A Economia não cresce com muros
Ideias
2016-01-21 às 06h00
Educação, Formação, Emprego, Produtividade, Rentabilidade, Sucesso, Felicidade...
Poderia eu prolongar a enumeração de palavras-chave por recurso às quais bem descreveríamos o estado de uma sociedade, as perspectivas que cria ou os becos sem saída em que cai.
Poderia eu ouvir fino orador palestrar horas a fio sobre estes assuntos, desejavelmente concordando e ansiando por ver obra em marcha, ou, quem sabe, à falta de boa fórmula e dose conveniente, arriscar eu qualquer coisinha da minha lavra, que de ideias não sofro grande míngua.
Ideias até idiota tem, é verdade, e mesmo a espíritos sadios não raro dá-lhes para imaginar que tudo o que pensam e aplicam tem o selo da suprema genialidade. A História, porém, é inclemente para a maioria.
Com a última advertência a bailar-me nos ouvidos - advertência para mim, e para quem me possa ler, para que me descontem presunções e me fustiguem erros - permito-me dizer o que a seguir expresso.
Escrevia, recentemente, que gratuita deveria ser a educação superior, e é assunto pelo qual não me quero alongar. Gratuita, ambiciosa, qualificante, para que, uma vez lançados na vida activa, retornassem os ex-alunos com os seus impostos, com a rentabilidade das empresas para as quais trabalhassem - dos serviços da administração pública em que se empregassem -, os recursos de que haviam usufruído com êxito. Conheço as objecções ao modelo e não lhes respondo, basta-me saber que existe, e que tire dúvidas quem queira onde ele está em vigor.
Os cuidados com o ensino superior, universitário ou técnico, com a formação profissional, coxos ficam se grandes ambições não forem dirigidas às etapas anteriores pelos gabinetes ministeriais, pelas autarquias, pelas famílias, ambições que suportem e dêem forma às aspirações dos alunos ao longo do seu processo de transformação e autoconstrução.
E neste pé nos perguntamos, então, se nas nove primeiras mangas da corrida escolar tudo se processa com invejável eficácia. Falarei de memória, por desdita, porque a dado ponto se decidiu que valor algum teria eu para prosseguir com actividade profissional dentro do quadro da Educação. Ora, já nesses tempos havia lacunas e sintomas - o insucesso, o abandono, a indisciplina... e não é de crer que em anos consecutivos de rapa-tacho as coisas tivessem melhorado por aí além.
Para que a Escola reganhasse autoridade, para que as aprendizagens fossem reinvestidas de seriedade, entendeu-se reforçar as avaliações, retomar exames, publicar rankings.
Avaliações são festas, e mais elas sejam - melhor. Só que a verdadeira questão não reside nas avaliações ou no peso que elas tenham no escalonamento de alunos e escolas, na forma como ditem passagens ou reprovações.
Entendamo-nos: um aluno pode fugir à Escola, pode desprezar professores, pode escarnecer das matérias, no fundo - pode dar-se a bom trabalho para reprovar. E reprova!
Esse também é um aluno que interesse à psicologia, e tudo haveria um técnico de intentar para que ele revisse a sua estrutura de valores. Mas, para além do aluno que reprova porque não investe, que mal aprende porque não se dá à pachorra, há toda uma série de alunos que acumulam desfasamentos porque distam estruturalmente das competências que a Escola melhor trabalha e bem quer avaliar.
Se ninguém abre a boca de espanto perante o facto de que diferimos uns dos outros, se é certo que a Escola bem corre aos indivíduos que têm em alta as competências verbais, o raciocínio abstracto, porque é que a Escola permanece singular, quando bem haveria ela de ser plural? Porque é que os alunos que atrasam - e diríamos então: inevitavelmente - têm de ser alvo de medidas remediativas, quando melhor deveriam ser objecto de didácticas distintas e objectivos ajustados?
Trabalha a farmacopeia com doses: um miligrama não traz resultados, dez miligramas curam, vinte - matam! Pois na Educação é quase igual: pouco ou mal estruturado não aporta evolução e percepção fundada de competência, muito e de uma forma só - distorce, adultera. É tudo uma questão de fórmula e de doses, na realidade.
Seria a Educação um dos desígnios de Abril, e promoveria o Homem a Democracia, porque o amesquinhara a Ditadura, e seriam os netos um tudo diferentes dos avós. E qual é o resultado?
Confesso que não tenho ferramentas para avaliar o que se passou, nem me permito distribuir incompetências a torto e a direito, a ministros e a pedagogos. Estou ciente, também, que a cada crítica que se formule, logo aparece exemplo de operação bem montada, como quem diz, algo se aprimorou, e algo ainda continua pela frente.
Como quer que seja, julgo esgotado o modelo em que o desenho do processo educativo é confiado a sábio ministro e a colégio de bem-falantes eruditos. A Educação e a Formação consumam-se no bom resultado - cultura, competência, adaptabilidade, eficácia. E, a não ser assim, tudo está mal. Mal-estar com o qual convivem pais em casa, mal-estar que não conhecem ministros que são pais, eruditos que são pais, por certo, porque por outros corredores teriam passeado os deles.
Assim, para contrariar o que falha vindo de cima, melhor faríamos todos se nos interessássemos por estes assuntos, melhor fariam as autarquias se reclamassem ter uma séria palavra a dizer sobre a Educação e a Formação, sobre a valorização dos recursos humanos reais que habitam dentro das suas fronteiras.
E nem é difícil.
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