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Ilusão verde

Escreve quem sabe

2020-11-28 às 06h00

João Ribeiro Mendes João Ribeiro Mendes

De acordo com a Organização Meteorológica Mundial, as concentrações na atmosfera dos três principais gases com efeito de estufa, dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), voltaram a bater recordes em 2020, mesmo tendo havido significativos períodos de diminuição da atividade humana por confinamento pandémico.
O CO2, em particular, que é o gás que mais contribui para o aquecimento global, tem já emissões antropogénicas na ordem das 410ppm (partes por milhão, ou seja, em cada milhão de moléculas de ar no planeta há 410 deste gás), quando no início da era industrial, século XVIII, não passou das 280ppm. Segundo Erik Swyngedouw, Professor de Geografia da Universidade de Manchester, ele tornou-se numa espécie de fetiche, um objeto (inanimado) com poderes mágicos para resolver a crise climática. Controlar as suas emissões será, pois, se não decisivo, pelo menos de enorme importância para evitar a instabilidade crescente do sistema climático da Terra e o subsequente aumento de grandes desastres naturais com elevado impacto e tremendos custos sociais.

Dado que nas últimas três décadas dois terços das emissões de CO2 tiveram origem na atividade humana, formou-se um amplo consenso de que é esta que tem de ser refreada. Ele assenta, em boa medida, na expetativa, só em aparência ideologicamente neutra, de que novas tecnologias, apelidadas de “amigas do ambiente”, “verdes” ou “sustentáveis”, permitirão diminuir gradualmente o consumo de combustíveis fósseis (carvão, petróleo) e a prazo remover o excesso de CO2 da atmosfera.
É possível, todavia, que isso não passe de uma ilusão. Exemplifico com duas tecnologias, ambas no setor automóvel, anunciadas e vendidas como contributos para salvar o mundo, mas que, na realidade, estão a ajudar a fazer avançar o ponteiro do célebre Relógio do Apocalipse, do Bulletin of the Atomic Scientists da Universidade de Chicago, que em 1947, quando iniciada a contagem, se encontrava a 7 minutos da meia-noite e agora se encontra apenas a 1 minuto e 40 segundos.

A primeira são os veículos híbridos (PHEV, plug-in hybrid electric vehicle). Têm sido parangonados como ecológicos e até recebido fortes subsídios estatais para a sua compra. Foram adquiridas em Portugal nos últimos dois anos cerca de 8300 unidades. Um recente estudo da Federação Europeia de Transportes e Ambiente (FETA), todavia, revelou que esses veículos emitem valores de CO2 em média 30% superiores aos anunciados pelas marcas e levou essa ONG a apelar a que tais apoios fossem imediatamente suspensos.
A segunda são os carros elétricos. Assinale-se que no referido estudo da FETA se recomenda aos governos que reafectem os subsídios dos híbridos para os elétricos. Na publicidade e nas estradas cada vez mais se veem veículos ZEV (zero-emissions vehicle) ou não poluidores do ambiente e não perturbadores do clima. Estes carros, no entanto, estão a abarrotar dos chamados “metais raros”, desde logo nas baterias (Lantânio, Cério), mas também no revestimento dos vidros (Európio e Ítrio), nos faróis (Neodímio), no motor (Disprósio, Térbio), etc. Tais metais alimentam o mercado das tecnologias sustentáveis, mas os danos provocados ao ambiente e à saúde humana na sua mineração e extração, assim como a sua difícil e muito onerosa reciclagem, fazem prever a insustentabilidade a prazo curto dessas tecnologias.
Parece, então, que talvez seja de reconsiderarmos manter os combustíveis fósseis como um mal menor ou simplesmente voltar a formas de vida tecnologicamente mais frugais que a pandemia em curso mostrou possível.

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