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Fui ver... e fui ler...!

Analogias outonais

Fui ver... e fui ler...!

Escreve quem sabe

2024-09-10 às 06h00

Cristina Palhares Cristina Palhares

Fui à fonte lavar os cabelos / Minha mãe, e gostei eu deles / E de mim, também. / Fui à?fonte?as tranças lavar / E?das tranças pus-me eu a gostar / E?de mim, também / Lá na fonte, onde eu gostei deles / Vi o dono dos meus cabelos / E de mim, também. / Lá na fonte, antes que eu partisse / Gostei tanto do que ele me disse / E de mim, também. Assim terminou a sua comunicação Rui Trindade, num poema do nosso cancioneiro eternizado por Amália Rodrigues, no VII Encontro Supertabi – um encontro internacional sobre inovação pedagógica em 2022. Porque o transcrevi novamente hoje? Para que nos lembrássemos todos, agora que iniciamos o ano letivo, como gostamos de nós. De nós, de nós professores, do que somos, do que parecemos, do que espelhamos, do que espalhamos, do que fazemos, do que dizemos e do que dizem de nós. Porque somos felizes e espelhamos e espalhamos essa felicidade. E para contrabalançar com as primeiras palavras do IX encontro deste ano, a Diretora do Agrupamento de Escolas de Gonçalo Mendes, Sónia Soares, dividiu a sua intervenção em três características que encontra nos professores: desassossego, desapego e desinteresse. O professor desassossegado, aquele que procura formas de fazer diferentes (tal como o projeto SUPERTABI), porque quer aprender, porque quer ouvir para se desassossegar. O desassossego como inquietação intelectual e/ou emocional de quem nunca se acomoda. O professor que sente a necessidade de inovar e adaptar a aprendizagem às mudanças do mundo e às necessidades dos seus alunos, evitando assim a rotina e as práticas tão antigas quanto enfadonhas. Enfadonhas sim, porque não colocam em ação as 7 maravilhas da aprendizagem do livro “Ninguém aprende de trombas!”. Destas 7 maravilhas (logo no início do livro) a minha atenção prendeu-se, em duas delas (as 5ª e 6ª maravilhas). Talvez pela sua sonoridade, pela sua dualidade e significado que apenas difere numa vogal: ESPELHAR e ESPALHAR. 5ª maravilha: ESPELHAR para aprender! 6ª maravilha: ESPALHAR o gozo pela obra! E se o espelhar é o efeito mimético da interação (colocar brilho nos olhos dos nossos alunos porque os nossos brilham) o espalhar é a conquista, o gozo que advém da obra, da resolução do problema. Já em 2022 Mitch Weisburgh nos tinha recordado o estudo das neurociências sobre os neurónios-espelho - “ativam em nós exatamente aquilo que vemos noutra pessoa: as suas emoções, os seus movimentos e até mesmo as suas intenções”. Estes neurónios-espelho copiam em primeiro lugar o que as pessoas sentem, em segundo lugar o que as pessoas fazem e em último, o que as pessoas dizem. O espelhar e o espalhar são também facilmente visíveis na palavra MOTIVAÇÃO: aliás uma palavra composta por duas “MOTIVO + AÇÃO”. E assim a aprendizagem que espelha (motivo) e espalha (ação) traduz o desassossego de todos nós. Voltando às três características de Sónia Soares, olhamos agora para o desapego: o desapego quando o professore usa e reitera deliberadamente a expressão “nem só”: nem só papel, nem só digital; nem só “sala em autocarro”, nem só trabalho em pares, nem só trabalho em grupo; nem só lápis, nem só rato; nem só alunos calados, nem só alunos a falar. Atrever-me-ia a dizer pela positiva: “Mas também”: mas também papel e computador, mas também trabalho individual e trabalho em grupo; mas também lápis e rato; mas também calados e a falar. MAS TAMBÉM. Porque o professor desapegado tem a capacidade de não se prender rigidamente a métodos, ideias ou aos próprios resultados dos alunos, aceitando que o processo de aprendizagem é dinâmico e muitas vezes imprevisível. E a terceira característica, com algum sentido de humor, o professor desinteressado: desinteressado, porque ser professor é mesmo por amor, não por interesse! O "amor" à profissão está relacionado com a dedicação, o cuidado e o compromisso com a aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos, independentemente das recompensas financeiras ou do prestígio social. O professor desassossegado porque inquieto, desapegado porque diferenciador e desinteressado porque envolvido. Nas palavras de Mitch Weisburgh a motivação e consequente envolvimento está associada à palavra “fun” – divertido. O contrário de divertido é aborrecido. Diversão é oposição a aborrecido e não a trabalho. Diversão pode ser trabalho árduo. Porque quando a escola é desmotivadora, aborrecida, o trabalho é penoso, o esforço envolvido é mínimo e os resultados são medíocres. Se os alunos estiverem aborrecidos ou desmotivados, que tipo de esforço colocam no estudo? Professores e alunos necessitam de diversão, de alegria. E nós sentimo-nos felizes, motivados e divertidos. E como “Ninguém aprende de trombas!”, e como o conhecimento quadruplica a cada dois anos e meio (p.90), que venha a IA para permitir que os professores tenham mais tempo para se concentrar na interação humana, no desenvolvimento criativo e na personalização do ensino. Nas palavras de Mitch Weisburgh: “Have an awesome year!”. (Tenha um ano incrível!)

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