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“Et tu, Brute?”

Maravilhas Humanas

“Et tu, Brute?”

Voz às Escolas

2025-02-26 às 06h00

José Carlos Freitas José Carlos Freitas

O fenómeno da violência em contexto escolar está longe de ser uma marca de exclusividade dos tempos conturbados e de indefinição que vivemos. Na verdade, todos nós fomos testemunhas – quantos não terão até sido vítimas – de atos de violência avulso, mais ou menos isolados, de maior ou menor gravidade, durante o período da nossa infância e juventude. Mas este pendor de normalidade aparente, de mera repetição de um problema cuja origem se perde no corredor do tempo, esbarra na intensidade e gravidade crescentes, assim como na frequência recorrente (+10.6% no espaço de um ano), não podendo ser considerado, pois, como algo normal, aceitável ou desculpável, e que por isso pode passar incólume por entre os pingos da chuva do escrutínio interno, social e, no limite, judicial. Não pode. Agora, o chuveiro é já demasiado intenso, não permitindo qualquer espaço entre pingos de chuva…
Poder-se-ia evocar, em jeito de presunção retórica, logo falível, que o fenómeno assume hoje uma dimensão sem paralelo não pelo aumento real de casos, antes pela perfusão de notícias hiperbolizadas pela comunicação social, cujas parangonas sonantes estimulam e promovem quer a venda de jornais, quer os “clicks” nas suas redes sociais, interferindo negativamente, por essa razão e demasiadas vezes, na fluidez, rigor e isenção exigidas à tramitação processual (interna ou externa) em curso.
Mas, como se afigura evidente, o problema - este problema, em concreto - não reside no “mensageiro”, não obstante o ímpeto exagerado que invariavelmente “empresta” à mensagem, partindo, na verdade, dos números tão concretos quanto inaceitáveis constantes do último relatório do Programa Escola Segura da PSP, que a todos deveriam preocupar, alarmar e incitar, em uníssono, à mudança. Se já será tarde? Certamente. Mas nunca será tarde demais.
Não. Este não é um fenómeno recente quanto à tipologia do “ilícito”, mas, sim, atinge e ultrapassa todos os limites do aceitável, das normas de convivência social, das balizas éticas e morais instituídas, inquinando decisivamente a visão da Escola enquanto espaço seguro que se impõe preservar.
É, portanto, imperativo agir a montante da problemática, antecipando, prevendo e precavendo, diminuindo a sua prevalência, e não a jusante, como recorrentemente se tem feito, punindo agressores e mitigando (e nem sempre) inevitáveis consequências no agredido. E esta ação, se a desejarmos eficaz e consequente, terá que ser de largo espectro, mobilizando escolas, autoridades judiciais e judiciárias e, sobretudo, a sociedade, porquanto a verdadeira mudança só dela poderá partir, pois ela é, na verdade, a fonte do problema.
Tomando como factuais as conclusões do referido relatório do Programa Escola Segura da PSP, este inusitado aumento dos índices de violência escolar, exercida entre alunos mas também, cada vez mais, sobre os profissionais docentes e não docentes, não terá origem exclusiva no perímetro escolar.
Longe disso. Com efeito, tratar-se-á de mero reflexo da sociedade civil, e do momento particularmente tenso que todos vivemos. Se a sociedade está mais intolerante, mais irascível e mais violenta, a Escola, enquanto entidade dinâmica e aberta que é, padece de alguma permeabilidade, vendo replicados, dentro de portas, problemas que antes ficavam “do lado de fora”.
Na verdade, conclui-se que nunca houve o “dentro” e o “fora”. Há, como sempre houve, apenas o todo, em permanente simbiose, indissociáveis entre si. Esta espécie de “Et tu, Brute?” social é, por isso, extensível a ambos os lados, que são e serão sempre, somente, dois lados de uma mesma moeda…

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