Correio do Minho

Braga, quinta-feira

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Libertem Willy!

Entre a vergonha e o medo

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Ideias

2018-03-06 às 06h00

João Marques João Marques

Percebe-se a ânsia, o FCP vai na frente do campeonato, há muito portista que seguramente aspira ao regresso às vitórias no futebol e, pelos vistos, em Braga também haverá uns quantos que esperam e desesperam por esse momento. Até aí, compreendo. O que não percebo é como é que um dragão pode ser tema de debate político na cidade dos arcebispos, dos romanos, do barroco (que não bacoco), dos braguistas e arsenalistas que se veem e reveem no texto e contexto histórico-cultural da cidade. Serve este introito para (des)contextualizar) a questão do momento: o dragão fica ou o dragão voa?
Não é preciso perguntar a Daenerys Targaryen, nem a qualquer fã confesso da série Guerra dos Tronos se aprecia ou não o potencial cultural de uma escultura que celebra essa figura mítica, perecida perante mil heróis de contos de encantar e mirificas lendas (viva S. Jorge, o filme e a estória!). Com efeito, nunca ninguém debateu o vulto, o mérito ou demérito da escultura que jazia em frente ao jardim de Sta. Bárbara, ameaçando os lírios e os bem-me-queres com a sua árdua e metálica figura. Até agora.

E o que se passou, então, para que agora se grite, a plenos pulmões Não libertem Willy (sim, chamei Willy ao dragão)? Passou-se que o artista, no seu pleno direito, enquanto proprietário da obra, cedida, há alguns anos, à cidade, decidiu resgatá-la perante a indisponibilidade da autarquia em desembolsar cerca de 50.000,00 euros para adotar definitivamente o dragão. Dizem as más línguas e, ao que parece, as boas também, que o artista não pediu, não negociou, nem sugeriu, antes preferindo exigir, sem mais, o que lhe pareceu ser o preço certo. Tal terá até deixado Fernando Mendes (o gordo mais conhecido de Portugal) a sussurrar vai estourar, mas nem isso ajudou a Câmara Municipal a baixar a tarifa.
Perante a irredutibilidade do artista, a autarquia fez o óbvio, disse, libertem Willy e deixem-no regressar a seu dono.

Houve algum sururu, o que é normal, mas menos normal se torna quando o sururu se transforma em arma de arremesso político de uns poucos, acantonados na força de convicções tão abstratas quanto inconciliáveis com a realidade dos factos. Senão vejamos, então alguém, por muito simpático que seja, considera justo o valor exigido pelo artista? E ainda que o considere, entende como legítima a postura de irredutibilidade demonstrada, sem sequer consentir em discutir o que quer que fosse das condições financeiras estabelecidas? Demonstra ela uma verdadeira vontade de manter o espólio por aqui, ou será que haverá já comprador anunciado para o dragão Willy?
Não me entendam mal, seguramente há erros na política cultural da autarquia e insuficiências que precisam de ser corrigidas, mas escolher este momento e este episódio para daí retirar como conclusão que a edilidade não cuida do património e da cultura em Braga só não faz rir porque o dragão é bicho que assusta.
Pela minha parte, que é a que menos importa, podem libertar Willy à vontade e até libertar aquela praça daquela fonte pouco conveniente. Ganhar-se-ia muito em fruição do espaço e perder-se-ia muito pouco para o acervo cultural do concelho.

Quanto à cultura, veja-se o que se progrediu em eventos, como o festival de guitarra clássica, a Braga Barroca, a defesa e consagração do património como prioridade (com a candidatura do Bom Jesus a património da humanidade), a salvaguarda da cultura popular em eventos como o S. João, ou a descentralização do Descentra (passe o pleonasmo), que levará às várias freguesias bracarenses iniciativas de grande valia. Tudo isto sem esquecer o muito que o futuro seguramente trará, no que respeita a grandes eventos, com a conclusão das obras de requalificação do antigo Parque de Exposições de Braga (rebatizado Fórum Braga).
Sobre o Willy só lhe posso desejar a melhor das sortes, uma figura simpática, que atesta as qualidades do artista que a criou, mas que não representa para a cidade ou para os bracarenses tanto quanto terá representado para o FantasPorto, para o FCP ou para outra organização mais identificada com a simbologia nele representada. Há que agradecer, sem condições, a disponibilidade, a abertura e a generosidade do artista, mas há também que avançar e dar prioridade a outros investimentos culturais de maior premência.

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