Reclassificar o solo
Ensino
2023-09-14 às 06h00
A proposta de hoje prende-se com um tema que, julgo eu, está na ordem do dia, nomeadamente, no que se prende com o facto de, em Portugal, estarmos a formar jovens estudantes e profissionais, a custos do erário público, sem procurar (investir) no retorno do investimento (ROI). Infelizmente, esses jovens pertencem, agora, a números de “exportação” de conhecimento e promoção do país no estrangeiro, tendo em conta a qualidade da nossa formação e ensino. Em abono da verdade, e nada me apraz assim dizer, os jovens formados para a emigração surgem porque o mercado de trabalho não tem capacidade de absorver os novos quadros. Isto, também, tem impacto no “esmagamento” da classe média (ou o que isso seja). Um facto, infeliz, é que os jovens não estão a ser absorvidos pelo tecido empresarial (leia-se, mercado de trabalho) de forma remuneratória atrativa, devendo-se à pouca ambição dos nossos governantes, sem habilidade de criar políticas públicas marcantes que permitam a fixação desses jovens quadros. Atualmente, estamos a “investir” na aplicação de baixos salários para jovens licenciados, independentemente das áreas (já nem é uma luta de áreas educativas, a luta é geral). Em conclusão, educamos jovens, com ou sem licenciatura, para “exportação”, puro mercado.
Não vendo isto como sendo “tudo mau”, o lado positivo desta situação está no reconhecimento da formação prestada em Portugal e a qualidade dos nossos professores. Já o lado “negro” deste cenário prende-se com a situação que os jovens, potenciais futuros quadros das nossas empresas, têm poucas saídas profissionais em Portugal e, quando há, optam pela redução das suas competências para ganhar o salário mínimo. Há casos aberrantes de jovens advogados que ganham mais numa caixa de supermercado que, em abono da verdade, a exercer a sua profissão como estagiários ou recém agregados (jovens advogados). Temos licenciados a desenvolver atividades inferiores às suas competências e dirigidos por pessoas com menores competências e escolaridade inferior.
A questão começa a ficar preocupante se considerarmos que a “exportação” de conhecimento faz com que o país perca a dobrar, uma vez que, por um lado, perde conhecimentos técnicos e, por outro, perde “sangue” novo que ajudaria a renovar o atual cenário social e demográfico do país, contribuindo para as nossas finanças e segurança social. Desta forma, se olharmos para o índice de velhice em Portugal, estamos, claramente, a optar por ser a “retraite” (reforma) dos franceses, e não só. Cada vez mais, estamos a ser uma opção europeia para o terminus do período ativo. Vejam o Algarve que está cheio de reformados nórdicos, ingleses e outros. Por sua vez, no norte do país temos muitos portugueses que imigraram e que regressam, agora, para gozar a sua reforma, acompanhado(a)s pelo(a)s cônjuges, nacionais ou nem por isso. Segundo o jornal The PortugalNews, (https://www.theportugalnews.com/news/2023-07-05/portugal-ranked-best-country-to-retire/79212?src=newsletter-06/07/2023), Portugal está no topo dos países para passar a reforma. Em resumo, estamos a perder jovens com conhecimento e a engrossar “jovens” com experiência de vida (sénior), são opções mais ou menos estratégicas.
