Os amigos de Mariana (1ª parte)
Ideias
2017-04-14 às 06h00
Toda e cada tecnologia, pela sua natureza ambivalente, pode ter duplo uso, isto é, servir tanto para o bem como para o mal, para o progresso como para o retrocesso, para a civilização como para a barbárie. Apesar disso, quando ouvimos a palavra “tecnologia” parecemos apenas reter, certamente por hábito firmado, as conotações positivas que ela leva; continuamos, por conseguinte, a associar mais facilmente tecnologia sobretudo a progresso.
Embora esta última palavra signifique literalmente “marcha ou movimento para diante” (do latim pro, para a frente e gressus, andar), não implicando, por isso, qualquer juízo de valor (apesar de a raiz de gradior, gressus ser gradus, “andar a passo” e, por extensão semântica, graduar) ela afigura-se-nos quase sempre sinónima de avanço e melhoramento. Assim, quando pensamos n(um)a tecnologia logo criamos expectativas de progresso, isto é, de obter algum ganho com ela que antes não tínhamos.
É evidente que, muitas vezes, quando substituímos uma tecnologia por outra que promete ser melhor, apurar se, de facto, se verificou um progresso é mais complexo porque envolve um cálculo sobre se as supostas vantagens de adotar a mais recente superam inequivocamente os custos de desistir da mais antiga - é o que costuma acontecer quando fazemos um upgrade de um software: temos de ponderar se as novas funcionalidades oferecidas justificam o tempo que teremos de investir na sua aprendizagem.
Vejamos dois casos do meu (e de tantos) quotidiano profissional. Até há não muitos anos para elaborar um sumário de uma aula recorria a duas tecnologias ímpares: o papel e a caneta. Em dois ou três minutos redigia o número da lição, a data, as horas, o título e a descrição sucinta do que havia feito na sessão letiva. Entretanto, essas duas tecnologias foram substituídas por uma plataforma eletrónica em que só para chegar ao espaço de inserção do sumário levo o triplo do tempo antes gasto para registar toda a informação que referi.
Será progresso tecnológico?
E nem vale a pena argumentar-se que a substituição do papel pelos bits e bytes cria valor ecológico, porque, como bem se sabe, o chamado “lixo informático” é bem mais lesivo do ambiente que a pasta de papel.
Mais recentemente, também a rotina anual de elaboração de horários letivos sofreu uma interessante atualização. O que tínhamos no passado não muito distante era a elaboração dos mesmos, igualmente usando papel e caneta, pela parte dos diretores dos cursos de cada ciclo.
Depois… depois veio a proposta de passar a fazê-los numa tabela em Word; e cedo se reivindicou que seria melhor produzi-los numa folha de cálculo Excel; e não demorou até que alguém afiançasse a necessidade de ser criada uma sofisticada plataforma eletrónica na própria escola para esse fim, que, ato contínuo, passou a mobilizar uma tropa de docentes durante um irrazoável período de tempo para alimentá-la com dados e mais dados; reparou-se, entretanto, que a dita plataforma não era compatível - isto é, interoperável, como hoje se prefere dizer - com aquela outra que é oficialmente usada pela Universidade e, pasme-se, alguém outro sugeriu que se deveria desenvolver uma app para compatibilizar as duas plataformas - algo que, mesmo que tivesse ido por diante, não eliminava a desnecessária redundância - e… Será isto progresso tecnológico?
Poderia continuar com os exemplos, mas julgo que ficaram com uma ideia das estranhas formas que o progresso tecnológico pode assumir.
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