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Braga, quarta-feira

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Há TUB e TUB, há ir, mas não voltar

A armadilha da gratuidade universal

Há TUB e TUB, há ir, mas não voltar

Ideias

2024-09-22 às 06h00

Mário Meireles Mário Meireles

No mês de julho os TUB faziam uma campanha de marketing a convidar as pessoas a irem assistir ao Festival Internacional Folclórico utilizando uma de 6 linhas regulares. Não havia interface próprio, como há na Noite Branca e no São João, apenas diziam “usem as linhas 2, 5, 41, 90, 95 ou 96 e consultem os horários no site.”
O Festival começava às 21h00 na sexta e às 21h30 no sábado. Quando vemos uma campanha destas, e decidimos usar o autocarro para nos deslocarmos, no planeamento pessoal estaria sempre ir de autocarro, assistir ao festival, e no final regressar de autocarro.
Quando consultamos os horários percebe-se que na sexta a última viagem dessas linhas sugeridas ocorria entre as 19:45 e as 21:00, e no sábado a última viagem ocorria entre as 19:20 e as 20:15.
A campanha foi removida das redes, uma vez que as pessoas não podem ir e regressar daquele evento utilizando as linhas anunciadas.
Mas era possível, em Braga, ir de autocarro, assistir, à totalidade de um evento, que acontece depois da hora do jantar, e regressar a casa de autocarro no final?
A resposta é: não.
A rede noturna dos TUB possui, nos dias úteis, 14 linhas, sendo que 7 das quais oferece apenas um horário. Aos sábados, domingos e feriados possui apenas 6 linhas, sendo que 5 apenas oferecem um horário. Apenas uma linha opera para lá da meia noite, num único horário, e liga a Estação da CP até à UM.
Não obstante as pessoas que trabalham ou que saem à noite, sobretudo à sexta e ao sábado, não nos podemos esquecer de todas as pessoas que trabalham em shoppings, restaurantes, bares, hospitais, ou em algum serviço que acabe mais tarde, e que não tem opção de mobilidade de transporte público para regressar a casa. Estamos a falar de milhares de pessoas.
Aquelas pessoas que trabalham em restaurantes e bares, no final ainda procedem ao fecho, que muitas vezes implica arrumar, limpar, contabilizar valores e fechar as portas todas. As que trabalham por turnos, no final ainda passam o serviço, desfardam, comem alguma coisa e só depois saem. Saem ainda mais tarde do que o horário do fecho do estabelecimento, ou do final de turno.
Ao fim-de-semana podemos pensar em todas as pessoas que vão aos bares no centro, na UM, no Ideia Atlântico, na Avenida João II, perto da Avenida 31 de Janeiro, ou até na sazonalidade de alguns estabelecimentos que abrem nesta altura nas encostas da Falperra, do Bom Jesus, do Alto da Vela, ou nas Praias Fluviais. Seria útil ter algumas ligações noturnas, regulares, para esses locais. Seria uma forma de evitar algumas conduções sob o efeito do álcool e salvar vidas, prestando um serviço maior do que o transporte para estes locais. Mas seria também oferecer uma opção a quem trabalha nesses locais do Concelho de Braga, onde os TUB têm a competência de prestar o serviço de transporte público.
Sem oferta estas pessoas nunca serão utilizadores do transporte público. E mesmo que haja oferta de ida, se não houver autocarro no regresso, os TUB nunca serão opção.
É, por isso, fundamental a reestruturação da rede noturna, com bem mais horários, para que os TUB possam dar respostas às milhares de pessoas que trabalham ou utilizam serviços para lá das 20 horas.
Ter alguma consistência no serviço e nos horários é, também, um atrativo dos clientes. Saberem que, independentemente do dia, há sempre um autocarro de X em X minutos a operar naquela ligação. Por exemplo, as linhas 95 e 96 são linhas fáceis de memorizar e comunicar: Há autocarro de 20 em 20 minutos, sete dias por semana. Estas duas linhas poderiam ser alargadas em termos de horários, mantendo a frequência, para o horário noturno.
Poderíamos discutir as frequências noutras linhas, mas a reflexão de hoje é sobre a mobilidade para lá das 20h, onde mais uma vez o Município, e aqui até os TUB, nos obriga a usar o carro.
A mobilidade induz-se.

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