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Ideias

2017-06-30 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

Aos oitenta, diga-se, e é com muita nostalgia e profunda saudade que nos pomos à janela da vida. Nostalgia de tempos que se foram, de forças que se perderam, de familiares, amigos e colegas que já só vivem em memórias e recordações que religiosamente conservamos, e saudade de uma meninice de brincadeira,correrias, pontapés na bola e alegria, de uma mocidade vivida entre sonhos, amores, livros e sorrisos e de uma juventude que se esvaiu no concreto de um estar e um querer ser alguém no trabalho e função. Uma juventude que com muita renitência e teimosia se procura conservar, intentando revivê-la a todo o momento, sobretudo em espírito, ainda que se admita e reconheça que as pernas já protestam e a saúde vem tendo aqui e ali os seus dias de greve, com algumas manifestações, motins e tumultos. Mas curiosamente, diga-se, nunca com a presença dos falados Arménios, Avoilas e Mários e outras figuras algo “tenebrosas” a que se teima dar voz e oportunidade de mexer com a vida das pessoas em trejeitos de amor e ódio.
Como aliás conseguimos perceber da varanda para onde nos mudámos, de facto com uma visão e panorâmica mais amplas e periféricas onde, já quase a perder de vista, imaginem, ainda nos pudemos aperceber das botas do homem que com os seus muitos defeitos, manias, pensares e erros teve algumas virtudes, não obstante as suas “más” companhias, dúbias ideologias, discutíveis ideais e perversas ideias, aliás de nefastos e também perversos resultados. Falamos de Salazar, a quem fizeram queixa e cuja “censura” nos impediu a publicação de “Um burro sem sorte”, um conto de mera e fictícia reflexão social, mas não queremos comentar se foi ou não bem feito e correcto terem-lhe tirado a ponte. Alturas houve em que era de bom tom, imperioso e importante afirmar-se anti-fascista, anti-Salazar e anti-Estado Novo, e compreender as mudanças, como a um estádio de futebol subtrair uns dias ao nome original, passando de 28 para 1 de Maio. Um mero exemplo de mudanças mas, porque a história o exige, é imperioso recordar que muitos passaram a olhar de soslaio para os “vindos” de antes de Abril, pondo-lhes rótulos de reaccionários e fascistas em etiquetas de colagem rápida, tipo “super-cola 3”, que alguns, sem telhados de vidro e com gozo inaudito, se deliciaram a “dar-lhes lustro”. Coisas de um passado em que se acobertaram mentalidades e figuras de um jacobinismo cabotinista e estúpido, ditas revolucionárias e com insensatas utopias ao ponto de ter havido quem tivesse apostado na fuga por lhe faltar coragem para um simples “estar” e “viver”, sem pensar em ter de mudar de sexo e “fronha” só porque nascido no fascismo. Mentalidades assentes em torpe vingança, algumas, de certas figuras ocas, sem genes, história ou princípios mas muito “sabidas”, “cultas” e “inteligentes” em aproveitar o momento para fazer e contar “estórias” banais, truncadas e convenientes, como se impunha.
Mas da varanda onde nos encontramos, numa alargada panorâmica de anos, casos e vidas em extensão e compreensão de espaços e tempos, há figuras, histórias e momentos imperdíveis, uns caricatos e até cómicos, alguns insólitos e outros sérios que, sendo passado, são de gostosa referência histórica no concreto de intervenções casuais, anódinas e anónimas. Como as apontadas a uma despretensiosa figura perdida nas memórias do tempo, aliás merecedora de todo o nosso respeito e admiração, que passou a vida sentindo-a e vivendo-a como antes de Abril de 74 e, dizia-o, sem carecer de mudar atitudes, comportamentos, linguagem e funcionalidade. Uma figura cujas estórias e episódios nos chegaram ao conhecimento, e que gostosamente partilhamos pelo sorriso e gozo que provocam. Como a de telefonar diariamente a um dos seus quadros, tido por comunista, para lhe perguntar, todo sorridente e bem disposto, quais eram as ordens do partido para esse dia, num estilo gostoso de manifesto gozo, e ainda a impagável “reinação” de prevenir outro, useiro em dizer “ah!...meus comunistas de um raio!... um dia ainda vos vou comer as orelhas”, de que as cartilagens reclamam sempre forte e demorada cozedura.
Uma figura impagável, por vezes atrevida e sem papas na língua, e a quem saudamos, tida em Lisboa como reaccionária e de quem se dizia, por chalaça, “aí vem o Coronel do Norte”, mas que, com coragem e sem medo, soube e sabia enfrentar os problemas surgidos com as chefias e o falado COPCON, mesmo no auge de sua ridícula vitalidade. Ainda hoje, recordando-a, não deixamos de sorrir perante a sua histórica corrida, urgente e atribulada, como nos referiu, rumo a uma zona fronteiriça onde o representante local do COPCON prendera um tipo que, estando a urinar para o rio, tivera a infeliz ideia de perguntar a um pescador, afinal um “bufo”, se não arranjava um barco para ir para outro lado, onde tinha amigos à espera, além de uma Lola gostosa. Uma prisão por uma tentativa de emigração clandestina, imagine-se, que na altura era já só uma simples transgressão! ....
Mas se esta estória, real, é um hino ao ridículo e ao atropelo que se vivia na época, já teriam sido épicas, tormentosas e graves as suas falação, contactos e diligências com um candidato às eleições para obter a chave e o acesso à sede local do seu partido onde estaria “agasalhada” uma “massa falida” subtraída pelos trabalhadores a conselho de tal candidato, um jurista em acção. Diligências morosas, disse-nos, com contactos com o Governador Civil da zona e telefonemas para a central do partido, mas que tiveram efeito. A chave apareceu, houve acesso ao local, e no vão das escadas e no centro da sala, em monte, lá estavam as confecções furtadas. No entanto só vencera a resistência do político quando o mimoseara com o vulgar chavão de que aquilo “poderia ser obra da reacção”, referiu-nos!... Mas o seu maior gozo,disse-nos soltando uma gargalhada, foi indicar tal candidato como fiel depositário.
Estórias duma figura impagável, que gostamos de recordar, e que de modo nenhum é “abafada” por tudo quanto aconteceu ao longo dos anos e ainda se vislumbra desta varanda. Aumentaram os vigaristas, morcões, mentirosos, parlapatões, traficantes da palavra e burlões, cresceu a criminalidade, perderam-se valores éticos, profissionais e o respeito pela palavra, a Banca ruiu com estrondo e desmoronou-se a vida de um povo, apesar dos seus ancestrais alicerces e virtudes. Volatizaram-se promessas e esperanças, surgiram os políticos e assomaram figuras que são tão só meros, estilizados e ocos figurinos de enfeite e adorno, sem valia e virtudes. Tudo ficou igual ou pior do que dantes, a dívida pública cresceu, os empréstimos vêm sustentando as loucuras de um governo dito democrático, mas onde reinam os nepotismo, amiguismo, compadrio, cunhas, jeitos e favores, sendo a “coisa pública”o elemento fulcral da vida onde todos tentam “enroscar-se” e mamar. Mas talvez esteja na hora de nos recolher e abandonar a varanda, onde já é cada vez mais agreste a friagem da sem vergonhice e intenso o fedor dos “negócios” alapados à corrupção, até porque “para o que não há remédio, remediado está”. E sempre se poderá continuar a ver através das vidraças todas as “sujeiras” e “lixos” que se fazem, e sem se correr o risco de, à socapa, apanhar com um “abraço”, um beijo forçado, um sorriso amarelo ou uma selfie “assanhada” em afectos.

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