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Longe da capital

A Cruz (qual calvário) das Convertidas

Ideias

2016-05-23 às 06h00

Felisbela Lopes Felisbela Lopes

País de pequena dimensão, Portugal continua ainda excessivamente centralizado em Lisboa. Aí estão os principais centros de decisão, aí estão as sedes de empresas que são o motor da economia, aí estão quase todas as redações dos media nacionais, aí estão as elites. E o chamado resto do país continua longe de tudo, não tendo poder de decisão em nada.

Não é fácil desfazer a hegemonia da capital. Com uma lógica administrativa avessa a qualquer descentralização, o país concentra em Lisboa as deliberações de grande parte da nossa vida coletiva. Claro que noutras geografias existem instituições que todos os dias contribuem para fazer progredir o país. Como as Universidades.

Acontece que quase nenhuma delas sabe projetar aquilo que faz. Os investigadores não tem na divulgação do seu trabalho para o espaço público a prioridade das suas preocupações diárias e quem gere o Ensino Superior também não consegue fazer isso. E o saber lá vai ficando cristalizado “inter pares” e os investigadores lá vão ficando cada vez mais longe do grupo daqueles que influencia os vários poderes instituídos. Poderia essa letargia não ter importância nenhuma, se não contribuísse para uma imagem de província que continuamos a ter por parte daqueles que nos olham a partir de Lisboa.

Poderiam os media nacionais constituírem-se aqui como espaços fomentadores de alguns equilíbrios de um país que anda a diferentes velocidades. Ora, o que acontece a este nível é exatamente o oposto. Vivendo em ambientes de profunda crise, os donos dos media têm vindo a fazer emagrecer as suas estruturas e os primeiros cortes são sempre nas delegações regionais. Resultado: a agenda mediática faz-se, sobretudo, com aquilo que acontece em Lisboa e com as chamadas elites da capital. O resto do país é notícia quando há atos de ruptura (acidentes, inundações, homicídios...) ou quando o poder central visita a província que normalmente se engalana de forma exagerada como se estivesse para receber uma espécie de corte de visita ao reino. Poderia ser risível, se não houvesse consequências de uma subserviência que cada vez mais nos distancia do centro.

Como escrevi na Lição nas minhas Provas de Agregação dedicada à problemática da representatividade daqueles que fazem a opinião nos espaços de informação da TV portuguesa, a norte de Lisboa encontram-se quatro importantes universidades (Coimbra, Aveiro, Porto e Minho), líderes em áreas do conhecimento e, sobretudo, na respetiva valorização, isto é, na transferência dos resultados da investigação para a economia e para a sociedade. No caso da região Norte, a pouca presença de protagonistas e analistas dela oriundos nos plateaux informativos das televisões é particularmente grave e incompreensível quando se trata de uma massa populacional de cerca de 3,7 milhões de pessoas (35 por cento do total nacional), que concentra quase 40 por cento das exportações nacionais, que tem tradicionalmente uma grande dinâmica sociocultural e onde se situa a segunda cidade do país.

Há que pensar profundamente nessas assimetrias nacionais que se exacerbam nos palcos de informação jornalística. Ora, uma das formas de neutralizar os atuais desequilíbrios passa por saber projetar no espaço público (mediático) o que de mais importante se faz e que se constitui como inegável valor para o progresso do país. Isso ajudaria a criar marcas com grande valor simbólico. Também seria bom criar elites que tivessem opinião fora da capital. O país que pensa e que é critico dos vários poderes não pode estar apenas em Lisboa. Mas hoje essa é a realidade.
Olhando para a região do Minho, não se descobrem aí líderes com projeção nacional. Ninguém em Lisboa saberá o nome de meia dúzia de pessoas da região, se estas não pertencerem ao futebol, às artes e à política local. Saído destes campos, não há ninguém com responsabilidade institucional que tenha conquistado projeção nacional. Não pode ser.

O futebol é aqui um domínio importantíssimo para projetar a região. As artes também. E o poder local. Em Braga, em Guimarães e em Famalicão, os autarcas são indubitavelmente aqueles mais conhecidos a nível regional, registando-se uma grande perda de visibilidade dos atores da Universidade do Minho que têm ficado numa volumosa espiral do silêncio. Mas toda essa gente precisa de criar estratégias para fazer com que o Minho seja uma voz ouvida para além do perímetro regional.

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