profissionais realizados e respeitados, se identificarão com os mesmos e optarão por seguir caminho idêntico. Assim, atrair novos atores não passa somente por oferecer melhores condições a quem entra na profissão, mas, principalmente, pelo respeito e condições oferecidas àqueles já na vocação.
Um exemplo concreto: numa altura em que, transitoriamente, se pedem horas extraordinárias a tantos docentes para responder a uma situação de emergência, seria importante, em particular atendendo à faixa etária em que a maioria se encontra, que a sua restante carga não letiva fosse formalmente diminuída ou aligeirada. Outro exemplo, neste caso em vias de concretização: a decisão anunciada pelo Governo de classificar como crime público as agressões a professores e assistentes operacionais.
Somente uma escola amiga e respeitadora de todos poderá criar uma sociedade, ela também, amiga e respeitadora de todos.