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Escrever e falar bem Português - A língua é a mesma, o sabor é outro

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Escrever e falar bem Português - A língua é a mesma, o sabor é outro

Escreve quem sabe

2020-01-12 às 06h00

Cristina Fontes Cristina Fontes

Certo dia, em início de carreira, perguntei a um aluno, que se levantou sem autorização, aonde ia. O rapaz olhou para trás e prontamente respondeu “a nenhures”. Desconhecia a expressão, mas o certo é que ele se voltou a sentar e a aula prosseguiu, sem mais percalços. Chegada à sala de professores, perguntei aos colegas o significado da tal expressão e fui rapidamente elucidada.
A partir daí, passei a sentir um fascínio por expressões idiomáticas e vocábulos regionais.

Recém-casada, tive um problema com a banca da cozinha e disse ao meu marido que teríamos de chamar um picheleiro. Pois bem, tive de explicar ao beirão que “banca” era “pia” e que teríamos de chamar um canalizador. Mais tarde, precisei de um “aloquete”, mas, perante o espanto, lá lhe pedi que me comprasse um “cadeado”. As camisas passaram a ser penduradas em “cabides” e não em “cruzetas” e os “travesseiros” passaram a “almofadas”.
Numa consulta, o médico disse-me para “bufar” com força. Permaneci quietinha na cadeira, sem saber o que fazer até que ele insistiu para “soprar” com força. Fiquei mesmo “sarapantada” nessa consulta, pois também foi a primeira vez que roí as unhas até aos “sabugos”.

Da minha convivência com beirões, do litoral e do interior, tenho enriquecido o meu repertório vocabular. A nível culinário, dou por mim a dizer “tampa”, em vez de “testo”, “alguidar” em vez de “bacia” e a trocar “estrugido” por “refogado”. Não me esqueço de pedir uma “imperial”, para acompanhar o queijo “queimoso”, uma “bica” ou um “garoto”. Nunca me esqueço de colocar um “garruço” quando saio à rua no rigoroso inverno beirão.
Por lá, os miúdos são “cachopos”, e os mais novos são “pequerrichos”. Às vezes, são “arteiros” e andam todos “fraldisqueiros”, pondo os pais “aporrinhados”. Quando vêm ao Norte, gostam de andar às “carrachuchas” para “fanar” uns “gaipinhos” de uvas das “ramadas”.

Mais a sul, o Alentejo brinda-nos com algumas das expressões mais interessantes. Quando num restaurante de Évora perguntei ao empregado se a comida demorava, respondeu-me naquele sotaque cantado tão característico “daquém nada”, isto é “daqui a pouco”.

Se as melhores melancias são as do Ladoeiro, na Beira Baixa, foi no Alentejo que ouvi alguém dizer que ia “galar a melancia” para ver se era boa. Depois do espanto, lá fiquei a saber que o meu interlocutor iria fazer um buraco para ver se estava madura.
“Se bem calha”, o leitor “tem lidação” com algum alentejano ou beirão e já se “travou de razões” à conta destas subtilezas da nossa língua.
Espero que não ache que “ando a vender água sem caneco” e que desperte para a riqueza dos nossos regionalismos.
Boa semana

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