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Ideias
2021-04-13 às 06h00
Tu disseste
Quero saborear o infinito
Eu disse
A frescura das maçãs matinais revela-nos segredos insondáveis
Tu disseste
Sentir a aragem que balança os dependurados
Eu disse
É o medo o que nos vem acariciar
Tu disseste
Eu também já tive medo, muito medo
Recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da porta
Eu disse
Acabamos a gostar do medo, do arrepio que nos suspende a fala
Tu disseste
Um dia fiquei sem nada
Um mundo inteiro por descobrir
Eu disse
O que é que isso interessa?
Tu disseste
Nada
Aponte-se o “Eu disse” a Artur Feio e assuma-se que o “Tu disseste” se refere a Hugo Pires, substituam-se, ainda, as “maçãs” por rosas e teremos sumariado o diálogo de surdos que decorre, na praça pública, no PS Braga.
Já não é a primeira vez que cito estes versos de uma das músicas que admiro, da banda Mão Morta, imaginando o desagrado dos autores, visto que o fiz e faço para defender os responsáveis pelo “massacre” (assim se lhe referiu Adolfo em entrevista) que Braga vem sofrendo nos últimos 7 anos de presidência de Ricardo Rio.
Não é hoje o dia e a hora para contestar a liberdade criativa do cantor, que viu a luxúria impor-se na adjetivação dos mandatos da Coligação Juntos por Braga. Sempre direi que o “massacre” da recuperação do património; do planeamento palpável do Parque das Sete Fontes; da reabilitação do espaço público e das infraestruturas municipais; da abertura e transparência do executivo; da exposição nacional e internacional de Braga, bem como do fulgor económico concelhio podem dar azo a overdoses de excitação crítica, mas tal não as torna menos despropositadas.
O que é, sim, matéria central deste texto é a canibalização que Adolfo gerou nas hostes socialistas bracarenses.
Recorde-se que, com estrondo, o vocalista dos Mão Morta, tendo assumido o encargo de coordenar o programa do PS para as próximas eleições autárquicas, coadjuvando Hugo Pires na tentativa da criação da alternativa a Ricardo Rio, declarou (curiosamente à RUM) a candidatura que apoia como uma rutura com o mesquitismo.
Descontemos a manifesta incoerência da proposição segundo a qual o “Supervereador” de Mesquita Machado e, na altura, seu hipotético sucessor, pode encabeçar uma alternativa desligada dos erros e do legado do dinossauro socialista.
Descontemos, também, a contradição de o próprio Adolfo ter feito parte de algumas comissões de honra do “horrível” Mesquita Machado. Lembrarão os mais cínicos que mais não faz do que revisitar o disco “Pelo Meu Relógio São Horas de Matar”.
Descontemos, ainda, a omissão de qualquer crítica por parte de Hugo Pires a uma ação que seja do poder socialista, nos 37 longos anos que durou o reinado de Mesquita Machado. E isto em qualquer dos papeis que foi assumindo politicamente: vereador, líder da juventude socialista, deputado, enfim, o que se quiser.
Descontemos tudo isto porque, para o bem e para o mal, o PS Braga também não esquece. De tal forma que Artur Feio, o putativo ex-candidato à autarquia e atual líder da concelhia do PS, veio lembrar a Adolfo que o Hugo não é o Huguinho. E que por muito inocente e refrescante que se lhe apresente o “recau- chutado” Hugo Pires, o passado não prescreve, como por estes dias se vem dizendo a propósito de um outro notável socialista.
A carta que os militantes socialistas terão recebido recentemente nas suas casas, a propósito das declarações de Adolfo, lembrou que o teor das mesmas representa “uma inaceitável ofensa e desrespeito à família socialista que este Secretariado repudia e rejeita de forma veemente”.
Ou seja, em Braga não temos um PS, mas dois, ou, até, talvez três. O PS de Mesquita, o PS contra Mesquita e o PS de ontem que não é necessariamente o de hoje e pretende construir um novo amanhã.
Voltando à discografia dos Mão Morta, qualquer bracarense já notou que o que se anuncia é uma “Primavera dos Destroços”, de onde ninguém renasce sem ter perdido mais do que aquilo que prevê ganhar.
Tudo isto entronca num aspeto que tenho repetidamente sublinhado. O PS, em Braga, não se reconstruirá enquanto não assentar e acertar as contas com o passado, fazendo uma séria reflexão sobre os seus erros e libertando-se genuinamente das ideias e protagonistas anacrónicas com que diariamente se confronta, sem que tal signifique renegar o seu legado.
É hoje ainda evidente que essa catarse está por fazer e que a próxima disputa eleitoral autárquica não é tanto sobre quem propõe algo com valor acrescentado para o concelho, mas mais sobre quem arregimenta as tropas que foram de Mesquita Machado.
Adolfo que me perdoe, mas a sua inclusão na entourage de campanha, mais não é do que um adereço estético na fátua tentativa de Hugo Pires mostrar que os quatro anos que passou ao lado de Mesquita e as décadas em que, sem reparo, o apoiou, são uma mera nota de rodapé na sua biografia política. Autênticas “Carícias Malícias” que, mais cedo ou mais tarde, se pagam com juros.
15 Junho 2025
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