A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2023-10-16 às 06h00
Escrevo esta crónica depois de ver os noticiários da hora do almoço deste domingo. Em Portugal e no estrangeiro, a informação está centrada naquilo que se passa nas fronteiras de Israel e na Faixa de Gaza. Torna-se perturbador ver gente a pé ou em carroças a fugir da morte e mais doloroso ainda é escutar relatos de quem fala da impossibilidade de evacuar hospitais.
É já irreversível o ataque que Israel fará a Gaza. Por terra, mar e ar, os meios de combate serão pesados e impiedosos. Benjamin Netanyahu prometeu uma guerra mortífera e precisa e assegurou que destruiria o Hamas. E isso é para levar naturalmente a sério. No entanto, existe uma pergunta que permanece em aberto. Conseguirá Israel conquistar a paz nestes territórios ou acentuar-se-ão as divisões numa região que há várias décadas é devastada por sucessivos conflitos sangrentos?
Na quinta-feira, a revista The Economist anunciava em capa uma “Israel em agonia” e, num extenso artigo, refletia-se acerca do rumo que este ataque tomará. Ora, essa orientação depende de vários fatores, nomeadamente da extensão e intensidade da ofensiva, da capacidade do governo unificar um país profundamente dividido e da reação dos políticos do Médio Oriente e das potências mundiais...
Antes de atravessar fronteiras para fazer a guerra, o primeiro-ministro israelita procurou apoios de peso. Esta semana, recebeu dentro de portas as presidentes da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu e o Secretário de Estado Norte americano Antony Blinken. Ao seu lado, todos sustentaram a sua posição e garantiram meios de auxílio. Todavia, este suporte da Europa e dos EUA não é suficiente para Israel criar uma ideia global favorável a si.
A Ucrânia, sobretudo o seu presidente, deu recentemente lições importantes no que diz respeito à constituição de uma opinião pública que, à escala mundial, influencia decisões políticas, interfere em negociações diplomáticas e agita consciências individuais como nunca antes aconteceu.
No entanto, as diferenças são abismais. Israel não é o país que terá tanques de guerra e militares em território nacional perfilados para tudo destruírem e Benjamin Netanyahu em nada se assemelha a Volodymyr Zelensky, principalmente ao nível daquilo que são as suas competências de comunicação e ao conhecimento que tem sobre o impacto de mensagens mediáticas estrategicamente disseminadas com determinado fim e, por isso, sempre planeadas com cuidado.
Observando aqueles que se deslocam do norte para sul da Faixa de Gaza, é difícil não sentir uma compaixão por esses milhares de pessoas em sofrimento e isso constitui um sério problema na criação de uma opinião pública favorável a Israel. Ontem, os média lembravam que há 50 mil grávidas nesse território às quais se juntam muitas crianças, idosos e doentes para quem a fuga à velocidade imposta é impossível.
Custa muito acompanhar estes relatos, porque eles não nos são obviamente indiferentes. É verdade que Israel não poderia ficar paralisada perante o ataque do Hamas, impondo-se, por isso, uma reação imediata que, para ser eficaz, deve ser determinada. Ou seja, a guerra apresentou-se, desde o início, como inevitável. E isso é terrível para todos nós.
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