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Indispensáveis são os bracarenses

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Indispensáveis são os bracarenses

Ideias

2024-12-06 às 06h00

Rui Marques Rui Marques

O encerramento da loja “Zara” na Avenida da Liberdade, em Braga, tem provocado um burburinho na cidade e gerado uma grande preocupação social sobre a perda de atrati- vidade do centro histórico, sobretudo por se suceder ao encerramento de outras lojas designadas de “âncora” para o comércio de rua, como foi o caso da “Massimo Dutti” ou da “H&M”.
Para fazermos uma análise séria sobre o assunto precisamos de conhecer o que efetivamente motivou estas marcas a fechar as suas lojas. No caso das lojas do grupo Inditex (Zara e Massimo Dutti), o encerramento destas lojas faz parte de uma reestruturação anunciada já em 2020, que previa o encerramento de 1000 a 1200 lojas em mercados globais, especialmente em regiões onde o grupo tinha uma alta densidade de pontos de venda ou onde o desempenho era considerado insuficiente.
A intenção deste grupo era (e continua a ser) de consolidar operações, reduzindo custos operacionais (como despesas de aluguer e/ou manutenção de instalações e despesas com pessoal), procurando migrar os clientes das lojas a encerrar para o e-commerce e para lojas maiores e mais estratégicas, de forma a maximizar a rentabilidade geral das suas operações.

No decorrer do ano 2023, a Inditex já havia encerrado 315 lojas a nível global, das quais 68 ocorreram em Espanha e 7 em Portugal. Já no decorrer do presente ano, foram, pelo menos, encerradas mais duas lojas Zara em Portugal - na Rua Augusta e na Rua Garret (Chiado), em Lisboa – e, agora, no final de janeiro de 2025, encerrará a Zara no centro histórico de Braga.
O racional do encerramento da loja de rua da Zara de Braga (assim como o da Massimo Dutti ou H&M) está alinhado com a suprarreferida estratégia do grupo Inditex – migrar os clientes da loja de rua para a loja do Centro Comercial, que, entretanto, cresceu e se transformou numa “flagship store”, e para o canal online, reduzindo assim os seus custos operacionais no concelho.

Que lições podemos tirar daqui? Bem, a primeira e provavelmente a maior lição é que a falta de planeamento de urbanismo comercial se paga caro. A autorização de centros comerciais em localização tão próxima do centro histórico, como sucede em Braga, bem como a autorização para ampliações sucessivas destes equipamentos tem naturalmente impacto na competitividade do comércio de rua. E se é verdade que é possível, e até desejável, a coexistência de ambos os formatos, é também verdade que às autoridades locais compete pugnar por uma concorrência saudável e justa, procurando, em última instância, defender a sustentabilidade e competitividade do comércio local, porque não dispõe dos mesmos recursos financeiros para competir.
Outra grande lição tem a ver com sentimento de pertença e de compromisso com a comunidade que se pode esperar dos grandes grupos económicos. O comércio local, que é verdadeiramente o que nos distingue e carateriza enquanto comunidade e destino de compras, é fiável, é leal e nunca nos deixa na mão. Já das multinacionais do retalho, ou da indústria, não podemos esperar o mesmo compromisso. Para essas, o único compromisso que interessa é com os acionistas e com a sua remuneração.
Mas será que o centro histórico de Braga está a perder competitividade face a outras cidades e a outros formatos de comércio? Bem, os principais indicadores relacionados quer com a procura, quer com a oferta, mostram, claramente, que não. A procura nacional e internacional tem vindo a crescer, de forma consistente, ao longo da última década (numa trajetória, apenas interrompida, pela pandemia de Covid19), como demonstra a evolução dos pagamentos eletrónicos (compras em TPA e levantamentos em multibanco), bem como os dados fiscais apurados pela Autoridade Tributária. Do lado da oferta, apesar da existência de alguns episódios pontuais como os que motivaram a redação deste artigo, a verdade é que o centro de Braga continua a ser um dos destinos preferidos dos investidores locais, nacionais e internacionais para instalarem os seus negócios ligados aos setores do comércio, serviços, restauração ou alojamento, mercê da sua dinâmica demográfica, social e económica.

É óbvio que o comércio eletrónico é uma realidade imparável e que está a ganhar quota de mercado a uma velocidade estonteante a nível global. É também muito claro que representa uma ameaça séria para os negócios que não consigam acompanhar esta revolução, mas representa também uma excelente oportunidade para o comércio local, assim consiga digitalizar-se e demonstrar a singularidade dos seus produtos e serviços.
Creio, no entanto, que, apesar da revolução digital em curso, o comércio de rua continuará, hoje e sempre, a ser uma das formas primordiais de venda, assim saiba adotar um posicionamento distintivo, seja capaz de valorizar a dimensão experiência e se adapte aos grandes desafios com que se depara, como os da transição digital e ecológica.

Em Braga, em janeiro de 2025, encerrar-se-á o capítulo da loja Zara na Avenida da Liberdade, e, considerando a enorme notoriedade desta marca, vai sentir-se a sua falta, mas rapidamente se abrirão novos capítulos, com novos protagonistas, de uma história de sucesso que se conta há mais de 2 mil anos e onde verdadeiramente indispensáveis são, apenas, os bracarenses.
E os bracarenses têm todas as razões para se sentirem orgulhosos do dinamismo e qualidade do seu comércio local, e a melhor forma de contribuírem para a sua vitalidade é com o poder das suas escolhas, é preferindo comprar local. Porque esta é uma escolha responsável, é uma escolha merecida e é uma escolha no futuro da cidade onde pertencem e à qual têm orgulho de pertencer.

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