Um batizado especial
Ideias
2016-02-29 às 06h00
Começa amanhã o debate de investidura de Pedro Sánchez, o líder dos socialistas, investido pelo Rei para formar Governo. Mas, quando chegar a hora da votação, é improvável que consiga reunir a maioria dos votos, o que implicará segunda ronda. Se, novamente, não obtiver o voto dos deputados, isso significará novas eleições. Que deverão ocorrer a 26 de junho. Resultado: um país imobilizado durante um ano.
As eleições gerais em Espanha decorreram a 20 de dezembro, tendo sido o Partido Popular a reunir mais votos, sem, no entanto, ter conquistado a maioria. Felipe VI, como o estipulado, ouviu os líderes dos partidos com assento no Congresso, mas, antes de ter tornado pública a sua opção de investidura, o líder dos populares e atual primeiro-ministro em funções, Mariano Rajoy, declarou estar indisponível para tal tarefa. Nova ronda de reuniões na Zarzuela, saindo daí Pedro Sánchez com a tarefa de encontrar uma solução para formar Governo. E eis que começou a tomar forma a possibilidade de haver uma “solução à portuguesa”, ou seja, os socialistas fariam um acordo à esquerda e assegurariam uma solução governativa... Mas as negociações foram catastróficas.
Antes propriamente do tempo de promover consensos, os líderes de todos os partidos multiplicaram-se em declarações aos jornalistas. E estes, claro, encarregaram-se de ir avolumando as contradições entre eles. Em vez de apresentar a Sánchez compromissos, o líder do Podemos comunicou aos jornalistas que entraria para a reunião com uma exigência prévia: ser vice-presidente do Governo dos socialistas. Momentos depois, o secretário-geral dos socialistas, confrontado com tais declarações, lá foi dizendo que não negociava lugares, mas sim ideias. Atrás de si, o PSOE acumulava já algum desgaste para a escolha do Presidente do Congresso. Para fazer eleger Patxi López, os socialistas fizeram uma aliança com o partido Ciudadanos e deixaram o candidato de Inglesias pendurado, o que enfureceu os deputados do Podemos. O que nasce mal...
Na passada semana, Sánchez fez um derradeiro esforço para alcançar o apoio das esquerdas, reunindo as várias sensibilidades num encontro ao qual o Podemos foi o último a chegar e o primeiro a sair. Inglesias repudiou energicamente o acordo que, na véspera, o PSOE havia assinado com o Ciudadnos a fim de garantir amanhã o voto dos seus 40 deputados, lembrando que 40 mais 90 (o número de deputados do PSOE) não chegava para eleger um governo. Nas entrelinhas, subentendia-se que eram imprescindíveis os 69 deputados do seu partido....
É, pois, sob o signo de uma colossal tensão que amanhã se inicia o debate de uma investidura que antes de o ser nunca teve hipóteses de se concretizar. Claro que poderá haver sempre surpresas. A política é um terreno extremamente movediço para fazer prognósticos, mas, face à atual conjuntura, nada estará assegurado. Nem mesmo aquilo que se declara certo. Os diálogos interpartidários estão bloqueados e mesmo no interior dos partidos as clivagens são visíveis.
Felipe Gonzalez, nas últimas semanas, desdobrou-se em declarações aos jornalistas para dizer que Pedro Sánchez não tinha legitimidade para governar e a líder da Andaluzia também fez algum trabalho de casa para desgastar a imagem do secretário-geral do PSOE. E falamos aqui de gente do mesmo partido... Também no interior do PP se pressentem divisões. Os populares, a braços com enormes suspeitas de corrupção em Madrid e em Valência, não estão muito contentes com Mariano Rajoy. Todos pressentem que um ciclo se fechou, mas, face à perspetiva de novas eleições já em junho, o tempo para eleger um novo presidente do partido esgotou-se.
E enquanto há um país político que na vizinha Espanha anda de pernas para o ar, existe também um país real que se afunda cada vez mais numa crise para a qual ninguém encontra saídas possíveis. É pena que a política esteja hoje entregue a políticos desta qualidade.
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