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Ideias

2019-05-17 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Meros segundos, víamos, há dias, Durão Barroso e Passos Coelho, em fundo da celebração do Dia da Europa, efeméride redentora da derrota e capitulação alemã. Um Passos gasto e macilento, émulo de asceta perdido em renúncias e meditações, e um Barroso de estampa exemplar, lustroso, de cabeleira farta e peles esticadas, como quem sai de clube masculino refinado, com ginásio, sauna, massagem e cosmética, pronto para deslumbrar e circular em grande pela melhor sociedade.
Homem de parva ciência, declarava, o Barroso, que mais o incomodava, que mais perniciosa achava, a inacção dos defensores da Europa, do que o quer que fosse que dissessem ou fizessem os ilustres detractores da integração. Ouvi-o e divaguei: mas que fez, esta pia criatura, em prol de um projecto positivo europeu? Não queria, a europa que tão cara lhe é, despromove-lo, execrá-lo, por fresco e pujante se ter acolhido num santuário financeiro? Por que europa mais pugnou o dez vezes cônsul – pela europa dos cidadãos, ou pela europa da finança?
Por que correntes e ventos periga a barca europeia? Quão diabólico é o discurso que diaboliza os extremos que medram da Espanha à Hungria? E, em geral, a quem serve a instabilidade? Ilusões que não tenho – as direitas, à moda da Le Pen e afins, não governarão diferentemente dos centros, dos blocos centrais, das esquerdas tímidas ou dos liberais. As modéstias e as purezas que se arvoram, para que o Poder seja atingido, prontamente soçobram ao avanço da ganância e das conveniências. Sabendo-o, o comum cidadão também, muda de sentido de voto, ainda assim, porque a única esperança que lhe resta, é a de que os novos senhorios reforcem a esmola para criar fama. Ou descrê, e abstém-se, reforçando secundariamente a expressão das franjas limítrofes.
Se a folha de rumo e as motivações das cúpulas partidárias são sobejamente pressentidas, se parcas são as esperanças de regeneração auto-assumida, bom era que nos consciencializássemos das nossas responsabilidades e passássemos a ser mais exigentes connosco próprios, com a delegação de poder que o voto encerra. Para começar, não poderemos nós confiar, preferencialmente, em partidos que se prestem a escrutínio regular de militantes e simpatizantes, em partidos que nos elenquem, com regularidade mensal, as iniciativas que tomam, o que protelam ou abrogam, e por que razões?
Que chatice, dirá o indeclinável adepto do futebol, da novela, do netflix, do talk show, da sitcom, o consumidor desta profusa combinação de ópios para o povo. E como se arranjariam, para atender à iniciativa, os que gastam uma hora a passar em transportes, mais as famílias monoparentais…
A democracia não dispensa ninguém, pessoa alguma pode invocar que não dispõe de tempo para consagrar à discussão da vida em comum, ou, se isso é verdade, tal só significa que é o regime que se encontra em falha, eventualmente em falência.
Sou euro-compatível, mais do que eurocéptico ou euro-entusiasta. Talvez a Europa precise do meu voto, mas bom era que a Europa se lembrasse de mim, de vez em quando, do meu bondoso leitor, inclusive. Por absurdo que possa parecer, gostava que a Europa nos visse a todos como dirigentes e diri- gidos, em simultâneo, como líderes e cidadãos anónimos, gostava que, a cada momento, qualquer um de nós pudesse ser sorteado como conselheiro departamental por um mês, ou por um trimestre, num crescendo de vulgarização do exercício do poder público.
A Europa não é uma religião, para que nos dividamos em crentes, ateus ou agnósticos, em beatos e não-praticantes. A Europa não é um destino, é um presente. Que o nosso voto seja tratado com as deferências do metal precioso.

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