A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2020-11-02 às 06h00
A situação de calamidade continua em vigor, mas agora 121 concelhos têm o dever cívico de confinamento. Os especialistas dizem que o pior ainda está para chegar. Iremos, certamente, atravessar um longo e duro inverno. É preciso que todos tenham a consciência de que o combate se faz a partir de cada um de nós.
Sempre me causou perplexidade ouvir certas pessoas dizer que fizeram isto e aquilo, mas tudo em muita segurança. Por isso, se permitiam ir de férias para longe, almoçar em restaurantes com amigos ou organizar convívios alargados em casa... Ora convém lembrar que tudo isso comporta riscos, nesses casos até em grau considerável, porque muitas dessas vivências se fazem sem máscara e em ambiente de alguma proximidade física. Ora, é para o recato da casa e para a redução drástica do convívio social que somos agora convocados. Porquê? Porque o número de infetados e de internados está a aumentar consideravelmente. Sabemos já que alguns hospitais estão perto de atingir a totalidade das camas disponíveis para doentes Covid. É preciso, pois, acautelar que não haverá ruturas na capacidade de internamentos hospitalares.
Não serão fáceis os próximos tempos. Estamos cansados deste tipo de vida, mas, como ontem sublinhou o primeiro-ministro, os profissionais de saúde estarão mais cansados de lutar pelas nossas vidas. Neste contexto, o mínimo que podemos fazer é tomar a sério as medidas de prevenção: usar sempre a máscara, manter distanciamento físico relativamente a terceiros, higienizar as mãos, respeitar a etiqueta respiratória, evitar ajuntamentos. E nunca prevaricar nestes cuidados. Uma exceção pode ser fatal.
Muitos de nós regressaremos ao teletrabalho. Outros manterão certas rotinas. É o meu caso como professora da Universidade do Minho. Sou defensora do modelo de aulas presenciais, quando asseguradas as condições sanitárias. Nos casos do pré-escolar e dos ensinos básico e secundário, a frequência física da escola é fundamental para a aquisição de conhecimentos e para o equilíbrio emocional dos estudantes, principalmente dos mais novos. Sou mais crítica em relação às universidades. Se as aulas laboratoriais exigem um regime presencial, as aulas teóricas e teórico-práticas podem ser feitas em regimes alternados, com grupos reduzidos de alunos. Estarão asseguradas as condições mínimas, quando há 50 alunos em pequenos anfiteatros e quando pelo mesmo espaço passam diariamente quase cem pessoas? Tenho muitas dúvidas acerca disso. Penso mesmo que, nestes casos, estamos a pisar ostensivamente linhas vermelhas, pondo em risco a saúde de muita gente. Em caso de surtos, há responsabilidades que nunca poderão ser ignoradas.
É em situação de risco que vivemos agora. Como escreve Slavoy Zizek, no livro intitulado “A pandemia que abalou o mundo”, este vírus está a atacar os alicerces das nossas vidas, provocando não só uma quantidade exorbitante de sofrimento como um caos económico, possivelmente pior do que a Grande Recessão. Este fim-de-semana, o “Jornal de Notícias” fazia esta manchete: “centenas de hotéis por todo o país vão fechar no inverno”, calculando que só no Algarve encerrem durante esta época 70 por cento dos hotéis ou empreendimentos turísticos, ou seja, mais de 300 unidades. Com as novas regras que entrarão em vigor a partir de quarta-feira numa parte substancial do país, muitos cafés e restaurantes entrarão numa crise profunda. A esta sociedade do cansaço juntar-se-á uma sociedade afundada em dívidas. Vamos atravessar tempos muitos duros.
Num outro livro lançado este verão a propósito deste tempo, Ivan Krastev fala-nos de um “Futuro por contar”. Ao desastre sanitário e à profunda crise económica, este politólogo junta “consequências políticas extremamente difíceis de prever”. Este futuro por vir esboça-se em perigosos traços de múltiplas ameaças. Há, pois, que erguer barreiras aos níveis coletivo e individual. A cada um de nós, lança-se este repto: o de salvar-se a si próprio e, através de gestos de proteção individual, salvar os outros.
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