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EUROPA. Que Futuro? 2

‘Prontidão 2030’ vs. uma ‘potência Disney’

EUROPA. Que Futuro? 2

Escreve quem sabe

2024-07-09 às 06h00

Vítor Esperança Vítor Esperança

Estamos ainda no início da mudança dos protagonistas que dominarão a economia mundial nas próximas décadas. Os países da Ásia têm vindo rapidamente a aumentar o seu peso no PIB das Nações, com a China a assumir destacada liderança, aproximando-se dos Estados Unidos na criação de riqueza. A Europa está a ser ultrapassada, mesmo considerando a Europa como um todo, o que não é, pois apenas representa o somatório de muitos, ainda que com a maioria dos seus países associados numa União Política e Económica, a UE.
É uma união muito mais sólida do que outras de quem se fala, como a do BRICS, mas bem mais frágil se considerarmos cada um dos seus membros per se. Ali surgem alguns dos maiores países do Mundo. O tamanho do território, o valor das suas riquezas, a quantidade e qualidade competitiva das suas gentes voltam a superar a importância da história das nações dos antigos impérios. A tudo isto, junta-se a força do poder das respetivas lideranças políticas. Os EUA, a China, a India, a Indonésia, a Rússia, o Brasil, etc. são alguns dos exemplos dos novos países líder. A Rússia surge quase sempre na lista não porque seja uma das maiores potências económicas, mas por continuar a ser uma grande potência militar e política. Cada um vai tratando de si e das suas relações com cada uma das outras num período político estranho onde se vai reduzindo a importância e o respeito dado aos entendimentos multilaterais e aos Tratados internacionais e às próprias instituições mundiais, como a ONU.
A Europa é um conjunto de Estados soberanos, que aparecem estar cada vez mais longe de uma verdadeira União de Estados, apesar de existirem muitos compromissos que aproximam os seus países membros desta caraterização. Na União Europeia continuam a existir muitas fragilidades e divisões políticas substanciais. É fácil bloquear avanços com a regra da decisão por unanimidade. É difícil contar sempre com o consenso entre países com democracias sustentadas em políticas diferentes. Pior, cada vez é maior o afastamento político do modelo da social-democracia/democracia-cristã que foram fundamentais na construção da Europa democrata. O exemplo do Brexit exemplifica bem o que quero dizer, com a agravante de assistirmos ao crescimento das tendências que dão oportunidade a extremismos wokes e nacionalismos fascizantes. A adesão de mais Estados que se apresentam com particularidades e interesses distintos e diferentes razões de oportunidade, tornará muito difícil, senão mesmo impossível, manter um modelo de decisão por consenso e atender a todas as exigências das diferentes lideranças.
A forma e justificação política da saída do Reino Unido da UE, exemplificam bem o que pode vir a surgir num futuro próximo se atendermos aos resultados das eleições em França, na Alemanha e em Itália, numa altura em que a liderança partilhada da UE cabe à Hungria.
É real o perigo de fragmentação da UE com o atual modelo de governação.
Um sistema político que tenta juntar interesses de Estados com lideranças políticas muito diferentes, onde cada um teima em definir a parte dos Poderes que entende como imprescindíveis à sua soberania, onde cada líder se julga igual aos restantes pela simples regra da legitimidade da sua eleição interna, não será suficiente em tempos de fortalecimento de novas lideranças no Mundo das Nações. A Europa dos grandes líderes já não existe. Já não se pensa na Europa, mas em cada um com os interesses da sua terrinha. Perdeu-se muito tempo no avanço da União Europeia, designadamente a da oportunidade dada pelas profundas mudanças políticas após a “queda do muro”, ali, as Finanças superaram a Política.
Hoje, avançam os nacionalismos novamente, com os seus protecionismos económicos e populismos demagógicos. O centro político deixou de se centrar na Europa. O próprio Ocidente, em sentido lato (EUA e UE), já não se apresenta como único modelo político/económico vencedor.
Num mundo que se vai agrupando em blocos de grandes Nações, qual a solução para a Europa, ou melhor, para a União Europeia?
Só avançando na identificação das prioridades politicas e económicas a Europa será capaz de congregar estratégias claras e poderá ser representada por uma liderança única forte, democraticamente eleita, que fomente a criação de uma Lei base comum onde se definam regras claras a que todos têm que obedecer, a exemplo do que acontece em cada país ao nível dos seus textos Constitucionais, permitindo que todos os Estados Membros constituam uma verdadeira União, a exemplo duma Federação, ou Confederação de Estados.
Nunca ninguém gosta de perder o que já tem, mesmo em nome de causas maiores, mas temos que dar razão ao ditado que diz que “vale mais perder alguns anéis, mas salvar os dedos”. Sem este avanço político, será muito difícil constituir e manter uma defesa militar única e sustentável, mesmo enquanto signatários da NATO. Será impossível impor condutas políticas aos Estados membros que delimitem o que se considera básico e aceitável na União. Será difícil caminhar para um Sistema de Justiça único. Será difícil aproximar sistemas fiscais que fomentem a equidade económica entre diferenças regiões económica. Será muito difícil estabelecer políticas que favoreçam rapidamente a coesão em importantes áreas do desenvolvimento, nomeadamente nas políticas de saúde, segurança social, proteção do ambiente, agricultura e pescas e, sobretudo, na segurança interna, onde as políticas de imigração fragilizam rapidamente a Democracia. Para que tudo funcione de forma clara e respeitável será fundamental a eleição direta de um líder que se faça respeitar num Mundo de países de gigantes soberanos.
Sim, sei que há muitos fantasmas e medos políticos. Sei que há riscos na perda de parte da soberania em cada Estado, mas será que valerá a pena manter riscos de uma identidade de soberania pífia quando assistimos ao aumento dos riscos de ameaça dos mais fortes?
A guerra na Ucrânia veio alertar a Europa e o Mundo para a importância de se ser “forte e grande”.
Sim, sei que vivemos o regresso dos nacionalismos que imporão visões sectárias, mas não será justamente por isso que devemos repensar o sistema político na atual União Europeia?
Quanto mais divididos e pequenos formos, menor poder e capacidade de influência teremos e maior será a probabilidade de desmoronamento do espírito europeu. Só unidos por um modelo político claro e forte é que poderemos cuidar das liberdades que sustentam a Democracia. Temos uma moeda, um Parlamento, um Tribunal e a Comissão com alguns poderes executivos, mas não temos a força de uma só Nação, a exemplo dos EUA. Falta-nos a coesão política obrigatória e uma liderança forte.
O Mundo e a Europa das Nações estão a tornar-se locais perigosos para a Liberdade, com as Democracias a “cavarem a sua própria sepultura” sob o peso das cautelas do politicamente oportuno. O futuro apresenta-se perigoso e imprevisível.
Pessimista? Talvez. Quem me dera estar enganado.

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