O estado do emprego e desemprego em Portugal
Escreve quem sabe
2024-11-07 às 06h00
António Guterres, no exercício das suas funções como Secretário-Geral da ONU, tem demonstrado um comportamento profundamente dececionante.
Primeiro porque adotou, desde o início do seu mandato, uma retórica alarmista sobre as alterações climáticas, com sucessivos anúncios de que havíamos atingido o ponto de não retorno, sempre seguidos de contraditórias declarações de que afinal sempre há esperança. Essa perigosa ambivalência tem prejudicado o ativismo climático e contribuído para um crescente sentimento de desânimo
Em seguida, revelou um mal disfarçado antissemitismo. Logo após os eventos de 7 de outubro de 2023, mostrou-se aquém das responsabilidades do cargo, pois, em vez de condenar com a veemência necessária o morticínio de cerca de dois mil israelitas, sugeriu, de modo indecoroso, que esse destino trágico fora merecido. Tem sido penoso ver Guterres a esforçar-se por não pronunciar o nome das organizações criminosas Hamas, Hezbollah e Houthis, apaniguados do regime iraniano, reconhecido por seu desrespeito aos direitos humanos, como se elas não existissem. Mais recentemente, a 1 de outubro deste ano, não expressou um repúdio claro ao ataque de mísseis lançado pelo Irão contra Israel, tendo-se limitado a um vago apelo à paz no Médio Oriente. Não surpreende, pois, que, ato contínuo, tenha sido declarado persona non grata pelo Estado judaico.
A 25 de novembro, durante a Décima Sexta Cúpula Anual do BRICS 2024, realizada em Cazã, na Rússia – a meio caminho entre Moscovo e Ecaterimburgo – Guterres voltou a não ficar bem na fotografia quando apertou a mão de Putin e, incrivelmente, se inclinou perante ele. O pior, contudo, foi não ter feito o que devia: ter dito, olhos nos olhos, ao ditador russo, que deve parar imediatamente os ataques à Ucrânia, retirar os seus mercenários do país, pagar as devidas indemnizações aos ucranianos e entregar-se às autoridades para ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional pelo crime de guerra de transferência forçada de crianças, conforme o mandado emitido em 20 de março de 2023.
Ao ouvir Guterres pedir em Cazã “uma paz justa de acordo com a Carta da ONU, o direito internacional e as resoluções da Assembleia Geral” para a ocupação russa da Ucrânia, não pude deixar de notar o quão tíbias e dissonantes essas palavras soam, especialmente em comparação com aquelas que inflamadamente profere a respeito das alterações climáticas e de condenação das ações de autodefesa do estado de Israel. Alguns dirão talvez que procedeu desse modo para não hostilizar o anfitrião do encontro do BRICS. Todavia, era exatamente isso que deveria ter feito, se tivesse a coragem necessária para estar à altura do cargo que ocupa. Tinha legitimidade diplomática para tal e teria por certo recebido o aplauso de todas as nações decentes do mundo.
Assim, se a atitude hostil de Guterres em relação a Israel se foi confirmando no tempo, com a Ucrânia só agora começa a delinear-se mais claramente. Como bem observou o presidente Zelensky, desgostoso com o que presenciou na cimeira do BRICS, ele deixou-se manipular por Putin e pareceu satisfeito com isso, razão pela qual Zelensky recusou recebê-lo no país. Parece ter então conseguido o prodígio de também neste país ser persona malquista. Esse sentimento foi compartilhado por Yulia Navalnaya, viúva do ativista russo Alexei Navalny, que declarou na rede social X: “No terceiro ano da guerra, o secretário-geral da ONU está a apertar a mão a um homicida”.
A ONU urge ser reformada, é bem sabido. Sugiro que comece por procurar um Secretário-Geral com uma visão mais clara sobre o que está certo e errado na História.
07 Dezembro 2024
06 Dezembro 2024
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