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Braga, sábado

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‘Prontidão 2030’ vs. uma ‘potência Disney’

K7

Escreve quem sabe

2020-09-06 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

O covid é uma cassete ou, se preferirem, um disco riscado em que o pior está sempre por vir. Ainda não deu para perceber que o vírus anda por aí, e que não é o exorcismo diário das manas cacatuas que o enxota? Por outro lado, se nada muda, porque e que as harpias se eternizam no papel? Sei que se pode aventar que o cerimonial é tudo menos fútil, que não fora a mórbida contabilidade quotidiana, e as sugestões de «Borda d’agua» das afinadas, e estaríamos desgraçados, tese contra a qual insisto na dinâmica natural do agente, que teima em aparecer onde antes não o avistaram, independentemente de esconjuros, novenas ou fumigações. Nada o pára, nem a clausura.
Mas que diferença, entre o surto de Famalicão e o de Reguengos! Parece que ainda oiço a ministra a descascar nos dirigentes do lar famalicense, pelo plano de contingência que não teriam, pelo desdobramento em espelho que haviam descartado. Já em Reguengos, o odioso quer-se todo na lombela dos médicos, propensos ao bitaite de consultório, no quanto se furtam à comunidade, segundo o diagnóstico do senhor Costa, insigne sangrador-mor do arraial.

E que novela, o «Avante»! Quanta burrice à tona nas charcas da política e da sociedade civil! Não precisamos nós de renormalizar o que talvez nunca devesse ter sido anormalizado? Ou nunca, pelo menos, com estes fumos de juízo final. Exige, Rebelo de Sousa, que as recomendações da DGS – de momento soou-me a direcção-geral de segurança! – para o «Avante» sejam tornadas públicas. E não poderíamos nós exigir que o mais alto magistrado da nação nos viesse ao encontro, com todos os dados, respaldado por especialistas, para nos responder porque é que tanto nos emparedamos com algo que, ao presente, terá acarretado 1824 óbitos – 0,02% da população nacional –, para um universo de 58243 casos confirmados, dos quais 42104 recuperaram, sendo que 1200 dos falecidos reportados se incluem na faixa etária de mais de 80 anos. Eu digo: não é o covid-19 uma infecção marginal de mortalidade pouco significativa e de bom prognóstico?

Nunca se vive demais, e a morte vem sempre cedo, mesmo a de um acamado com um trapézio de complicações. Recordo, porém, que já antes do covid se morria por «infecção oportunista». Entendamos: o covid-19 não é um vírus; o covid-19 é um pesadelo sociológico. Reformulo: o covid-19 é um pesadelo sociológico, muito para lá do que seja uma entidade clínica, uma infecção, uma causa de morte. Mata, o covid-19, quanto mais débeis e primitivos sejam os cuidados de saúde de segmentos da população. Agride pobres, mais do que ricos, ancora-se silenciosamente em pobres que sobrevivem do dia-a-dia, mais do em abastecidos para quem uma paragem é uma espécie de purga, com calorias a menos e leituras a mais.

Desdobra-se o senhor Costa numa passagem de modelos de máscaras anti infecção «fabricado em portugal», laváveis, reutilizáveis, de design ultra. Para bem, o manequim deveria desfilar só de máscara, para que o produto publicitado ressaltasse, eventualmente com uns sapatos de solado vénia-a-holandês. Outras sugestões tenho, de que faço franqueza: a) se o vírus é especialmente letal acima dos 80 anos, então não seria mal visto que se congelasse a idade, como a progressão de carreira dos professores; b) se é nos lares que em particular se morre, pois fechem-se os lares, como sabidamente se suprimiu a cultura, o desporto, etc.
Reservo ideias para campanha que antevejo dura. Colaboro, desde já, e cedo os royalties do refrão: avança, Costa, que a malta gosta!
Sinto-me muito melhor.

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