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Inteligência Artificial e Enfermagem: uma relação em (contínua) evolução

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Inteligência Artificial e Enfermagem: uma relação em (contínua) evolução

Escreve quem sabe

2025-04-08 às 06h00

Analisa Candeias Analisa Candeias

A evolução da Inteligência Artificial (IA) tem vindo a transformar, de forma profunda, diversas esferas da sociedade contemporânea, e a esfera da saúde não é exceção. No âmbito das profissões de saúde, a Enfermagem destaca-se como uma área com um enorme potencial para beneficiar da integração de tecnologias baseadas em IA. Esta interseção entre a ciência/utilização de dados e a prática de cuidados representa uma oportunidade significativa para reforçar o papel dos enfermeiros no sistema de saúde, tornando os cuidados mais eficazes, personalizados e centrados no Outro, que é foco da atenção desses profissionais da saúde.
A IA, através de, por exemplo, algoritmos de aprendizagem automática, redes neuronais e análise de grandes volumes de dados (big data), apresenta como oportunidade a capacidade de identificar padrões clínicos complexos, de prevenir riscos e de sugerir intervenções de Enfermagem adaptadas às necessidades individuais das pessoas que necessitam de cuidados de saúde, em particular, de cuidados enfermeiros. Na prática de Enfermagem, de forma concreta, esta capacidade pode traduzir-se num suporte quiçá valioso, sobretudo na monitorização contínua de doentes em contexto hospitalar (como pode ser o caso em cuidados intensivos), em lares ou mesmo em contexto de domicílio. Sistemas inteligentes podem, a título de exemplo, detetar alterações subtis nos sinais vitais ou identificar quedas e emitir alertas precoces, permitindo uma intervenção rápida por parte dos enfermeiros.
Para além da monitorização clínica, a IA tem vindo a ser aplicada na gestão e planeamento dos serviços de saúde. Algoritmos preditivos podem ajudar na organização de horários, na alocação eficiente de recursos, humanos e materiais, e na previsão de necessidades futuras com base em tendências de base estatística. Estas soluções podem contribuir para a melhoria da qualidade dos cuidados e da própria gestão em Enfermagem, com vista a promover ambientes de trabalho mais organizados, seguros e menos sujeitos a sobrecarga, especialmente humana, beneficiando não só as pessoas que necessitam de cuidados, contudo também os próprios enfermeiros.
No domínio da educação, formação e desenvolvimento profissional, a IA oferece igualmente novas possibilidades. Por exemplo, plataformas digitais baseadas em IA podem adaptar conteúdos científicos/técnicos às necessidades e ao ritmo de cada estudante ou profissional, promovendo uma aprendizagem mais eficaz e centrada na aquisição de competências práticas e teóricas.
Outro exemplo passa pela utilização de simuladores clínicos avançados, com capacidade de resposta em tempo real, que permite aos estudantes de Enfermagem e aos enfermeiros em formação contínua treinar a tomada de decisões em cenários complexos, de forma a melhorar a sua preparação para a ação em situações efetivas.
Não obstante os benefícios evidentes, a introdução da IA na esfera da Enfermagem pode conduzir a questões éticas e a questões relativas à humanização dos cuidados. A proteção da privacidade e da confidencialidade dos dados das pessoas com necessidade de cuidados de saúde é uma prioridade incontornável, assim como a necessidade de garantir que o uso destas tecnologias não acentue desigualdades no acesso aos cuidados – em particular se se atender, somente, às questões financeiras e de lucro. Além disso, é essencial preservar a dimensão (inter) relacional dos cuidados de Enfermagem. A empatia, a escuta ativa, o toque e o vínculo terapêutico são elementos centrais de um cuidado efetivo e eficaz, que nenhuma tecnologia pode substituir.
Assim, é fundamental que a implementação de ferramentas de IA na esfera da saúde, em particular da Enfermagem, seja realizada de forma crítica, reflexiva e participativa.
Os enfermeiros devem ser não apenas utilizadores, contudo também cocriadores destas soluções e alternativas, contribuindo com o seu conhecimento teórico, clínico, ético e moral para o desenvolvimento de tecnologias que realmente respondam às necessidades das pessoas e respeitem a sua dignidade.
Em suma, a IA não deve ser um fim em si mesma, porém, sim, uma ferramenta significativa no serviço do cuidado ao Outro. Quando bem integrada, pode ampliar o impacto positivo da Enfermagem na vida das pessoas, reforçando a sua missão essencial: cuidar com ciência, competência e sensibilidade. O futuro dos cuidados de saúde será, inevitavelmente, mais digital — porém deverá ser, acima de tudo, mais humano.

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