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Longevidade

Portugueses bacteriologicamente impuros

Longevidade

Escreve quem sabe

2024-01-16 às 06h00

Analisa Candeias Analisa Candeias

Todos sabemos que o país se encontra com uma população relativamente envelhecida e que o número de nascimentos tem vindo a reduzir nos últimos anos. Em relação às minhas experiências pessoais, vivo numa zona que tem grandes idosos e tem um número curioso de centenários, mas que apresenta também, ainda, um número interessante de crianças e de jovens. Sendo esta uma zona rural, não é de espantar que haja uma certa tendência ao abandono da vila que nos viu crescer, aos da minha geração, porém, aos poucos, vamos voltando a viver cá e, de forma também intrigante, têm-se instalado famílias relativamente jovens por estas bandas, procurando uma maior qualidade de vida.

O que acho de facto singular é o número de grandes idosos e centenários que a região apresenta, gente que trabalhou maioritariamente nos campos e na agricultura, e que, hoje em dia, continua em plena harmonia com algumas das atividades nesse âmbito. A mim, pessoalmente, faz-me refletir sobre a longevidade e a condições para se chegar mais além em idade; a nível coletivo, penso que podem ser exemplos e fontes de sabedoria que nos permitem entender os tempos hodiernos e conhecer melhor os caminhos por onde devemos seguir.
Pensar as condições para a longevidade passa por refletir sobre algumas questões relacionadas com a alimentação, a atividade física, o sentido de pertença a uma comunidade, o viver no presente e a vontade de futuro, assim como com os propósitos. Obviamente que me poderão refutar com estudos sobre tendências genéticas e problemas de saúde crónicos, mas o curioso é que cada vez mais se sabe que essas situações são melhoradas e atenuadas com aquilo que se faz de bom em relação às condições anteriores.

Quando se aborda a alimentação, deve-se abordar igualmente a noção de equilíbrio, qualidade e quantidade. Vivemos numa sociedade que se tem pautado, infelizmente, pelo consumo de comidas com excesso de gordura e açúcar, em que a rapidez se sobrepõe à qualidade; porém, também vivemos numa sociedade em que se preconiza o muito comer, a abundância. Talvez sejam estes alguns dos resultados da influência do capitalismo e da globalização, porém, na verdade, os portugueses têm apresentado números e estatísticas que começam a preocupar naquilo que diz respeito a uma nova forma de epidemia, que é a obesidade. Por isso, qualidade e quantidade requerem equilíbrio e a nossa alimentação atual requer uma certa atenção, pois é nela que, em parte, vamos buscar os elementos necessários para a saúde que iremos ter quando formos idosos.

Também a atividade física é essencial para a longevidade e a saúde. Não é necessário começarmos, todos, a fazer maratonas ou caminhadas de 30 km diários; o que é preciso, isso sim, é que haja movimento e uma certa aceleração cardíaca, que nos permita sentir esta máquina que temos a nosso cargo a trabalhar. Na realidade, em geral, passamos muito tempo sentados: trabalhamos sentados, deslocamo-nos sentados, descansamos sentados, etc.. Para sermos longínquos no tempo, é urgente que haja movimento do corpo, que este seja desafiado e que seja, acima de tudo, posto em ação. Obviamente que cada um de nós conhece as suas limitações e devemos atender às mesmas quando pomos o corpo a mexer, todavia, o que interessa é começar - em pequenos passos possíveis.

O sentido de pertença a uma comunidade e de contribuição são igualmente fundamentais para que haja longevidade. Não passa apenas por existir alguém que cuide dos idosos, em lares ou instituições, porém, sim, que haja alguém que se preocupe com eles, que os ajude a pertencer a algo mais que eles próprios e que lhes permita usufruir de relações sociais e de amizade. Este sentido de pertença vai muito para além do sentido de responsabilidade social, visto que pessoas com maior longevidade são aquelas que, habitualmente, são cuidadas e acompanhadas no seu seio familiar. Daqui pode partir-se para a vontade de futuro, com vivência plena do presente: sabendo que pode existir um amanhã, que ainda não chegou e nem se sabe como é, permitimo-nos viver o atual momento com maior atenção e maior consciência.

E falta abordar os propósitos, ou o sentido de vida, ou a missão de que nos responsabilizamos, porque, no fundo, são as mesmas coisas. Todos nós sabemos, menos bem ou um pouco melhor, aquilo que temos jeito para fazer, aquilo que gostamos de realizar e onde nos sentimos bem. Ter um propósito significa ter um sítio onde estar durante o tempo que consideramos útil, passa por concretizar algo que ou ajude os outros ou até nos permita ser mais produtivos. Os japoneses têm uma expressão para este propósito, ikigai, que, no seu âmago, significa «razão de viver». Talvez seja isto que falta a muitos dos nossos idosos, cujas vidas são habitualmente pautadas pela solidão e/ou pela ausência de sentido: penso que poderemos aprender mais com esse povo oriental, os japoneses, especialmente porque os seus idosos são altamente respeitados e considerados.

Volto ao início, ao envelhecimento de muitos portugueses, que nem sempre sabemos como cuidar ou que nem sempre sabemos valorizar. Todos queremos viver muitos anos e com muita qualidade, porém, por vezes esquecemo-nos que é necessário começarmos a cuidar de nós próprios, e da nossa futura saúde, num tempo precoce. E, ainda assim, olhemos para os exemplos à nossa volta, em particular para aqueles grandes idosos e centenários que nos têm tanto para dar e para nos fazer aprender. Acompanhar, cuidar e respeitar talvez sejam ações em que é urgente investir mais, pois serão também elas as nossas ajudas para um amanhã.

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