Correio do Minho

Braga, sexta-feira

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Hugo com H grande

Entre a vergonha e o medo

Hugo com H grande

Ideias

2019-02-19 às 06h00

João Marques João Marques

Poucas personalidades bracarenses podem, na história do concelho, mostrar a quantidade e qualidade de serviço público que Hugo Soares já protagonizou na sua, ainda, curta carreira política. Enquadrado, há muitos anos, no seu PSD (inicialmente na não menos sua JSD), é indiscutível a liberdade com que sempre exerceu os mandatos que os diversos eleitorados (interno e externos ao partido) lhe confiaram. Perdeu tantas ou mais eleições do que as que ganhou. Porquê? Por não tergiversar nas convicções e por não prescindir de projetos com valia e identidade, aqueles pelos quais vale a pena lutar. Nunca pôs o(s) lugar(es) à frente das ideias e isso valeu-lhe uma amplitude na ação que muitos estranharão. A recente entrevista que deu a este jornal e à rádio Antena-Minho é a prova disso mesmo.

Começou por reconhecer o papel importante que todos lhe atribuem na liderança política do PSD concelhio, admitindo que não ignora as consequências da sua atuação nacional, a qual influencia, como não poderia deixar de ser, a antecipação das eleições para os órgãos locais do partido, convocadas para março. Após passar pelo lugar de líder da JSD e da carreira fulgurante no parlamento, onde chegou a líder da bancada do PSD, assume a imprescindibilidade da legitimação política no seu concelho, no seu reduto. Aqui, em Braga, onde nasceu, onde vive e onde sempre alicerçou a sua repetida indicação como candidato a deputado.

Demonstrou igualmente como se exerce independência face à autarquia e ao executivo que a lidera. Era fácil, para um dirigente concelhio do partido que suporta a governação do município, pescar na vereação (e nas assessorias que as apoiam) os quadros que haveriam de formar a sua equipa. Garantia uma potencial e permanente influência nas decisões camarárias e confundia, em seu benefício, os papéis dos agentes políticos envolvidos. E era, de resto, tentador fazê-lo, logo em 2013, quando, após quatro décadas de mesquitismo, se escancaravam as portas da Câmara Municipal ao principal partido da coligação que venceu as eleições. A sua opção, porém, foi outra. Separar muito bem o que era o partido do que era o executivo na Câmara Municipal, recusando integrar na sua comissão política quem desempenhasse cargos políticos na autarquia, justamente para precaver eventuais confusões limitadoras da liberdade de uns e de outros.

E é essa mesma liberdade que transparece no espírito crítico com que enfrenta temas difíceis, como o do trânsito na cidade – onde claramente defende mais ação por parte da Câmara –, ou o da recente penhora das contas do município – apontando a necessidade de reforçar a autoridade política do executivo –, ou, ainda, quando discorda abertamente de opções de investimento, como o do S. Geraldo. Pequenos grandes exemplos que ilustram a utilidade de um espírito crítico livre.

Esta liberdade não inibe minimamente a lealdade a Ricardo Rio e ao seu projeto de cidade, à sua visão e à necessidade de permitir um quadro temporal suficiente (12 anos) para julgar os feitos e defeitos do atual presidente. Há, até, sinais reforçados do comprometimento com o atual executivo e com a defesa da sua capacidade de gestão, com a aposta na vertente cultural e com a colocação de Braga no mapa do país e do mundo.
É implacavelmente sincero com o desnorte do PS local, ao mesmo tempo que não deixa passar em branco a herança ruinosa que Mesquita Machado legou ao concelho. O que não há, novamente, é seguidismos bacocos e acríticos, esses sim, verdadeiramente castradores de novas ideias, novos projetos e contínuo refrescamento das estruturas partidárias.

Uma última palavra para a frontalidade com que aborda a atualidade nacional do PSD, admitindo, com naturalidade, a manutenção de Rui Rio à frente do partido, mesmo perdendo as legislativas e, como é óbvio, caso não ocorra qualquer hecatombe eleitoral. Renova a total disponibilidade para acatar a vontade do presidente do partido e integrar, ou não, as listas de outubro à Assembleia da República, consoante o desejo daquele. Critica o eclipse de Santana Lopes e o “cometa” Aliança, cujo propósito e perenidade são largamente discutíveis. E termina não renegando (pelo contrário) a certeza que tem de que Luís Montenegro tem, ainda, muito a dar ao PSD e ao país.
Uma entrevista que é a prova de que a coerência não tem de significar imobilismo na ação ou silêncios oportunistas, mas antes consistência no pensamento, clareza nos propósitos e transparência na intervenção política. Em Hugo Soares, felizmente, a única coisa que é silente é o H do seu nome. Ganha o país, ganha o concelho e ganha o partido.

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