Os bobos
Ideias Políticas
2013-02-05 às 06h00
Talvez entusiasmados pela senda do Governo de coligação PSD/CDS, os responsáveis do Município de Braga têm procedido, com bastante incidência nos últimos tempos, ao agravamento generalizado das taxas e tarifas municipais. Foi assim na água, nos transportes urbanos e nas mais diversas taxas municipais. E o pior é que parece que lhe acharam piada, pois não param de tomar medidas que, por um lado, aumentam as fontes de receita do Município, e, por outro, esvaziam ainda mais os bolsos dos cidadãos, já fustigados pelos cortes sucessivos dos salários e subsídios e pelo aumento dos impostos.
Nesse mesmo sentido foi tomada a decisão, por despacho do Presidente da Câmara, de se proceder ao alargamento das zonas de estacionamento pago na via pública, nomeadamente através da introdução imediata (!) de parcómetros em mais vin-te e oito artérias da cidade.
Com esta decisão, a Câmara de Braga, que previamente tratou de concessionar a exploração e gestão do estacionamento pago na via pública, entregando essa tarefa por um prazo mínimo de 15 anos a um grupo económico bracarense (note-se, um grupo bastante habituado a trabalhar com a autarquia), afunda assim e ainda mais a situação social e económica dos seus cidadãos.
Ora, a decisão de alargamento da área de parcómetros na cidade decorre precisamente desse processo de privatização, constituindo assim a sua primeira grave consequência para os cidadãos. Lamentável é que o Partido Socialista - desta vez, o único responsável pelo sucedido, já que o PSD rejeitou em Braga aquilo que o PSD também fez no Porto - não tenha aberto o jogo todo quando se discutiu a privatização do espaço público, chegando mesmo a negar o aumento das tarifas de estacionamento e o aumento de ruas com parcómetros.
Como disse, isto é apenas lamentável, porque, na verdade, ninguém acreditava naquilo. Bastava ler os termos do negócio para se perceber que o concessionário só aumentando as zonas de estacionamento pago é que não perderia dinheiro (a não ser que estivesse, ele próprio, mais empenhado do que a própria autarquia na prestação deste serviço público).
E assim se percebe que a Câmara de Braga, mentindo aos bracarenses, havia já dado garantias ao grupo privado de que, depois de assinado o acordo de concessão, procederia a um brutal aumento das zonas de estacionamento pago à superfície, que, muito provavelmente, não vai ficar por aqui. Só desta forma era viável o negócio.
A Câmara regozija-se por-que encaixa mais de quatro milhões de euros de imediato e o concessionário esfrega as mãos porque passa a ser dono do espaço público da cidade, cobrando aos cidadãos o seu uso.
Numa cidade que se depara com problemas de fixação de moradores no seu centro histórico, que assiste diariamente ao encerramento de lojas do peque-no comércio, que viu o seu coração ser esvaziado de serviços públicos, de que a deslocalização do hospital é o exemplo mais paradigmático, esperava-se outra estratégia política por parte dos responsáveis do Município.
Daqueles que defendem esta decisão da autarquia têm chegado alguns argumentos, no mínimo, hilariantes, mas que merecem a atenção de todos.
Um dos mais usuais é a ideia de que os parcómetros, por que impõem uma certa rotatividade das viaturas, impedem que os lugares de estacionamento estejam ocupados de manhã à noite pelo mesmo veículo. Mas, pergunto eu, Braga tem falta de estacionamento pago? Então não temos, no centro da cidade, milhares de lugares de estacionamento pago nos parques subterrâneos? Alguns deles às moscas, desde a saída do hospital!
Outro argumento é o de que foram os próprios comerciantes e moradores que pediram, encarecidamente, para a Câmara colocar mais parcómetros. Perante tamanho absurdo, sugiro a quem diz isso que vá falar com esses comerciantes e moradores. Eu já o fiz e, no fim da conversa, trouxe comigo mais umas quantas assinaturas contra mais parcómetros na cidade.
26 Março 2024
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