Assim vai a política em Portugal
Ideias Políticas
2023-09-19 às 06h00
No passado mês de Agosto, o primeiro-ministro António Costa apresentou um conjunto de medidas de apoio aos jovens. lamentavelmente ficam francamente aquém das necessidades da Juventude Portuguesa.
Se analisarmos algumas das medidas, veremos o quão reduzidas elas são.
Uma delas prende-se com uma semana nas Pousadas da Juventude, de forma a conhecer “a diversidade e beleza do país”, e embora esta medida pudesse parecer muitíssimo atraente, perde toda a sua plausibilidade se olharmos para a realidade económica das famílias portuguesas, que nos dias que correm já se veem obrigadas a cortar no supermercado. Se analisarmos esta parte da realidade esquecida pelos dirigentes políticos eventualmente uma semana na Pousada da Juventude não se torne tão apelativa, a não ser que o único objetivo seja dormir fora de casa, porque se colocarmos as refeições em cima da mesa a história muda. Entroncando nesta medida, apresenta-se a seguinte, quatro bilhetes gratuitos da CP, que funcionam se a empresa não decidir voltar a fazer greves durante imenso tempo. E o argumento repete-se, não precisarão os jovens de algo mais profundo?
Olhemos agora para a medida do século, a “Propina Zero!” Que falácia que esta medida é. Um empréstimo, onde ao fim de cada ano de trabalho serão devolvidos os valores da propina aos jovens que os pagaram. Por ser tão reduzida e fraca não irei gastar muitos argumentos, somente dois: um jovem que esteja hesitante entre ganhar pouco mais de mil euros líquidos em Portugal ou ganhar mais do dobro nos principais países europeus, jamais decidirá permanecer em Portugal por causa desta medida, não serão mais 70 euros por mês que farão a diferença, porque se partirmos do pressuposto que fazem, ainda temos um país pior do que se pensa. E o segundo prende-se com a necessidade de apoio imediato e nunca a longo prazo. Os jovens precisam de apoios agora! Precisam de casas agora! Precisam que o Estado os apoie agora e não numa lógica de empréstimo bancário! Os jovens precisam que o Estado olhe para eles como um dos grandes ativos de agora, antes que todo este “ativo” saia do país. Desafio todo e qualquer político a visitar as principais cidades universitárias e a averiguar os efeitos práticos desta medida na vida dos estudantes. Não ficarão surpreendidos do quão insignificantes estas medidas são, uma vez que já é apanágio dos mesmos apresentarem medidas pequeninas.
E analisando a última medida, o IVA 0% que sucessivamente se torna uma taxa de isenção de 25% ao fim de 5 anos. Uma medida que pode apresentar resultados práticos melhores do que as anteriores, mas que peca pelo mesmo motivo, não resolve os problemas estruturais mas serve de “manta de remendos”, uma vez que apenas vem disfarçar os problemas económicos do país, onde um jovem licenciado recebe pouco mais do que alguém sem licenciatura, onde receber 2000€ brutos te coloca nos 20% mais ricos do país, e onde os jovens são obrigados a optar entre pagar casa ou estudar. Volto a referir que a medida apresenta-se melhor do que as restantes, mas serve somente para afrouxar um bocadinho a corda que está à volta do pescoço dos jovens, não lhes permite sonhar a tirar a corda definitivamente.
Para terminar, e para ajudar de comparação, vejamos os temas que estas medidas não permitem resolver. O problema da habitação: há falta de habitação para os jovens e a que existe é excessivamente cara e sem condições. Os salários baixos do nosso país, onde se recebe pouco mais de mil euros líquidos, onde existem famílias que já têm de fazer escolhas entre farmácia e alimentação para subsistir. Onde os jovens estão desligados da política e da vida cívica, porque de semana a semana vêm casos e casinhos de corrupção, onde se sentem desamparados e esquecidos, e quando ouvem que receberam apoios, recebem migalhas, quando ao longo destes anos lhes foi retirado um bolo inteiro.
Portugal merece mais, precisa de mais, e urgentemente.
Estamos a perder uma geração por falta de audácia ou aptidão, não sei qual das duas será pior.
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