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Gandhi, por Alexandre Fernandes

Premiando o mérito nas Escolas Carlos Amarante

Conta o Leitor

2011-07-13 às 06h00

Escritor Escritor

Tocam os sinos da igreja em consonância com o deep-house quente e deslizante que viaja sobre os bancos do jardim. Faz uma aragem cinzenta que invalida, desde logo, um perfeito estar. Não, não se está perfeitamente bem. Por obra do hábito, um fino entranha-se na complexidade do meu sistema digestivo e há quem garanta que desejava ter um melhor fim. As notícias também não são boas.

Parece que vai permanecer este conformismo social perante as agências que, alguns, uns quantos, apelidaram de rating. Apesar das tamanhas adversidades, que até os pássaros são funcionalmente capazes de constatar, o disco não riscou completamente e por isso a música vai continuar a tocar. Diz-se que (Gandhi disse - se não disse devia ter dito) no devorar da espera está o segredo para que o acontecimento assuma a sua posição desviante.

Todavia, e uma vez que, a melodia clarifica estados de espírito, densificando-os quando nublados e abrilhantando-os quando solarengos, o que se sucedeu a seguir foi um total e maiúsculo inesperado. Em forma de raio de luz, soltou-se um comunicado: Portugal saiu do lixo! Saiu com um cheiro nauseabundo porém, consciente e determinado a tomar banho. Está personificado na figura de Gandhi - figura estilística que retira logo à partida a ideia de que o banho possa ser longo e refinado - e está livre e promissor. Sim, promissor porque Gandhi tem ideias, tem cultura, tem tradição e até sabe jogar à bola.

Por isso, Portugal, que é Gandhi ou vice que versa, está menos lixado. Gandhi disse, também, que os novos devem permanecer solteiros, até que a vida os obrigue a casar. Neste instante, o fino exalta-se nas minhas entranhas pois, era capaz de jurar que Gandhi nunca disse tal coisa! Ressalva ” finomática” à parte, a verdade é uma (quem diz uma diz um cento), Gandhi, que, como sabemos é Portugal personificado ou vice que versa, consi-dera que nós, que é ele, em forma de continente, devemos permanecer autónomos até que a vida nos obrigue a mudar.

Nisto, entra uma bossa nova suave e florescente com esse encanto do sotaque brasileiro. Brasil, esse, que está personificado na figura de Sócrates (ficam por dissipar as dúvidas se estamos a falar do dr. Sócrates, craque do futebol brasileiro dos anos 80, se do dr. Sócrates, iminente filósofo grego, se do dr… perdão… algo - que-o-valha-Sócrates, ex-Primeiro Ministro português).

Este Sócrates de vestes verdes e amarelas atravessou o Atlântico, bronzeado e com cheiro a alecrim. Chegou com bom aspecto e já nem nos lembramos dos tempos em que com o ranho a confundir-se com a baba, chorava aos sete ventos para conhecer a Índia…de Gandhi…que é Portugal personificado. De sorriso largo e bem branco, estampado no rosto, este Brasil por sua vez, personificado num qualquer Sócrates ou vice que versa, está a cantarolar afinado e, a aragem cinzenta, há minutos atrás pertinente, até essa já abalou.

Apenas ficou o cheiro a alecrim no seu lugar. Bem-parecido e perfumado este Sócrates, fazendo-nos desconfiar que se trata de um Sócrates português. Ressalto na tripa. Talvez seja imprudente fazer a colagem de um Brasil alegre a um Sócrates que, embora bem-parecido e perfumado, não sabia cantar. Fino, tens toda a razão. Venha de lá então, esse Sócrates, seja ele qual for, cumprimentar este Gandhi careca e quase demente. Careca e demente?! Gandhi demente?! O fino voltou a vociferar escangalhando-me uma vez mais as tripas! Não, não é o Gandhi! É Portugal! Ripostei em surdina….

Demente és tu ó barbudo! Exaltou-se uma sopeira de Mirandela. Bem, não terá sido tão em surdina assim o meu desabafo…
Sócrates acaba de abraçar Gandhi. Passa para cá esses ossos! Ouve-se lá no fundo - imagino que esta tenha sido para o Gandhi.
Retiraram-se, com Sócrates a convidar Portugal para tomar um banho, lá em casa, no Brasil…

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