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Investir na Juventude: o exemplo de Braga e desafios futuros

Ideias

2013-11-21 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Em tempos, a Psicologia Desportiva foi uma das áreas em que me apliquei. Devo dizer, aliás, que é um campo de trabalho de eleição para um psicólogo. O equilíbrio não é o estado natural duma equipa nem dos indivíduos que a constituem. Mesmo que uma equipa fosse modesta e justa nas suas aspirações, lá estariam os adeptos para reclamar a conquista de metas impossíveis. Mesmo que os jogadores fossem duma solidariedade irrepreensível entre si, a desgraça de um é inevitavelmente a oportunidade de outro. Mesmo que todos digam perceber a justeza das escolhas, não há quem admita que está em pior condição do aquele que figura como primeira escolha.

Qualquer que seja o adversário do momento, jornada a jornada uma equipa prepara-se para a vitória. Com o jogo concluído, se há vitórias miraculosas, há derrotas que parecem absolutamente incompreensíveis. Aliás, constrói-se a opinião geral de que, repetindo-se o jogo - com aqueles mesmos intervenientes, perante aquele mesmo adversário -, o resultado seria seguramente distinto. Não é que se retire a qualidade ao adversário, mas os erros próprios parecem por demais primitivos, inesperados e incaracterísticos: não se percebe porque se fez o contrário do que é habitual, porque é que se seguiu aquela linha de acção, porque é que se cometeu aquela falta e se envolveu naquela disputa incongruente. No fundo, o jogador, a equipa, constata que a derrota está mais em si, dentro de portas, do que nos movimentos elaborados pelo adversário. Constata-se que a vitória foi mais ou menos servida de bandeja ao oponente.

Um espírito mais céptico pode avançar que tudo isto são ficções psicológicas, que outro valor não têm que o de justificar a intromissão de psicólogos no seio duma equipa, e logo para quê, se há treinadores, se há directores e managers, todos verdadeiramente experimentados e de tenra idade nestas lides? Pode mesmo questionar-se a legitimidade duma intelectualização do futebol ou outra modalidade, resumidas a força e velocidade, a recepção e passe, a drible e remate. Mas, queira-se ou não, mesmo os aspectos físicos e técnico-tacticos são tributários de instâncias emocionais, são condicionados por predisposições e expectativas, são modulados por pensamentos, crenças e convicções. São estas variáveis diáfanas que respondem pelas oscilações abruptas de rendimento, nomeadamente aquelas em que a equipa parece excessivamente parada, além de qualquer razão objectiva para a fadiga, ou quando toda a gente corre desalmadamente, mas de forma desarticulada, chegando sempre tarde à bola.

Atletas e equipas estão efectivamente sujeitos a desgaste psicológico, que pode ser combatido e corrigido, ou simplesmente negado, deixando ao critério de cada um a forma e o tempo de recuperação. Quando afecta um ou outro jogador dentro duma equipa sadia, as atenções dum treinador ou dirigente, o contágio geral do colectivo, prestam-se a um esforço pessoal de regeneração. Dramático é quando este processo de desgaste abarca o núcleo estrutural duma equipa, eventualmente os líderes, as figuras que geram as vozes de comando, que transmitem confiança ou descrença. É da história de todos os dias que situações deste teor se resolvem com a proverbial chicotada psicológica, fórmula celerada de envolver a Psicologia em tão nobre e delicado assunto.

Ainda que procurasse abordar este tema num plano puramente teórico, é por demais evidente o pano de fundo do Sporting de Braga. Que as equipas entram em crise quando não têm jogadores à altura: será o caso do nosso clube? Que as equipas entram em crise quando lhes faltam os recursos financeiros? Bom, esta hipótese parece de descartar, pela saúde atestada da SAD bracarense? Que as equipas entram em crise na transição de treinadores, por uma aposta falhada em alguem manifestamente sem competência? Jesualdo já foi grande em Braga, e gigante no Porto.
Dar-se-á o caso da dificuldade residir em algum sacrossanto impronunciavel? Nenhum tabu persiste senão pelo medo, nenhuma organização assente em tabus progride criativamente. Competir e criar requerem equilíbrio e instabilidade, bem amalgamados e na justa proporção. Quanto às crises, ou são de crescimento ou são de desagregação. Até determinado ponto, o caminho é comum. É dos canones que nenhum problema se resolve por si só, espontaneamente. Algum simpático empurrão é necessário dar para que ocorra a ilusão de um milagre, para que a mudança aconteça sem que ninguém sensível perca a face.
Enfim, estamos longe de saber o que se passa e qual venha a ser o desfecho desta turbulência. Neste meio tempo recordamos os divórcios de fim de época de Jesualdo e Domingos Paciência, recordamos a desafortunada passagem de Jorge Costa pelos comandos da equipa bracarense.

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