A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2011-03-06 às 06h00
Nada de verdadeiramente relevante se passa este fim-de-semana em termos noticiosos. Perto de períodos festivos, como será o do Carnaval, a actualidade desacelera, abrindo-se um espaço para as chamadas “outras notícias”, que frequentemente serão as mais importantes para a vida de todos os dias.
Quem ontem olhou as bancas de jornais talvez tenha considerado a manchete do “Expresso” como o título mais forte do dia: “suspeito da Al-Qaeda vive em Portugal”. No interior do semanário, pouco mais se ficava a saber. Do telegrama divulgado pela Wikileaks, apenas se dizia que se tratava de um empresário sírio que terá mantido contactos com uma célula da Al-Qaeda na Irlanda.
O indivíduo nega tudo: “não me dou com gente estranha”. Fica a denúncia de um caso cuja identidade e proveniência geográfica se desconhecem. Neste dossier, divulgava-se ainda um telegrama segundo o qual Freitas do Amaral se terá demitido do Governo por causa de uma discussão com um diplomata americano. O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros nega esta tese, assegurando que terá saído pelas razões de saúde que, na altura, invocou. Não estamos aqui a falar de uma matéria explosiva, nem de algo com verdadeiro interesse público. Por isso, não foi este o assunto que mais reteve a minha atenção.
Em dia de aniversário do “Público”, fiquei presa ao título escolhido para a edição de ontem. “A alma gémea existe? 60% dos portugueses acreditam que sim”. Já não seguimos convictamente o ritual católico do matrimónio, divorciamo-nos com facilidade, mas, no fundo, continuamos a acreditar no amor que une aquela e aquela pessoa. Curiosa esta forma de percepcionar as nossas relações afectivas. Mais exigentes na nossa vida privada, menos disponíveis para fazer investimentos pessoais sem retorno, todos anseiam encontrar um Amor. Nem que, para isso, se ensaie mais do que uma vez. Mudámos muito nestas últimas décadas. Mudámos estilos de vida. Mudámos comportamentos. Mas continua-mos a fugir do mesmo: da solidão. Afinal, não teremos mudado assim tanto…
Cruzando jornais, um tópico subsiste: a crise. O “Correio da Manhã” titulava que os “funcionários públicos estão afogados em dívidas”. No jornal “i”, escrevia-se que 70 por cento dos lares portugueses estão em risco. No “Público”, contavam-se estórias de vida. De gente real. Como a da Sandra Fonseca que faz limpeza na Universidade do Algarve e que, juntamente com os dois filhos, teve de regressar a casa dos pais para conseguir sobreviver. Ou o caso da Adriana Dimas que vive com 550 euros mensais, servindo à mesa de uma restaurante. A situação destas pessoas dificilmente terá força mediática para abrir um noticiário televisivo, mas é graças à sua determinação que esta gente vai conseguindo ir para a frente.
Amanhã e terça-feira será tempo de folia. É isto que caracteriza o Carnaval. Para alguns de nós, será uma oportunidade para tirar umas férias. No “Expresso” de ontem escrevia-se que a crise não afecta estas mini-férias. Destinos como o dos Alpes registaram, segundo este semanário, um aumento substancial de pedidos de reservas. Somos assim: um país de paradoxos. Em tempos difíceis, há quem consiga passar (bem) por entre os pingos da chuva.
No P2 do “Público”, falava-se ontem de ideias para mudar Portugal. A médica internista Minnie Freudenthal propunha esta: ensinar a descobrir. Não é fácil esta aprendizagem da disposição para a descoberta. Mas é profícua. Principalmente em tempos de crise: descobrir terceiras vias, mesmo quando não se vê caminho nenhum, não será uma tarefa para todos, mas é um desafio que valerá a pena agarrar.
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