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Escreve quem sabe

2024-11-05 às 06h00

Cristina Palhares Cristina Palhares

Fui ver o Museu da Memória de Matosinhos, e fui ler “Nexus - História Breve das Redes de Informação da Idade da Pedra à Inteligência Artificial” de Yuval Noah Harari

Promovida pela Câmara Municipal de Matosinhos, na receção aos professores novos do seu concelho para este ano letivo, a visita ao Museu da Memória de Matosinhos esteve recheada de honestos momentos na excelente utilização da inteligência artificial - que bela viagem! A possibilidade de explorar a história local através de experiências imersivas, como a viagem virtual, mostra que a IA pode ser uma ferramenta poderosa para transformar a aprendizagem em algo vivo e participativo. É um lembrete de que as possibilidades são infinitas quando professores e alunos são capacitados para utilizar as novas tecnologias de forma criativa e crítica. Assim o foi para mim. A experiência de visitar espaços inovadores como o Museu da Memória de Matosinhos é um exemplo inspirador de como a tecnologia pode ser usada para criar uma conexão viva entre o passado e o presente. Esta utilização da IA e da realidade virtual cria uma experiência imersiva, demonstrando o potencial das tecnologias em proporcionar um ensino que vai além do tradicional. Imaginemos como seria poder integrar este tipo de interatividade na sala de aula, levando os alunos a explorar a sua história e o mundo de forma envolvente. Não basta usar um projetor ou um software qualquer. Como exemplificam Caeiro e Trindade, num artigo no Observador, “numa aula de história, em vez de simplesmente usar um monitor/projetor para exibir um recurso audiovisual, um professor pode utilizar realidade virtual ou aumentada para levar os seus alunos numa ‘viagem’ virtual às antigas civilizações”. Desta visita à compra do livro foi um pequeno passo. Precisava perceber até que ponto o meu entusiasmo pela IA Generativa (e o meu interlocutor ChatGPT) seria uma visão demasiado ingénua e otimista ou, no seu oposto, uma visão mais populista, cínica até, nas palavras de Harari. Desde a gestão de prioridades, que me lembram sempre aquilo que a educação é, apenas e tanto, até à implacabilidade (“a rede não dorme”) e infalibilidade (a rede costuma enganar-se) Harari adverte: “Criar redes mais sábias implica apenas dizer não à visão ingénua da informação, bem como à visão populista; renunciar a fantasias de infalibilidade; e comprometermo-nos com a tarefa árdua, mas, no fim de contas, banal de construir instituições com mecanismos autocorretivos eficazes. Creio ser essa a ideia mais importante que se extrai deste livro.” Da democracia ao totalitarismo, um ponto interessante do livro é a reflexão sobre as consequências da partilha e manipulação de informações: como o acesso a dados e o controle das redes de informação podem ser tanto uma ferramenta de emancipação como de opressão. Harari questiona ainda o impacto das redes modernas na privacidade, na liberdade de expressão e na própria ideia de verdade num mundo hiperconetado, deixando no entanto a janela aberta: “em função das decisões que tomarmos nos anos que se avizinham, fazer surgir esta inteligência estranha ao Homem revelar-se-á um erro fatal, ou o início de um novo e prometedor capítulo da evolução.” Vou acreditar, tal como ele, que a escola será uma instituição com mecanismos autocorretivos eficazes. Mas como? Na nossa viagem “virtual”, vivenciamos uma experiência significativa. Caeiro e Trindade diziam: “Esta é a diferença entre uma aula passiva e uma imersiva, onde o conhecimento é vivido e não apenas memorizado. O uso de tecnologias como a realidade aumentada, plataformas de ensino online e recursos de IA pode proporcionar aos alunos experiências de aprendizagem únicas e estimulantes. No entanto, isto só é possível quando os professores são treinados para utilizar essas ferramentas de forma pedagógica e integrada.” Não basta treinar, antes mesmo é preciso querer. Querer saber, querer aprender, querer formar-se. É essencial um plano de formação para professores que se foque em três domínios: competências pedagógicas, tecnológicas e de cidadania digital. Sem isto, como poderão os professores guiar os seus alunos em ambientes digitais de forma segura e ética? Numa era onde a privacidade e a segurança são tão importantes, o professor não pode ser apenas um transmissor de conteúdos; deve ser um facilitador de uma aprendizagem digital crítica e consciente. Caeiro e Trindade reforçam que “a integração da inteligência artificial nos contextos educativos [...] exige uma reavaliação urgente das metodologias pedagógicas e do papel dos educadores na era digital”. Esta necessidade de reavaliação vai além de uma simples atualização de conhecimentos; trata-se de uma transformação completa da prática educativa que coloca o professor como um guia num território novo e, por vezes, desconhecido. Além disso, é fundamental que os professores compreendam as implicações éticas da IA. Harari destaca que “a IA não é infalível” e que confiar cegamente nela pode levar a erros e abusos de poder, como aconteceu com outras tecnologias ao longo da história. É por isso que o papel do professor na era digital é, mais do que nunca, o de um crítico e mediador informado. Este papel implica a capacidade de ensinar os alunos a questionar as informações, a entender como a IA funciona e a reconhecer tanto as suas potenciali- dades como os seus perigos. Harari alerta-nos para a falácia de ver a IA como uma panaceia infalível: “a inteligência artificial não é infalível”. No entanto, ignorá-la seria pior. Tal como Caeiro e Trindade sublinham, a formação dos professores deve preparar para um uso pedagógico crítico, de forma que as tecnologias não sejam meras ferramentas, mas sim elementos que potencializem o ensino. Ignorar estas mudanças significaria deixar os alunos mal preparados para o futuro que já está a moldar-se à nossa volta. Na nossa gestão de prioridades, há que transformar a sala de aula!

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