Entre a vergonha e o medo
Escreve quem sabe
2021-09-29 às 06h00
Esta é uma semana de reflexão, finalização e preparação. Coisas importantes decorreram nos dias anteriores, coisas que sendo de amplitude «macro» se espelham no nosso «micro» quotidiano. Coisas que se fizeram, coisas que não se fizeram, coisas que se esperaram, coisas que não foram esperadas. Coisas que se desejaram e coisas que foram conseguidas. Outras que não, que ficarão para uma próxima vez. Ou talvez também não. Esta semana, ainda sendo setembro, também é uma semana de recomeços.
Encontramo-nos no rescaldo das eleições para as autarquias e este ano observámos, penso, uma certa moderação nas campanhas. Estas foram sendo cozinhadas em lume brando e não assistimos aos habituais «atrevimentos» tão divertidos que se deram em anos anteriores. Talvez seja da ação pandémica, mas na verdade tudo se foi passando com muita serenidade. É óbvio que em alguns locais as atividades eleitorais se estabeleceram com um pouco mais de força, em particular nas terras mais pequenas. A política local desses sítios é, habitualmente, muito interessante, e, de maneira análoga, interesseira.
As obras são uma bênção que vai caindo dos regimes autárquicos nos meses que antecedem as eleições. É um sem número de estradas cortadas, recortes nos edifícios, cosmética de parques e até a implementação de passadeiras 3D – um luxo, pelos vistos. Pena é que a saúde dos munícipes nãos seja vista da mesma forma e não se façam nesse âmbito umas obras de valor para assegurar o bem-estar da população. A saúde (sendo vista como direito e dever) esmorece, vai sendo camuflada pelas belíssimas festas com acordeão e concertina que se vão mantendo nos meios mais pequenos e mais rurais. A verdade é que, nesses locais, nos vão dando música, mesmo com a ausência de unidades de cuidados de urgência durante grande parte das horas que compõem o nosso dia.
Aquilo que mais me admira, a mim e a outros que vivem nesses sítios, são as reeleições e o fortalecimento dessas políticas. A oferta de serviços de saúde é precária, mas haja a festa para animar o povo, com direito à feira de gado no mesmo parque onde brincam as crianças e se fazem piqueniques: afinal, se a saúde se encontra nas ruas da amargura, não há razão para que a saúde pública se preocupe com esses pormenores. Detalhes, apenas meros detalhes que dão cor às experiências animadas da vida no campo.
Mas esta é apenas uma realidade, talvez idêntica a tantas outras que se vão vivendo no resto do país. Queixamo-nos, em geral, que o interior se encontra despovoado e carece de pessoas, dinâmica, movimento. Por isso, e porque conheço bem a realidade da vida mais a este e mais a oeste, fico incomodada pela contínua e forte atenção que os meios de comunicação social deram/dão às eleições que se realizaram nas grandes cidades do litoral, esquecendo-se por vezes que, a título de exemplo, para o munícipe de Freixo de Espada à Cinta é de pouco valor a luta Medina-Moedas e tampouco interessa ao habitante de Barrancos se o Rui Moreira ganhou novamente o cargo. Tendo em conta a condição geográfica, existe uma desigualdade no tratamento dos portugueses, que pode gerar no futuro graves problemas para o país, como por exemplo o aumento da pobreza nos grandes meios citadinos ou a séria limitação de acesso a serviços e recursos, em especial na esfera da saúde e da educação – aliás, estes problemas já são reais, não é preciso sermos visionários.
Nestes entretantos vamos refletindo, finalizando e preparando. A reflexão não nos vale de muito se as coisas continuam iguais: é necessário um maior espírito crítico e uma transformação dessas políticas tão enraizadas. É igualmente altura de finalizar, pois alguns sonhos foram caindo por terra; alguns não tinham suporte ou base, outros não eram viáveis. E é altura de preparar. Preparar o novo caminho que este ano letivo traz, especialmente aos novos universitários, e preparar os próximos quatro anos que se avizinham – há muito trabalho a fazer.
13 Junho 2025
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