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Incertezas e futuro

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Incertezas e futuro

Escreve quem sabe

2019-01-22 às 06h00

Vítor Esperança Vítor Esperança

Ao ler a entrevista que o professor Luís Moniz Pereira, investigador na Inteligência Artificial no Laboratório de Ciência Computacional e Informática, deu à revista Visão de 8/11/18, fixei-me em algumas coisa que disse, designadamente: “com a ampliação tecnológica os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Acredito que vamos evoluir para uma sociedade de castas, no sentido em que teremos acima de todos os donos dos robôs, depois os administradores das máquinas, a seguir os exe- cutivos e, por fim, os explorados. ...cada vez mais, as pessoas vão viver num limiar de sobrevivência…”.
Assustei-me!
Vieram-me à memória livros como 1984, de George Orwell, ou O admirável mundo novo, de Aldous Huxley, ao mesmo tempo que as palavras do professor me atiram para a visão da dimensão e do poder global de empresas tecnológicas como a Facebook, Amazon, Google, Microsoft, Aplle, Alibaba, entre outras, empresas cujo sucesso se suporta em biliões de pessoas, mas cujos proveitos e riqueza aproveita a poucos, essencialmente aos seus “donos”.

Esta constatação do mundo atual torna-se um pouco mais sombria quando analisada á luz de livros como O Capital, de Thomas Piketty, nomeadamente quando nos recorda a coincidência que tiveram os tempos das grandes roturas politicas – revoluções- com épocas onde o fosso entre os pouco muito ricos e os milhões dos que pouco ou nada tinham se tornou insuportável.
Segundo este mesmo estudo caminhamos novamente para esse fosso perigoso. Na verdade e apesar da diminuição do número de pobres ao nível global nos últimos anos, como se explica que no Mundo atual, 1% da população detenha tanta riqueza como a dos restantes 99%?

O protesto dos “coletes amarelos” em França coloca-nos outras interrogações preocupantes: Perante um mundo tão desigual como em África, América Latina ou Ásia, que explicações há para que estes protestos ocorram justamente na parte de um Mundo mais protegido da fome, miséria e das desigualdades sociais? Será que o modelo económico do capitalismo liberal, instalado na maioria dos países de mercado livre, nos ameaça o futuro?
Os países que optaram pelo sistema do capitalismo liberal em Democracia são hoje considerados os mais ricos, evoluídos e equilibrados socialmente. Foi com eles que surgiu o Estado Social que permitiu dar resposta aos mais frágeis e redistribuir melhor a riqueza criada, dando origem ao sistema universal de consumidores que permite ao comércio de bens e serviços produzidos ter clientes, gerando-se assim um ciclo económico quase perfeito.
O Mundo parecia ter encontrado a receita para a sua sustentabilidade económica e social.

Tal confiança gerou as maiores expetativas para o futuro, com anúncios de crescimento contínuo de riqueza, onde o dinheiro não faltaria a ninguém, recursos garantidos pelo mundo financeiro que não só disponibilizava dinheiro para os investimentos produtivos, como também permitia a antecipação do gozo da riqueza que apenas seria produzida no futuro.
Todos querem ter uma vida confortável, com carros, casas, férias, roupas em abundância ao sabor da moda, serviços de gastronomia permanentes, etc., etc.., qualidade de vida que se foi instalando como um direito e uma forma normal de vida da designada classe média civilizada.
De repente parece que este mundo deixou de existir e tudo se resume a dívidas e a défices. Presos nas armadilhas de um mundo urbano de consumo permanente, o normal cidadão vê desaparecer as certezas do futuro, surpreendido não só pelo desemprego que não compreende, como se dá conta da insuficiência da remuneração dos empregos possíveis. Desiludidos e sem esperança visível sentem-se enganados pelas Democracias que prometiam uma sociedade mais justa, equitativa e sustentável.

A revolta começa sobre quem lhes permitiu tomar este tipo de vida, as Democracias e seus partidos políticos, justamente os herdeiros de quem criou o Estado Social.
Conduzidos e alimentados pelos anónimos alarmistas das redes sociais e por falsos profetas que voltam apregoar facilidades apenas apontando os culpados do presente, surge o protesto anárquico das ruas, cujas arruaças destruidoras parecem merecer o apoio da maioria da tal classe média civilizada, os mesmos que estão dispostos a dar oportunidade apenas aos que se apresenta como antissistema, sem cuidar de saber se tal escolha poderá ter consequências num desastre social e politico futuro, seja na figura das ditaduras ou de revoluções destruidoras.

O que está acontecer não é uma crise política das Democracias, mas a mudança de um mundo económico que sustentou o crescimento das classes médias. Um mundo que deixa os analfabetos digitais fora do sistema. Um mundo que aplaude os novos muito ricos e os donos das ferramentas de comunicação global, o que dá sentido às medonhas previsões do Professor Luís.
Ainda vamos a tempo de direcionar o novo mundo tecnológico em Democracia, impedindo que este seja dominado pelos poucos que já hoje são servidos por um exército de quadros altamente capacitados, mas com salários de sobrevivência, deixando sem esperança nem rendimentos os restantes jovens, jovens que se sentem já ameaçados pela constatação da sua inutilidade laboral, substituídos gradual e rapidamente por robôs ou maquinaria “inteligente” e seus algoritmos impossíveis de escortinar pelo normal cidadão.

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