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Ideias
2022-11-14 às 06h00
Sophia Kianni, norte-americana, com 20 anos, não tem estudos pós-graduados concluídos, nem tem um “curriculum vitae” composto por várias páginas de experiência profissional. No entanto, é uma ativista climática especializada em mídia e estratégia. Ela é a fundadora e diretora executiva da “Climate Cardinals”, uma organização internacional sem fins lucrativos, liderada por jovens, que trabalha para traduzir informações sobre as mudanças climáticas em mais de 100 idiomas.
Sophia é oficialmente "advisor" da ONU. Em julho de 2020, foi nomeada pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, para o seu novo Grupo Consultivo para Jovens sobre as Alterações Climáticas, um grupo de sete jovens líderes do clima para o aconselhar sobre a ação para a crise climá- tica. Kianni fora a mais jovem do grupo, que variava de 18 a 28 anos. Já foi oradora em relevantes certames internacionais: TED, "Generation Climate Advisory Council" do The New York Times, "Climate Advisory Council" da Web Summit, entre outros.
Felizmente, viram na Sophia mais do que uma jovem de 20 anos. Viram uma mulher com um forte sentido de responsabilidade social, solidariedade e de intervenção, com a intenção de promover mudanças de comportamento em claro proveito de todos.
Em Portugal, nesta última semana, muito se escreveu sobre uma nomeação de um jovem de 21 anos, Tiago Alberto Cunha, que acabou recentemente o curso de Direito e que foi contratado para ser adjunto da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, sem ter qualquer experiência profissional. Vai ganhar cerca de quatro mil euros brutos por mês.
Convenientemente, pouco se escreveu sobre o facto de esse jovem ter sido, nomeadamente, secretário-geral do Conselho Nacional de Estudantes de Direito (CNED). A comunicação social e as redes sociais apregoaram que a contratação veio em sequência da filiação partidária de Tiago Cunha, uma vez que este, nas últimas autárquicas, foi candidato à Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia pelo Partido Socialista, não tendo, no entanto, sido eleito. Faz também parte da Assembleia de Freguesia de Vilar de Andorinho, em Vila Nova de Gaia.
Não tenciono, em sede desta crónica, abordar a questão de estarmos perante mais um infeliz e descarado caso de “favor político”, não possuo dados suficientes para o afirmar, sendo certo que a filiação partidária, por si só, pode não constituir critério bastante para extrair tal conclusão.
Tenciono aproveitar este caso apenas para questionar duas coisas: i) apenas a experiência profissional é sinónimo de competência? ii) um jovem recém-licenciado não pode auferir um salário naqueles quantitativos?
A experiência profissional é, obviamente, um critério "objetivo" relevante para apurarmos se alguém está mais capaz para uma função, mas, diz-me a minha experiência de vida, que a aplicação cega daquele critério acarreta soluções injustas e menos queridas. Entendo que no momento de recrutar alguém para determinada função, para além do que consta no CV profissional, urge analisar que outras intervenções / preocupações revela a pessoa na sociedade para além da experiência profissional “stricto sensu”, bem como extrair a motivação daquela pessoa e se se trata de um ser informado, preocupado, pensante e crítico acerca de tudo o que se passa ao nosso redor.
De igual forma, não me parece que a manifestação imediata de que um salário daquela grandeza seja incompatível com o estarmos perante uma pessoa jovem. Não é com essa mentalidade que podemos alterar o paradigma dos salários baixos praticados em Portugal e que têm custado a emigração de relevante, bem formada e especializada mão de obra portuguesa e em áreas tão necessárias. Um desperdício de recursos e de investimento, prática que urge inverter.
Em súmula, faço votos para que a expressão “jobs for the boys” - que até à presente data tem sido utilizada como referindo-se a uma (condenável!) prática enraizada no aparelho do Estado, cujo objetivo é compensar lealdades partidárias e colocar os “boys” em lugares chaves da Administração Pública para garantir o controlo da máquina do Estado e arredores – passe a ter um significado mais amplo: o de que a sociedade deve proporcionar aos seus jovens, para além de uma formação cuidada, a integração no mercado de trabalho, com elevação, para que no futuro mais e melhor progresso aconteça em prol de um país melhor.
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