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Flop 29?

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Flop 29?

Escreve quem sabe

2024-11-30 às 06h00

João Ribeiro Mendes João Ribeiro Mendes

A COP 29 em Baku, Azerbeijão foi um gigantesco fiasco. A bem dizer, também as anteriores vinte e oito. Como bem assinalou o The Guardian no editorial de 17/11/2024, estas cimeiras tornaram-se sinónimas de muito paleio e nenhuma ação. O que conseguiram em três décadas foi uma mão cheia de coisa alguma. As emissões globais de gases de efeitos de estufa nunca pararam de aumentar, os sequestradores de carbono continuam a degradar-se e bastantes cientistas dão já como muito provável a ultrapassagem dos 2,9ºC de aquecimento global até 2100, longe, portanto, dos idealizados 1,5ºC.
Agora que muitas vozes começam a criticar o modelo falido das COP antevejo que as autoridades lusas, incluindo o presidente da CMLisboa, vão anunciar um dia destes que consegui- ram garantir a realização da COP 31, logo a seguir à próxima no Brasil, enterrando mais uns milhões valentes de euros do dinheiro de todos nós contribuintes como na inútil Web Summit. Curiosamente, ou talvez não, nunca encontramos quaisquer relatórios independentes sobre o efetivo valor económico estes eventos para o país. Aposto que, entre o que metemos e o que recebemos, saímos a perder e muito.
Foi penoso constatarmos que no COP 28 em Sharm El Sheikh, o ano passado, no Egito, o número de aviões, de carros de alta cilindrada e de meios informáticos utilizados pelas inúmeras vedetas que foram fazer de conta estar interessadas nos distúrbios climáticos do planeta contribuíram, e de que maneira, para agudizar o problema que cínica e hipocritamente afirmam querer tratar. Ponho-me aqui ao lado do filósofo esloveno Slavoj Žižek: temos de ter a coragem de desesperarmos desta gente. Deram provas repetidas e sistemáticas de não contribuírem produtivamente para a crise climática.
Com o trumpismo de regresso, nada abonatório do grande povo estadunidense, prevê-se que em matéria climática tudo piorará de modo acelerado. Não que seja muito preocupante a saída anunciada dos EUA do Acordo de Paris (2015). É dejá entendu. E a bem da verdade, nenhum dos signatários realmente se empenhou em cumprir as metas estabelecidas, mas, com malabarismos retóricos, políticos e legais, foram criando ilusões a esse respeito, embora eu nem perceba bem para quê. O Acordo de Paris foi sempre um nado-morto.
O que mais inquieta no trumpismo é o seu duplo lema: “America first” e “make America great again”. A América não precisa de voltar a ser grande, porque nunca deixou de o ser. Mas na visão daqueles que vão fazer parte da administração do 47º presidente dos EUA, incluindo obviamente o próprio Trump, o mundo é um lugar de pilhagem para sustentar o “American way of life” que ficcionaram. Não nos iludamos, a ideia de que os EUA vão regredir para uma política não intervencionista ou isolacionista, em todo o caso não internacionalista, é um engodo. O trumpismo só pode manter a sua seita internamente pacificada fazendo saques económicos e financeiros externamente. Como perspicazmente assinalou Timothy Snyder na primeira linha de On Tyrany: “History does not repeat, but it does instruct”; recordemos, pois, que o princípio do fim do Império Romano se deu quando Lúcio Aurélio Cômodo sucedeu em 166 ao seu pai Marco Aurélio e, ignorando todos os seus conselhos e dos mais brilhantes senadores e militares do tempo, colocou Roma em primeiro lugar e tentou torná-la grande novamente.
Sem as COP, o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) o que vai acontecer relativamente ao combate concertado às alterações climáticas? Suponho que nada de relevante, como até agora, mas, quiçá, inventem novas COP, outro Acordo e mais ODS.

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