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Ideias

2025-06-07 às 06h00

António Ferraz António Ferraz

Um recente estudo da Associação Business Roundtable Portugal (BRP), associação composta por um grupo de empresários, aponta que o nível de investimento produtivo em Portugal tem vindo a registar ao longo dos últimos 15 anos valores abaixo da média da União Europeia (UE), com um diferencial acumulado equivalente a mais de 40% do Produto Interno Bruto (PIB) português! Sendo assim, o estudo da BRP sublinha a necessidade premente de “se realizar mais investimento público e privado para acelerar o crescimento económico, elevar a produtividade e inovar mais e melhor, para que Portugal se encontre em boas condições na atual fase de transição tecnológica e energética à escala global”. Por sua vez, o estudo da BRP centraliza a sua atenção na produtividade nacional considerando vários pilares e efetua também uma comparação com o que designa por “países concorrentes”, ou seja, um grupo de oito economias da UE que no ano de 2000 possuíam um PIB ‘per capita’ (por habitante) nominal próximo de Portugal, a saber: Espanha, Eslovénia, Estónia, Grécia, Hungria, Itália, Polónia e Chéquia.

O estudo da BRP informa ainda que o investimento privado em Portugal, em 2024, quedou-se em 16% do PIB português pouco abaixo dos 18% da média da UE, na quarta posição mais baixa dos “países concorrentes”. O cenário surge ainda mais desfavorável no que toca ao investimento público, onde para o mesmo ano apresentou um valor de apenas 3% do PIB, posicionando-se como o pior entre os “países concorrentes”, ao contrário, por exemplo, da Estónia (7,3%), Eslovénia (5,2%) e Polónia (5,0%). Por fim, note-se que, em 2024, em Portugal, em termos de investimento em I&D (investigação e desenvolvimento), investimento fulcral para a aceleração da convergência da taxa de crescimento do PIB com a média da UE e com os países mais desenvolvidos da UE. Na verdade, Portugal registou um valor de I&D de 1,7% do PIB face aos 3,0% do PIB de países como a Alemanha ou a Suécia. Entretanto, mais grave ainda o investimento público e privado realizado em Portugal ao longo dos anos se apresenta “insuficiente”, dado não ter permitido sequer compensar o desgaste (amortizações/depreciações) do estoque de capital fixo existente (edifícios, instalações fabris, “maquinaria”, etc.), quer dizer, uma situação de descapitalização (técnica) e, logo, de ausência de realização de “novo investimento” ou “investimento líquido”, este sim, fundamental para um crescimento económico sustentado (de longo prazo).

Ora, uma situação oposta acontece com todos os restantes países da UE, excetuando a Itália e Grécia. Mais ainda, segundo o estudo da BRP, em 2023, o estoque de capital fixo por trabalhador em Portugal se situou em cerca de 10% abaixo do valor registado em 2015, sendo o País, o segundo pior entre os “países concorrentes”. Com evoluções mais favoráveis estavam, nomeadamente a Chéquia, a Hungria, a Polónia e a Espanha. Desta forma, a evolução em Portugal em termos de estoque de capital fixo apresenta-se em linha com a perceção existente de uma especialização da economia em atividades com mais mão-de-obra incorporada e de baixa produtividade/competitividade. Porém, a análise da BRP aponta que “apesar do até então baixo investimento em Portugal, tem vindo a acontecer uma melhoria em termos de investimento produtivo resultante da pressão das transições tecnológica e energética à escala global e da necessidade de mais e melhor inovação, em particular, em áreas como biotecnologia, IA e transformação digital. Se assim for, será expetável que haja uma aceleração do investimento e, assim, do crescimento económico sustentado e, logo, convergindo cada vez mais com a média da UE.

O estudo da RBP estima também que o impacto do choque positivo de investimento proposto pelo “Relatório sobre o Futuro da Competitividade Europeia ou Relatório Draghi” poderá implicar em Portugal em mais investimento produtivo adicional (contra o escasso investimento adicional em cerca de 6,0% em 15 anos). Admite, contudo, que isso, poderá implicar em subida da inflação, mas que a acontecer, seriam “passageiros, não estruturais”. Do exposto, e com fundamento no estudo da BRP, indica-se abaixo algumas medidas de política económica visando a aceleração do crescimento económico em Portugal.

(1) Ecossistema de inovação tem de ser fortalecido: O estuda da BRP aponta que o investimento em inovação “fomenta o crescimento económico e o aumento da produtividade”. Para tal, torna-se necessário inverter a situação atual de existência de um reduzido valor de investimento em capital de risco, bem abaixo em relação à média da UE; (2) Alívio fiscal (IRS, IRC e outros): Uma prioridade para que Portugal “atraia e retenha talento qualificado induzido por melhores remunerações do trabalho”; (3) Necessidade de desburocratizar para crescer: a burocracia em Portugal “torna-se asfixiante ao criar entraves ao desenvolvimento económico”. Assim, para se tornar numa economia mais competitiva, o País deverá acelerar as reformas estruturais que simplifiquem processos e garantam maior previsibilidade e incentivem o investimento e a inovação; (4) Competitividade energética tem sido crítica para todas as atividades produtivas: a melhoria da competitividade energética torna-se vital como fonte de energia com custos mais reduzidos para a produção de bens e serviços na nova era da alta tecnologia (inovação, robotização, inteligência artificial, etc.). Por sua vez, pese embora, Portugal tenha avançado na realização de investimentos importantes em energias renováveis e na maior eficiência no consumo de energia na indústria, existem entraves. A propósito, cita-se a seguinte passagem do estudo da RBT: “os mecanismos de construção dos preços da eletricidade para os consumidores finais não permitem refletir tais benefícios, para além de serem agravados com taxas e custos superiores aos vigentes em outros países da UE.

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