Correio do Minho

Braga, quinta-feira

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Feliz, pacífico & corrupto

Arte, cultura e tecnologia, uma simbiose perfeita no AEPL

Ideias

2016-09-11 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Rendi-me às estatísticas sumárias. Este Verão fiquei a saber que Braga é a cidade mais feliz de Portugal, e honrosa medalha de bronze no concerto europeu, que Portugal é o quinto entre os mais pacíficos, num alinhamento de 163 países, o mesmo Portugal que a Ernst & Young posiciona num vexatório quinto lugar pelo prisma da corrupção. Bem sei que a consultora só cotou 38 países, mas ainda assim não é certificado que se pendure com orgulho na sala de visitas.

Admito que a tranquilidade geral do País toque tanto a Braga como às restantes cidades nacionais, talvez até um pouco mais, por não se conhecerem por cá tensões étnicas ou raciais. Não sei, por outra, quanto do patriótico negócio da corrupção nos caiba a nós, bracarenses: estaremos em linha com o índice nacional? Seremos tanto ou menos susceptíveis ao envelope por baixo da mesa, ao passeio temático a Lyon, à bola de borla?

À mesa do café, durante anos a fio trocamos comentários jocosos sobre negócios e negociatas, sobre arranjinhos em nome dos quais a cidade acabava desarranjada, a exemplo dos fluxos de tráfego que se desviavam para favorecer determinada superfície comercial, de certa solução de parqueamento… Pouco além posso ir, eu que não sou munícipe particularmente informado. Sei, naturalmente, que há por aí umas contas de morosa explicação envolvendo auto- carros, e acertos que nunca viremos a conhecer sobre loteamentos.

Enfim, até pode ser tudo invejidades e más-línguas, que pessoa sensata e pacífica devesse a todo o transe ignorar. Mas eis senão quando tomba-nos do céu um diploma olímpico na exigente disciplina dos três mil metros com luvas e canastras de robalos. E me pergunto: mas o que é que é feito dos papeluchos do Panamá? É assim, se aquilo é um deserto, pois tamanho vazio seria fácil de escarrapachar - nada na mão, nada na manga, tudo bons rapazes dentro de portas. O sarilho é que nos cheira que, quem está por dentro, deu em engonhar, sabe-se lá em nome de que escandaleiras que urja evitar.

Dar-se-á o caso de haver ‘liberalidades’ superiores a quinze milhões de euros? Será que por lá se encontram os padrinhos de baptismo de um tal Jacinto Capelo Rego?
Refém de iguais impaciências, anuncia o governo dinamarquês que comprará os ficheiros relativos aos seus nacionais. Tenho para mim que o ministério das finanças da Dinamarca possua indícios de que o investimento valha a pena. No mínimo debelarão o clima de suspeita que impenda sobre um lote de inocentes. Não sei se o governo português tem o arroubo de enveredar pela mesma linha, mas acho que não, pela forma atabalhoada como exonerou de culpas os secretários-de-estado que fizeram o ida-e-volta à meia-final.

Eu sei que é tudo gente chegada, e que amigo do peito que se preze não deixa cair na valeta camarada de juízos turvados. E até há um certo espírito cristão que eu deveras valorizo - o pecador retrata-se, penitencia-se, e, liberto da iniquidade, fica homem e estadista vacinado, imune a tentações e ao desonroso caminho da prevaricação e do vício. O drama é que não me parece que a vida pública vá de teologias, para mais quando com grande mascarada se aprova um código de conduta que permite aos agentes governamentais embolsar ‘simpatias’ até à centena de euros, um pedaço acima do que em tempos se achou decente para as ‘liberalidades’ das farmacêuticas aos médicos do SNS.
Bem, ao menos sou feliz!

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