Maravilhas Humanas
Ideias Políticas
2025-03-18 às 06h00
Tive o privilégio de conhecer Miguel Macedo ainda muito jovem, com apenas 13 anos, corria o verão do ano de 2009. Os meus irmãos arrastaram-me para a campanha autárquica da Coligação Juntos Por Braga, sendo eles, à época, já militantes ativos da JSD Braga. Eu ainda nem idade tinha para ser militante da Juventude Social Democrata.
Quem se recorda das eleições autárquicas desse ano, recorda-se, certamente, de que foi uma campanha fervorosa, existindo a crença de que efetivamente era possível ganhar e derrubar o bastião socialista que até então Braga tinha sido. Foi com particular dissabor que, no agora designado Hotel Mercure – naquela data, Hotel Turismo -, se conheceram os resultados eleitorais: a Coligação Juntos Por Braga não tinha vencido as eleições autárquicas e tinha ficado a uns escassos 2664 votos do Partido Socialista, elegendo as suas candidaturas, respetivamente, 5 e 6 vereadores.
Foi, para muitos, a sensação de morrer na praia, porque tínhamos ficado tão perto. Para o meu irmão João, foi a sua primeira derrota política. Lembro-me de entrar no então Hotel Turismo e de encontrar o meu irmão João a soluçar no ombro de Miguel Macedo. Aproximei-me e tive a oportunidade de ouvir (e aprender) o que Miguel Macedo dizia ao meu irmão, enquanto o procurava reconfortar com algumas palmadinhas nas costas: «É destas derrotas que nascem as grandes vitórias». Disse-o com a segurança e tranquilidade na voz de quem já tinha passado por dezenas de processos eleitorais e de quem sabe que a política não se faz só de vitórias.
Nos anos que se seguiram, foram várias as oportunidades que tive de o ouvir e de aprender consigo. A última vez ocorreu em dezembro último, numa atividade organizada pela JSD Braga por ocasião da celebração dos 50 anos desta estrutura. Os presentes tiveram o privilégio, não só de ouvir as histórias que Miguel Macedo tinha para contar dos primeiros anos de existência da JSD Braga, mas também alguns dos seus pensamentos relativamente à conjuntura política, nacional e internacional, e as suas preocupações com o futuro, as quais relacionava sempre com as suas viagens, em particular aos Estados Unidos da América para visitar a sua filha.
Todos, sem exceção, lhe reconhecem a elevação do discurso, o trato exemplar, e a inteligência e lucidez de pensamento inigualáveis. E, nos últimos dias, por infortúnio do sucedido, foram várias as histórias que dele se foram ouvindo e que tive a oportunidade de conhecer – em particular, as relativas a todas as benfeitorias que Miguel Macedo fez por várias instituições da cidade de Braga, entre as quais a Associação Académica da Universidade do Minho, da qual era sócio honorário; a Rádio Universitária do Minho; a Tuna Universitária do Minho; entre tantas outras. Miguel Macedo deixou um rasto de admiração em todos aqueles com quem se cruzou - ensinou muito a todos nós.
Mas não podia deixar de referir que também foi amplamente injustiçado. Foi julgado em praça pública e retiraram-lhe, por consequência, o que de melhor sabia fazer: o bem em prol do país; o bem em prol da comunidade. E ainda que, juridicamente falando, se tenha feito Justiça, esta não permitiu que a honra que o mesmo merecia lhe tenha sido feita em vida; nem lhe permitiu recuperar a política ativa, a que tanta falta nos fazia.
Deixa um legado inestimável e, a todos os que tiveram o privilégio de o ouvir, nem que fosse por breves minutos, o exemplo do que é bem servir a causa pública, de forma séria. Mas também nos deixa o exemplo de que não devemos julgar a atuação de ninguém pelos títulos sensacionalistas, pelas notícias mediáticas e, muito menos, pelas alegadas acusações públicas feitas nos mais diversos fóruns, sob pena de sermos nós os responsáveis pelo injusto afastamento do espetro político de pessoas tão capazes, tão sérias e tão competentes como Miguel Macedo era. E, em particular, com o afastamento de Miguel Macedo do panorama político ativo, quem perdeu foi toda a sociedade portuguesa.
Que esta reflexão, com particular importância para o panorama político nacional que atualmente vivemos, nos permita não voltar a cometer os mesmos erros e nos impeça de julgar levianamente outros em praça pública.
Até sempre, Miguel!
15 Abril 2025
15 Abril 2025
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