Um batizado especial
Ideias
2023-07-08 às 06h00
Em 2010, em Potsdam (uma cidade do leste da Alemanha), a então Chanceler Angela Merkel, fez um discurso sobre o estado da nação (alemã) no contexto de um debate público e político sobre a imigração e a integração de imigrantes. Esse debate, virulento e mobilizador quer da classe política, quer da opinião pública interessada, eclodiu na sequência da publicação de um livro de Thilo Sarrazin, antigo senador e membro do Conselho de Administração do “todo poderoso” e intocável Bundesbank (Banco Central alemão), no qual o dito autor afirmava a pretexto da temática referida (imigração e integração) que a “Alemanha está a autoliquidar-se”.
Os argumentos de Sarrazin passavam, em grande parte, por questões demográficas. Partiam de observações e de de factos relativamente aos quais aquele antigo senador fazia uma interpretação, no mínimo, “politicamente incorreta” – porém, abrindo a porta, mesmo, para uma certa estigmatização (discriminação) relativamente aos imigrantes. A sua “ideia – força” era a de que em função da baixa taxa de natalidade dos alemães, um excesso de imigração - “importando-se” comunidades que, por tradição e por instrução (ou, dizia Sarrazin, por falta dela) tinham, ao invés, uma natalidade pujante - acabaria por descaraterizar a natureza da sociedade alemã. Sendo maioritariamente muçulmanos e desenvolvendo uma cultura e um modo de vida que nada tinham a ver com os hábitos alemães (e europeus), rapidamente esse desequilíbrio demográfico mudaria a natureza da sociedade e, por conseguinte, da política e do próprio Estado alemães.
Ora, Merkel, no referido discurso, acabou por verbalizar, com um eco forte por toda a Europa, aquilo que se sabia e se sentia, em vários Estados-membros (nomeadamente, em França): a política do multiculturalismo, tal como este tinha sido entendido e praticado até então, era um fracasso e mostrava-se incapaz de fomentar a integração de estrangeiros. Uma ideia de multiculturalismo sem integração, em que os Estados acantonavam, com melhores ou piores condições de vida, imigrantes, sem os orientar e permitindo que continuassem a desenvolver os seus hábitos (mesmo, por vezes, absolutamente ilegais – vg. poligamia, casamentos com menores - no estado de acolhimento), só poderia levar à desintegração. Um multiculturalismo que significava, na prática, ceder o respetivo território (da Alemanha e da Europa) a várias comunidades de plúrimas origens, nomeadamente, muçulmanas, para construírem (por inação do Estado) pequenos “micro-estados”, desligados e mesmo em antagonismo com a realidade circundante. A questão não era a do acolhimento; a questão fulcral seria a do acolhimento com condições (promovidas pelos poderes públicos) para uma integração com sucesso. Os estrangeiros não tinham que abdicar da sua cultura de origem, porém, tinham, também, que se rever na cultura e no “modo de vida” do país de destino... que também era o deles, que o deveriam sentir também como sendo seu!
Os acontecimentos recentes de França, provocados por um ato de violência policial (sendo certo que não respeitar uma “operação stop”, da forma que vimos e naquele contexto, também será uma “atividade de risco”, digo eu!), reavivaram essa discussão. Novamente, pela enésima vez, falou-se da desintegração das comunidades dos subúrbios das grandes cidades francesas, de origem sobretudo magrebina; essas pessoas, jovens (muito jovens) não entendem a França como sendo delas. E nem será uma questão de pobreza. É, sobretudo, uma questão cultural, de educação e de revolta social. Simultaneamente, de sentimentos de falta de pertença e de desigualdade social.
Mas, sejamos realistas: muitas vezes, o que parece, efetivamente é o que é! É também (ou talvez seja uma consequência dessa desintegração) um problema de cultura pró-criminal. França também se debate com um problema de criminalidade juvenil. Por falta de integração em “valores franceses” desses jovens adolescentes? Por lacunas do sistema de ensino? Note-se que a maioria dos adolescentes, filhos ou netos de imigrantes, em França, não anda a vandalizar, a pretexto de uma reação contra a violência policial, ruas, equipamentos públicos. A maioria dos adolescentes de origem estrangeira não anda a pilhar lojas (de certos símbolos icónicos desses adolescentes), para os revender, no dia seguinte, nas ruas e a metade do preço. Não é previsível, muito menos aceitável, que jovens de 14 anos andem armados!
Em resumo, antes de mais, imediatamente, existe um grave problema de “bolsas” de criminalidade juvenil, em França. Mas, para além ou na origem disso, há que corrigir uma má política de integração, de multiculturalismo de inação e de relativismo. Há que enfrentar uma verdadeira política de imigração e de refugiados em França e, vigorosamente, na Europa. Ora, o Acordo entre a maioria dos Estados-membros sobre o “Novo pacto sobre migrações”, alcançado em junho, no Parlamento Europeu, pode ser uma peça importante (ou não!). Voltaremos a esse Acordo, oportunamente…
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