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Mercado de trabalho em Portugal: resiliente, mas há ameaças!

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Mercado de trabalho em Portugal: resiliente, mas há ameaças!

Ideias

2025-06-21 às 06h00

António Ferraz António Ferraz

O mercado laboral em Portugal tem vindo a pautar-se pela sua resiliência face a vários choques económicos e sociais, entretanto surgidos. Na verdade, Portugal que na última década saiu de uma forte crise económica e financeira desde 2008/2009, em que foi obrigado a submeter-se a uma intervenção externa (‘Troika’) com a adoção de políticas de austeridade excessivas, de que resultou em uma quebra abrupta da riqueza produzida ou Produto Interno Bruto (PIB) e no disparar do desemprego. Porém, a partir de 2014/2015 em Portugal assistiu-se a uma recuperação económica, com redução do desemprego e subida do emprego, esta para máximos históricos. De seguida, consideremos os seguintes tópicos sobre o assunto em título, em concreto:
(1) Mercado de Trabalho e Resiliência;
(2) Dados Estatísticos Atuais do Desemprego/Emprego;
(3) Ameaças Futuras a Enfrentar;
(4) Conclusões.

(1) Mercado de Trabalho e Resiliência: A taxa de desemprego em Portugal na última década tem vindo a registar níveis relativamente baixos e estáveis, a nível de pleno emprego ou quase, pese embora, todas as condicionantes que tem vindo a assolar a economia mundial, tais como: (a) uma crise de pandemia; (b) uma escalada da inflação, com subidas dos custos da energia, dos preços dos bens alimentares não processados e das taxas de juro; (c) os efeitos do conflito Rússia-Ucrânia na Europa. Situações estas, geradoras de elevada incerteza nos agentes económicos quanto ao futuro e, como tal, potencialmente perturbadoras da atividade económica em geral. A estas condicionantes externas, pode-se adicionar ainda, no caso português, a prevalência sistemática de taxas de crescimento económico positivas, embora, algo anémicas.
(2) Dados Estatísticos Atuais do Desemprego/Emprego: Segundo, recente estimativa do Instituto Nacional de Estatística (INE) referente a abril de 2025, sobre o estado do emprego e do desemprego em Portugal. Assim, citando o INE podemos dizer que: “a taxa de desemprego tem vindo a registar níveis historicamente baixos e estáveis, a nível de pleno emprego ou quase, pese embora, manter-se elevado face aos níveis da média da União Europeia (UE) e média da zona Euro”. Deste modo, em abril de 2025, a população desempregada em Portugal foi estimada em 349,1 milhares de pessoas (353,2 milhares no mês anterior). O que corresponde a uma taxa de desemprego (população desempregada/população ativa) estimada de 6,3%, o valor mais baixo desde julho de 2023, traduzindo um ligeiro recuo de 0,1% face tanto ao mês anterior como há um ano. Ora, segundo o Eurostat, Portugal em abril de 2025 permanece com uma taxa de desemprego superior a registada na média da UE (5,9%) e na média zona Euro (6,2%). Por outro lado, a população subutilizada no mercado de trabalho, um conceito mais alargado de desemprego, em igual período, foi de 605,0 milhares de pessoas (612,2 milhares no mês anterior). Note-se, que a subutilização do trabalho refere a população desempregada, o subemprego de trabalhadores a tempo parcial, os inativos à procura de emprego, mas não disponíveis e os inativos disponíveis, mas que não procuram emprego. Já a taxa de subutilização do trabalho (população subutilizada/população ativa) foi de 10,6%, um valor inferior a março de 2025 (0,2%) e a abril de 2024 (0,4%). Por fim, em termos de emprego, em Portugal a população empregada registou um máximo histórico de 5 216,3 milhares de pessoas, o valor mais elevado desde fevereiro de 1998, mais 0,6% face ao mês anterior e 3,0% em relação a abril de 2024.

(3) Ameaças Futuras a Enfrentar: Na verdade, algumas ameaças se assomam no panorama mundial de forma a exigir que a governação portuguesa tenha capacidade de adaptação e adote políticas públicas adequadas, a saber: (a) As consequências económicas potencialmente negativas da elevação das tarifas (taxas aduaneiras) de Trump e, porventura, das medidas de retaliação exercidas pelos países afetados;
(b) A inteligência artificial (IA) que se apresenta como uma das disrupções mais relevantes a nível mundial no funcionamento do mercado laboral. Em relação a IA podemos afirmar que será um dos eventos que irão marcar, sobremaneira, o mercado de trabalho nos próximos anos e, assim, a afetar, nomeadamente as profissões exigentes de mais qualificações e, tal facto, terá óbvias consequências na economia em geral. Assim, citando o jornal ECO, temos: “há países e empresas que irão aproveitar bem as novas oportunidades, tornando-se mais produtivas e competitivas, dado irem trabalhar de forma complementar com o novo instrumento de trabalho (IA), e, haverá países e empresas que não se vão adaptar e, logo, atrasando-se em termos de produtividade/ competitividade, gerando, com isso, um aumento da desigualdade, com mais dispersão não só a nível interno dos países, como também, entre os países”;
(c) As fases de crise pandémica, subida de inflação e o eclodir de uma guerra na Europa implicaram na necessidade de se contemplar novas variáveis ao mercado laboral, sobretudo, o fator incerteza na decisão dos agentes económicos.

(4) Conclusões: Podemos concluir que na última década, pese embora, os abalos económicos e sociais à escala global, o mercado laboral em Portugal tem-se revelado resiliente, em particular, mantendo taxas de desemprego baixas e estáveis. Porém, como referimos, são várias as ameaças ao bom desempenho do mercado de trabalho dado o complexo contexto mundial em que vivemos, o que exige a atenção dos poderes públicos. A propósito, citando o jornal ECO, temos: “a sociedade portuguesa tem vindo a passar por uma profunda transformação aos níveis da escolarização e qualificação, por meio da qual as pessoas perspetivam a sua carreira, de que resulta algumas tensões, dado existirem trabalhadores mais qualificados, mas, mantém-se também um conjunto de micro e pequenas empresas que ainda não valorizam tais qualificações”. Quer dizer, a atual geração, a mais qualificada de sempre em Portugal, agora valoriza, sobretudo, a carreira e a remuneração, o tempo livre e o reconheci-mento social. Não se deparando, em geral, com tais requisitos e muitas vezes encontrando apenas empregos precários, optam pe-la emigração. Tudo isto, se traduz claramente numa perda de recursos humanos altamente valiosos no mercado de trabalho afetando de forma negativa a atividade produtiva nacional.

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