A Economia não cresce com muros
Ideias
2014-09-06 às 06h00
Com dez anos de desfasamento leio um pequeno livro de Éric Laurent. Por um relance na internet convenço-me que não haverá uma edição portuguesa, razão que me leva a identificar a obra pelo título francês: La face cachée du 11 Septembre.
Mesmo que a generalidade dos portugueses não se debata com grandes dificuldades para penetrar o sentido da obra, cautelas e um respeito ilimitado por quem possa chegar a ler estas linhas, levam-me a propor uma tradução: A face oculta do 11 de Setembro.
Por mim nunca o leria. Simplesmente não faz o meu género. Dispenso totalmente as meritórias investigações jornalísticas que nos desvendam os segredos e os podres dos poderosos. Dispenso, porque não preciso. Sei já, de há muito tempo a esta parte, que vivemos subjugados por simulações da verdade, e que, por muito que fulano e beltrano sejam desmascarados, e que carreiras luminosas tenham um fim abrupto ou um interregno reparador, os postos que ficam vagos acabam ocupados por cavalheiros da mesma estirpe.
Leio o livro em respeito ao meu anfitrião. Chegado a Paris, a esse mesmo centro de mundo em que José Sócrates fez um retiro filosófico, interessa-se pelo hóspede quem tão graciosamente lhe abre as portas. Como é Portugal? O que é que tão a destempo, e fora da idade, me aporta a terras francesas? Faço um relato breve. É mais expansivo e extenso, nos seus comentários sobre a realidade francesa, o meu amigo. Conversa a duas línguas, de parte a parte. Entendemo-nos inteiramente na análise da realidade, e na necessidade duma mudança de paradigma político.
A nível português? Não! Que ideia! A nível da França. A nível do continente europeu. O meu amigo é adepto de Marine Le Pen, e quase que me abre os braços de par em par. Almas gémeas, pouco mais ou menos.
Deposita o livro de Laurent nas minhas mãos: eu que o leia, que ele não conseguiu, de tão enervado que ficava à medida que avançava na leitura. Em si, o livro, discorre sobre como os EUA geraram e patrocinaram um terrorismo que se reverteu contra si próprio; como fecharam os olhos sistematicamente a informações de que dispunham, e como silenciaram os veículos dessas indicações perturbadoras. Porquê? Porque era gente importante demais para ser incomodada.
Mais do que deplorar as simpatias espúrias dos americanos por um certo mundo árabe, deplora o meu amigo que os EUA se tenham constituído em fonte de desestabilização da civilização ocidental: que os serviços secretos americanos teriam chamado a si o controlo da produção e circulação de heroína para financiar a guerra no Afeganistão! Há alguém no seu perfeito juízo que possa acreditar em semelhante disparate? Substância que, adicionalmente, se esperava que pudesse corromper a moral e funcionalidade dos efectivos do exército soviético, à semelhança do que havia acontecido no Vietname com o corpo expedicionário americano!
O meu amigo é uma pessoa de hábitos simples, de filosofia intuitiva e de política funcional. Como figura isolada o meu amigo é irrelevante. O problema é que há largos milhares de pessoas a pensar como ele. E bem, por certo! Ao nível do cidadão comum - coisa que, no fundo, todos nós somos -, a política não pode ter outro fim senão o de fazer funcionar a sociedade, com efeito visível ao nível dos cidadãos e comunidades.
Clamamos, todos, por uma política transparente, para que possamos participar, na exacta medida em que todos somos destinatários e co-responsáveis, mas emparedam-nos com segredos e mistificações, na proporção em que dão seguimento a jogos dúbios e perseguem estratégias pessoais.
Despedaçado o gigante soviético, não faltou quem dissesse que a Humanidade acabava de entrar numa era nova e final. A longuíssima história de medos, disputas e conflitos; a deplorável história de privações - pelo quanto houvera que afectar a materiais e dispositivos de guerra -, encontrara finalmente o seu termo. Ironia das ironias: não há tranquilidade nem optimismo nos dias de hoje, nos anos que leva o esperançoso século XXI.
Por muito que uma elite política desejasse governar a seu bel-prazer, liberta de críticas e isenta de culpas, os governantes de hoje protelam-se ou não no poder pelo favor do voto. Se, sobejamente descontentes, os eleitores se abstêm, não falta quem rejubile e esfregue as mãos de contente. Esquecem-se, talvez, que uma mudança de regime não exige hoje uma revolução.
Basta o voto maciço em quem diga algo de diferente e se proponha realmente fazê-lo. Há um exército de europeus que cada vez acha menos piada à política do costume, que cada vez se sente mais aviltada nas suas esperanças pessoais e valores. Pode ser que haja uma nova Bastilha para tomar. Depois é ver quem se aguenta à bronca.
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