A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2012-09-16 às 06h00
Por estes dias, começa o ano lectivo em diversos graus do ensino. Num tempo de desencanto, como é este, procuram-se motivos que nos dêem alento para acreditar num futuro melhor. Seria urgente, pois, passar esta mensagem a quem ingressa no sistema escolar: eis um caminho que se abre para saber mais, para descobrir mais, para conhecer mais… para aprender mais.
Lembro-me bem dos tempos da minha escola primária. No início de cada ano lectivo, ali estava eu a folhear cheia de curiosidade os livros que me acompanhariam nos próximos meses. Olhava para eles cheia de vontade de aprender o que eles me queriam ensinar. Ano após ano, fui renovando esse meu interesse, que ia ajustando ao grau em que estava. Talvez tivesse tido a sorte de encontrar professores que me ensinaram a gostar de estudar, talvez tivesse tido a felicidade de crescer num ambiente familiar que fomentava uma aprendizagem autónoma, mas responsável. Nunca ninguém me mandou estudar, mas eu sabia que, no final de cada trimestre, teria de prestar contas. Este era uma espécie de contrato tácito que eu assumia com os meus pais e com os meus professores e que cumpria à risca. Com gosto.
Amanhã, a UMinho fará a abertura oficial do ano lectivo. Nos ‘campi’ de Braga e Guimarães, haverá centenas de alunos, muitos deles entretidos nas tradicionais praxes. Iremos novamente ser confrontados com os exageros de tais práticas que, com o passar dos anos, se tornam cada vezes mais agressivas. Quando será que os estudantes do Ensino Superior nos surpreenderão com praxes com alguma dignidade? Em vez de se perderem em gritarias histéricas, em cânticos patéticos ou em exibições animalescas, não seria melhor aproveitar esse tempo e organizar iniciativas que tivessem realmente valor social?
Ano após ano, vou renovando a esperança de reencontrar uma outra vida académica nos chamados caloiros que chegam às universidades, mesmo sabendo que os media cedo me confrontarão com peças que falam de práticas “integradoras” verdadeiramente dantescas. Antes desta previsível agenda ser posta em prática, leio com gosto a matéria que a semana passada o Expresso publicou. No caderno principal, uma fotografia em que se viam Eduardo Lourenço e uma licenciada em Línguas e Literaturas Modernas com média de 19 tinha este subtítulo: ‘estudar é preciso”. Na revista “Única”, somavam-se retratos de professores que foram brilhantes e de recém-licenciados que também o foram. Exemplos: Marcelo Rebelo de Sousa e Jorge Pação. O primeiro licenciou-se há 40 anos com média de 19; o segundo acaba de concluir a licenciatura com 18 valores. Os conselhos do professor: é impossível ter notas altas sem estudar; não começar a estudar tarde, porque um ano lectivo, na sua opinião, ganha-se até Novembro; ter uma vida para além dos estudos… Umas páginas mais à frente, Francisco Louçã, que se licenciou em Economia com uma média de 17 valores, dirá que “o estudo é suor e persistência”. Constituindo o único exemplo dado por alguém fora de Lisboa, Manuel Sobrinho Simões, da Universidade do Porto, assegura isto: “um tipo dar barraca ou responder de forma estúpida é humilhante”. São destas afirmações que se recolhem ensinamentos valiosíssimos acerca do que implica estudar, nomeadamente no Ensino Superior.
Numa altura em que se banaliza o conceito de Universidade (veja-se o exemplo das “Universidades” de verão promovidas pelos partidos políticos), é aconselhável ler devagar estes depoimentos para perceber o que está subjacente a um curso superior, quando feito de forma séria e empenhada. É desta gente que precisamos.
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