Analogias outonais
Ideias
2016-05-02 às 06h00
Nunca como hoje, as cidades viveram projecção tão expressiva e importância tão acrescida na qualidade de vida das pessoas.
Não menos verdade, nunca como hoje, as cidades viveram momento tão concorrencial e competitivo, lutando, par a par, para alcançar um patamar de polaridade e atracção que as densifique populacional cultural e economicamente e, assim, permita rentabilizar e alavancar infraestruturas, inovação e coesão.
Com e em diferentes dimensões, cada cidade luta pela sua afirmação e, algumas delas, de forma expressiva e inegável sucesso, ombreiam com regiões e países.
Uma das mais actuais estratégias de afirmação e consolidação da “posição da cidade no mundo” suporta-se na procura e alcance de eventos e desígnios (quanto maiores e de mais largo impacto e abrangência, tanto melhor…), procurando projectar, mediática e economicamente, a cidade e recheá-la de animação e infraestruturas, fluxos de pessoas e bens.
Alcançar e organizar um evento de cariz internacional ou mundial, de natureza regional ou supramunicipal ou ser “capital” (assistindo-se, hoje, a uma generalização do título de capital que banaliza o seu sentido, oportunidade e, fundamentalmente, o seu impacto - porque, convém não esquecer, capital é excepção, não é regra e quotidiano).
E, sem prejuízo dos respectivos impactos e vantagens, ao transformar a cidade numa mega operação de acontecimentos e colecção de títulos, desviamo-nos do que, verdadeiramente, é essencial na cidade: as pessoas e a comunidade.
Talvez por isso, urge (re)pensar este processo de gerir e construir a cidade, importando distinguir o processo e o prémio, o reconhecimento e o sucesso, o incentivo e o título, o corolário e a meta. Ou seja, quando estes eventos e títulos são causa ou resultado, são indução de transformação ou simples demonstração de capacidade.
Na prática, duas perspectivas se traduzem sobre esta realidade:
Uma associada a estes eventos e títulos entendidos como pretextos para alavancar a mudança e transformação, sendo expressão, de facto, de uma vontade e acção confirmada de alterar a realidade e modo de actuação. Se assim for, importará aqui o processo, o caminho da construção e transformação, sendo o título (eventualmente) alcançado, apenas e só, a expressão e o reconhecimento desse caminho, E incentivo para que a caminhada continue. Cada vez mais aprofundada e melhor.
Ao contrário, outra entendida como prémio, projecto fechado e acantonado num só objectivo: o título, demonstração de capacidade que se esgota por si só. Se assim for, aqui apenas importará o prémio e o sucesso da vitória, independentemente do seu carácter perene e transformador. Ou seja, apenas e só, interessa alcançar a meta. E tudo se esgotará quando à mesma se chegar!
Perante esta realidade, tudo (aparentemente) se joga entre um processo e um prémio, entre uma acção com tempo de partida mas sem prazo de chegada (antes e só com espaço temporal para construir e transformar positivamente) e um título com tempos de partida e chegada marcados e inadiáveis e, onde, o sucesso da vitória será a única medida possível.
Por muito que possa parecer lateral, esta é, seguramente, questão central para a vivência e atractividade das cidades, para a respectiva consolidação e (recorrendo a uma palavra tão em voga) sustentabilidade do seu modelo de transformação urbana.
E, numa região que até há muito pouco tempo atrás, verificou duas cidades intituladas “capitais”, importa reflectir o quanto as cidades podem ganhar (ou deixar de o fazer) em função da escolha feita.
Naturalmente, um é caminho longo e de maior dificuldade (mas mais credível e perene). Outro é mais imediato e mediático (bem sucedido mas efémero). Seguramente, ambos com impacto e consequência para a (boa) cidade que todos desejamos construir.
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