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Liberdade, igualdade, impunidade

A Economia não cresce com muros

Liberdade, igualdade, impunidade

Escreve quem sabe

2023-07-05 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

A revolução francesa forjou uma trindade alternativa, não claramente esta que avanço em título, como o saberá o comum dos leitores. Em todo o caso, e para que ninguém afronte, aqui fica o terceiro componente do lema que os organismos públicos franceses ostentam na fachada: fraternidade.
A fraternidade já era, e de há muito a esta parte. Os motins de agora, os de 2005, os antagonismos vincados na crise dos coletes amarelos, os levantamentos recentes em resposta à alteração da idade da aposentação, a contestação de qualquer intervenção a nível da agroindústria ou dos equipamentos, tudo, mas tudo demonstra à saciação que a sociedade francesa se reveja mais no frente-a-frente que no ombro-com-ombro.

Vive em ficção quem alude um hipotético projecto comum francês. Em abono da verdade, justo é que se explicite que tampouco existe um projecto comum português, ou espanhol, por exemplo. Talvez exista um projecto comum alemão, e de há muito, anterior até à reunificação, e é ver a este respeito a facilidade com que os alemães formam coligações de governo, colmatando óbices de maiorias falhadas em urnas.
Os projectos comuns são benquistos, porque neles convirjam facções, sensibilidades ou minorias. Em projectos comuns há sempre algo que vem em troca, pelo que cada um cede em prol do bem geral. Ora, em França, a minoria expressiva magrebino-muçulmana não leva em conta outra identidade ou outro código que não o da subcultura, e é assim que padres ou religiosas, que professores, são afrontados, eventualmente martirizados. E é assim que a autoridade policial é sumariamente pisoteada.

Não respeitar uma operação stop ou uma abordagem para parar é tão banal como para suceder mais de 25000 vezes por ano. Ocorrem mortes, à semelhança do sucedido a semana passada, e lá vem «a polícia mata» de Mélenchon, e lá vem o desfiar de maldições de Le Pen e Zemmour pelo génio francês que não habita no peito do alienígena.
Por o que vem de suceder, há de a Justiça enredar-se de instância em instância, valorando uma ou outra das narrativas. Dê por onde der, era o jovem tão marginalizado socialmente como para conduzir um mercedes, era o jovem tão observador das regras de circulação, como para transitar em corredor reservado a transportes colectivos, como para queimar um semáforo e ignorar passagens de peões. Justifica isso a perda da vida? Não! Claro que não. Mas que fez ele para obviar semelhante desfecho?

Promete o Ministro da Justiça resposta severa para os fautores de desacatos, para quem pilha e incendeia, para quem deliberadamente atenta contra figuras detentoras de autoridade e suas famílias. É treta! Não tem Moretti como ser severo, não tem ele cela para tanto hóspede. Pior: haja mão dura e lá se vai o capital demagógico de diabolização do partido da Le Pen.
Entretanto faleceu um bombeiro e o notável, neste infausto acontecimento, é que logo instância oficial se afadigou a declarar que tivesse sido por paragem cardiorrespiratória, como quem sublinha que poderia ter ocorrido em qualquer circunstância. Mas a morte do jovem, por bala alojada no tórax, tendo entrado pelo braço, mantém-se retida como homicídio voluntário. Duplo padrão que uma França não perdoa. Sente a França que vota à direita uma revivescência de Vichy, a ignomínia de um cabeça-baixa face ao islamogauchismo.
Entretanto, subscrição pública, que o governo abomina, apura 1,3 M€ para suporte da família do polícia detido. Drama sem fim.

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