Um batizado especial
Ideias
2023-04-29 às 06h00
A Escola de Direito da Universidade do Minho, assim como os Serviços de Documentação e Bibliotecas da mesma Universidade, vão homenagear, na próxima terça feira (2 de maio), Francisco Salgado Zenha, a propósito do centenário do seu nascimento. A sessão incluirá a inauguração de uma exposição intitulada “As páginas necessárias”, reunindo elementos do espólio do ilustre advogado e político bracarense. Com efeito, esse espólio foi legado por Salgado Zenha à Universidade do Minho (à Escola de Direito) e representa uma importante “fonte” documental sobre o Homem, o político e, de um modo geral, o seu tempo.
No dia 2 de maio, o primeiro-ministro António Costa deslocar-se-á à Escola de Direito para participar neste simbólico, mas realmente importante ato de reconhecimento e de agradecimento a uma das figuras marcantes da política e da construção da democracia portuguesa.
A História, frequentemente, encarrega-se de nos embelezar os factos e de reforçar o sentido - enobrecendo-o - de muitas personagens e acontecimentos marcantes. O tempo, naturalmente, tende a separar, destacando, o brilho e aquilo que foi realmente decisivo, de outras “nuances” da realidade – nem sempre tão épicas, eloquentes ou simplesmente importantes que coexistiram com personagens e com factos que nos marcaram. Sei pouco do dia a dia de Salgado Zenha. Teria, humana e naturalmente, as suas idiossincrasias, traços de personalidade menos enaltecidos, mais fracos ou criticáveis.
No entanto, o que nos fica dele é a memória de um político de causas, de um brilhante tribuno e jurista e de um Homem íntegro. Um político de uma geração (a primeira geração “pós 25 de abril”) que começou a trilhar a construção da democracia. Não sei se haverá um “sobre enaltecimento” insuflado pelo tempo, uma espécie de nostalgia histórica, porém, a imagem que temos e aquilo que sabemos, hoje, desses tempos do “pós-25 de abril”, dos tempos quentes do PREC, da segunda metade da década de 1970, tem pouco a ver com o que vivemos politicamente hoje. Personagens como Salgado Zenha, Mário Soares, Sá Carneiro, Cunhal, cada um à sua maneira e personificando os seus papeis e os seus ideais, deixaram-nos como legado o início do caminho que fomos percorrendo, nestes 49 anos de democracia (pelo menos, formal e constitucional). Foram alguns dos “pioneiros”. Travaram combates decisivos, perseguindo a respetiva ideia (e ideal) de democracia e de Novo Estado, enterrando o “Estado Novo”.
Realmente, mesmo descontando algumas tonalidades épicas provavelmente excessivamente sublinhadas pela História, creio que sentimos uma diferença também ela “épica” (no sentido, agora, de abissal) entre, por um lado, as “guerras” frontais e claras (leais?), embora virulentas, de então e, por outro lado, as guerrinhas que envolvem (envolveram) a atualidade da celebração do “25 de abril”, na semana passada. Entre os discursos inflamados e sentidos dos famosos comícios de então, e as irritações que pareceram levemente ensaiadas de Santos Silva, contra o Chega, durante as pré-cerimónias de celebração da “revolução dos cravos”, com o Presidente Lula da Silva, na Assembleia da República. Entre a famosa expressão histórica e em debate de Cunhal para Soares, “olhe que não, olhe que não” e as declarações, com sorrisos, para a televisão (não) ver de Santos Silva e de Marcelo, em conversa (não) privada, depois da receção ao Presidente do Brasil! Entre o peso e a importância estrutural das atitudes e das causas políticas vividas e, portanto, sentidas, de alguns daqueles “pioneiros” desses tempos do “pós-25 de abril” e as atabalhoadas justificações, ao estilo de desculpas de adolescentes incautos, por exemplo, na “novela TAP”! Não sei se estarei a ser rigoroso, se consigo discernir entre o que é o brilho da História e a realidade, mas, de qualquer modo, o que me fica pensando, lendo e ouvindo sobre a política de esperança (na construção de um país novo) desses “tempos de abril” da década de 1970 e o que observo hoje em dia, não tem comparação! Quanto mais não seja, pela contrastante falta de romantismo político! Esse romantismo que existiu no “pós-abril de 1974” e que resultou, também e inevitavelmente, da esperança altruísta de se construir um país novo, contraposta à agrura árida da aparente falta de ideais (públicos…pois privados, parece que sobejam!) que parece embaciar tudo o que é a vida pública do Portugal dos nossos dias…
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