Há, ainda, muito para fazer com esta ausência de políticas públicas dedicadas a este tema, o que representa serem hiatos sociais conducentes para um Portugal envelhecido. Segundo dados dos Censos 2021, a população sénior, com mais de 65 anos, representa cerca de 23,4% em Portugal (quase ¼ da população nacional), uma realidade factual do envelhecimento rápido. De acordo com os números do Eurostat (https://ec.europa.eu/eurostat/web/interactive-publications/demography-2023#fragment-15944082-xtpc-inline-nav-4), a população mais jovem está em fase de decréscimo (há uma clara redução da população com menos 20 anos) face à população mais sénior (com um peso de 24% do total da população portuguesa e em sentido crescente), trazendo impacto na economia nacional e no alargar dos anos de trabalho, antes da reforma. Ainda com dados do Eurostat, e conforme gráfico abaixo, Portugal revela um distanciamento, desde 2010, face à média europeia, com uma forte tónica na população envelhecida. Considero que este possa ser o momento adequado para inverter estas tendências. Atualmente, com dados de 2021, Portugal está acima de média europeia no que se prende com a população envelhecida versus perda de jovens (fruto da imigração). Começa a ser preocupante a fuga dos nossos jovens para países com melhores oportunidades salariais e de carreira, que reconhecem o esforço e o investimento na formação em Portugal. Quem esteve fora, por outro lado, poderá sempre alegar que esses países já passaram pelo mesmo. Dessa forma, pergunto se será que não conseguimos aprender com os erros do passado, nossos e dos outros?
Em conclusão, Portugal tem um forte indicador na imigração, por necessidade de mão de obra, praticamente em todos os sectores. Em resultado, para defender determinadas áreas carentes de recursos humanos, “recrutamos” quadros de outros países para executarem as mesmas tarefas que os nossos podem fazer, mas com pagamentos salariais pouco competitivos. Como exemplo, chega-se ao cúmulo de, no sector da saúde, sermos atendidos por médicos e enfermeiro(a)s que nem português falam (aconteceu com a minha mãe, de 85 anos), tendo de traduzir as instruções.
Ainda no sector da saúde, acresce que uma grande percentagem de bebés, nascidos em Portugal, são filhos de imigrantes. O Estado está, só agora, e tentar promover alguns apoios a jovens, mas ainda muito incipientes. Os apoios à natalidade não são atraentes nem interessantes. Em resumo, estamos a exportar conhecimento de qualidade e a importar conhecimento com outra qualidade (tentar ser elegante) a custo inferior, colocando em risco o futuro do país. Agrava o facto de que alguns dos formados “importados” têm dificuldade no reconhecimento do curso.
Face ao exposto, e em resumo, Portugal não está a conseguir lidar com esta ausência de políticas públicas direcionadas para o incremento da capacidade de motivação e de fixação de jovens com cursos técnicos e superiores no mercado de trabalho. Para o efeito, o nosso tecido empresarial não consegue captar massa crítica, nem tem motivações políticas para o fazer. Analisando as “fugas” de quadros, por faixas etárias, conforme de dados da PorData, em 2021, emigraram mais 23,2%, face em 2008 (quase ¼ da população nacional), oriundos de variadas faixas etárias, (https://www.pordata.pt/portugal/emigrantes+permanentes+total+e+por+grupo+etario-2522). Em valores absolutos, estamos a falar de 20.357 pessoas, em 2008, contra 25.079, em 2021 (aumento de 23,2%). Estes números são assustadores, pois revelam que o nosso país, para além de estar a perder conhecimento e juventude, no sentido lacto, está a perder sustentabilidade e oportunidade de contribuição para o nosso sistema financeiro (menos gente a pagar impostos) e social (menos pessoas a contribuírem, implicando aumento do tempo antes da reforma). Um facto engraçado (sem graça nenhuma, convenhamos), até ao ano de 2010, havia muito poucos portugueses acima dos 50 anos que tentassem a sua sorte na emigração (entre 6 a 8 pessoas). No momento da Troika, esses números disparam (dependendo dos anos, mais de 2.000 pessoas por ano) sem recuperação no pós-Troika, fazendo concorrência aos jovens licenciados. Assim, faço outra pergunta: não haverá ninguém, com sentido de Estado, que fomente políticas públicas adequadas para inverter esta realidade ou que visão estratégica terá sido desenhada para o nosso país em que não somos fator de ponderação?
Confesso que, da análise dos números acima referidos, é difícil não ter medo do futuro, em Portugal. Claramente, estamos com uma dimensão muito envelhecida e um claro esvaziamento (desertificação) de jovens (de todas as idades) com conhecimento. Fica a proposta de reflexão.
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