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Interculturalidade no âmbito da consulta

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Interculturalidade no âmbito da consulta

Voz à Saúde

2020-09-02 às 06h00

Benvinda Barbosa Benvinda Barbosa

Numa sociedade cada vez mais multicultural, o confronto intercultural, no contexto da relação médico-doente, é uma realidade inevitável que importa implicações para a consulta e para a qual precisamos de estar preparados.
À imagem da sociedade, também no âmbito de uma consulta encontramos pessoas de línguas diferentes, de várias origens étnicas e tradições culturais muito diversificadas, com valores e crenças próprios que influenciam a sua perceção da saúde ou da doença, o seu comportamento, a aceitação do plano terapêutico, bem como a interpretação do que é dito, podendo constituir barreiras na prestação de cuidados de saúde.
Vejamos, num encontro clínico (médico-doente), cujos intervenientes possuam referências culturais distintas, a interpretação dos sintomas ou a atribuição de um significado aos mesmos, poderá ser divergente e, como tal, causar desentendimentos na relação médico-doente comprometendo a efetividade do ato médico. O próprio código linguístico, a respeito da comunicação oral, provavelmente representará o obstáculo mais óbvio quando abordamos esta temática, mas na verdade muitas vezes é ao nível da comunicação não verbal que as diferenças mais se acentuam, nomeadamente no cumprimento físico inicial e final da consulta e no próprio contacto ocular que se estabelece ao longo da mesma. Deve, por isso, a comunicação em saúde ser sempre ajustada.

A acrescer, não podemos esquecer a existência de premissas culturais relacionadas com a sexualidade, em que a oposição de género entre médico e doente, especialmente quando o doente é do sexo feminino, poderá condicionar a manifestação de sintomas e preocupações, o exame físico e o próprio relacionamento clínico.
Portanto, a heterogeneidade linguística e cultural dos utentes impõe-nos um conhecimento que vai muito para além da ciência. Se por um lado, o médico deve procurar conhecer as diferentes culturas, e ser possuidor de competência cultural1 para evitar o conflito entre as crenças e valores do doente – e que constituem a sua identidade – e o plano de cuidados a estabelecer, que deverá ser compartilhado, por outro, o profissional, como responsável por criar um ambiente harmonioso e propicio à comunicação e ao entendimento interpartes, deve também preocupar-se em ter uma preparação interior para lidar com doentes com culturas diferentes. Preparação essa que deve passar por um autoconhecimento que lhe permita identificar os próprios valores, crenças, vivências, inseguranças e limites e afastá-los do âmbito da relação médico-doente sob pena de influenciar e comprometer essa mesma relação.

Cada doente é único. Perante o mesmo diagnóstico, a intervenção pode ter que ser diferenciada dadas as crenças, os princípios morais e de conduta do doente e só respeitando essa divergência cultural, sem preconceitos e julgamentos, logramos a sua cooperação no tratamento.
O médico deve ser possuidor de um conjunto de competências nucleares no exercício da sua atividade clínica. Para além das capacidades internas e da preparação interior que se lhe impõe, deve ter a capacidade de fazer uma abordagem holística do doente, que inclui a capacidade de o compreender nas suas dimensões cultural e existencial segundo o modelo biopsicossocial e, dessa forma, amenizar os obstáculos da divergência intercultural em contexto de consulta.
1 Gouveia, E.A.H, et al. Competência cultural: uma resposta necessária para superar as barreiras de acesso à saúde para populações minorizadas. Rev. bras. educ. med. vol.43 nº1, 2019.

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