Correio do Minho

Braga, sexta-feira

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HORROR, S. A.

Educação, em Gaza? Ou sorte, ou utopia...

Ideias

2018-04-15 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Não caio em sapiforme Bruno de Carvalho, em esverdeada burrice. Passo ao largo de romano descalabro blaugrana, e da redenção merengue em leito de morte; retenho, apenas, em atenção ao homem da voz grossa forjada, que até os melhores dos melhores agoniam.
Ignoro o desafio do título, ao mesmo tempo que finto o buraco negro de um VAR em descrédito, muito em particular os roubos de sacristia a um Braga em rota de colisão com o pódio do futebol nacional.
Safo-me, de vez, à mortificação martirológica de Skripal – verdadeiro beato em vida –, a fiabilíssima advogada para a causa dos santos, May de sua graça, e seu afinadíssimo compagnon de route, Macron, que bem encarnam um M&M de entulheira.
Enterro ad aeternum um Trump caricatural, batidamente abaixo de espantalho de funileiro, de Tin Man, para inscrever a figura de estilo em catálogo popular americano.
Não passo bola a conluios de associação criminosa de madeireiros e de alugadores de naves aéreas. Não quero saber de orçamentos ou de percentagens do deficit, de assassínios de nascituros ou de penalidades comutadas à indústria do papel. Borrifo-me para o sarampo, para a apoteose das mudanças de género, para uma oncopediatria de arrepiar as pedras da calçada.
Ao que te poupo, bondoso leitor! Teria para uma dúzia de crónicas! Com o que me preocupo, mesmo, a horas da saída desta edição, é com o túnel de horrores em que nos poderemos ver enfiados, com a guerra aumentada que nos possam entregar ao domicílio, como pão fresco matinal, rescendente, estaladiço.
Pensarás que não chegaremos a tal ponto, que tudo não passa de encenação. Quero comungar das tuas esperanças, mas muito me parece que os mestres da discórdia tomaram o gosto ao petisco. Esbraceja, a porta-voz da Casa Branca, diz que o seu governo dispõe de provas de bombardeamento químico, mas que não as pode divulgar, por serem «classificadas». Quererá, ela, contaminar-me, mortalmente, com a sua estupidez?
Reformo a teoria de Darwin – a Evolução não é um destino comum. Encontramo-nos em acelerada regressão, estupidificamos com beleza proto-histórica, acabaremos canibais. Já sinto o maxilar inferior a alongar-se, a testa a recuar. Pendo para a frente, como se uma lombalgia nervosa me roubasse o aprumo, definitivamente.
Com derradeiro lampejo de génio, recordo Leonardo da Vinci, nascido neste quinze de Abril, e Mikhail Lomonossov, nele falecido. Turva-se-me a vista. Em painel publicitário digital, tipo «dreaMMerdia», vejo em tons de cinza uma última ceia. Procuro Jesus, procuro Tiago, procuro Pedro, mas só deparo com Iscariotes – um, e outro, e outro, clonados com perfeição sistina. Sacudo a alucinação, vejo um jovem Misha, filho de pescadores das faldas do círculo polar, demandando a capital em jornada pedestre, para aprender, para se vir a tornar académico, para formular a «lei da conservação da matéria», que nós conhecemos como lei de Lavoisier, embora a esse princípio tenha Lomonossov chegado com quinze anos de antecedência.
Uma tranquilidade me invade. Venera-se, neste quinze, a Hagia Anastasia Pharmakolytria, curandeira, patrona de poções, e exorcista. Invoquemo-la, exorcizando os demónios que nos travam o passo; invoquemo-la, para que as mãos que nos envenenam se cubram de pústulas. Invoquemo-la, para que os que hoje nasçam cheguem a um mundo sob bons augúrios. Invoquemo-la, para que os que nasceram neste quinze, segundo da Páscoa, experimentem a graça da ressurreição que o seu nome proclama… e que essa graça nos chegue por vasos comunicantes.

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