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Minoria absoluta

Entre a vergonha e o medo

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Minoria absoluta

Ideias

2022-02-08 às 06h00

João Marques João Marques

O passado dia 30 de janeiro marcou o fim de uma paixoneta política, desvendada em sucessivas sondagens que, como tudo na vida, ao revelarem em demasia, fizeram com que o interesse se perdesse. Portugal e o PSD separaram-se litigiosamente, com acusações funestas de parte a parte.
O povo português entendeu conferir ao “estafado” governo de António Costa uma maioria absoluta inesperada que chocou tanto os opositores como os apoiantes do Partido Socialista, a começar pelo próprio Primeiro-Ministro. Habituemo-nos, por isso, a utilizar o cargo como se do nome da figura se tratasse, tal passará a ser a coincidência entre a pessoa e o poder. Na história da democracia portuguesa, Costa passa a ser o segundo político a ocupar o cargo de chefe do governo por um período medido em décadas e não em anos soltos.
Se é absoluta a maioria, não menos absoluta é, do lado do principal partido da oposição, a necessidade de mudar. É tempo de reagrupar, refletir e reagir.
Ao longo de 4 anos, Rui Rio ganhou repetida e copiosamente o partido que, de forma igualmente repetida e copiosa, foi sendo derrotado em eleições no país. Sem prejuízo da evolução positiva das eleições autárquicas do ano passado, o facto é que Rio não venceu uma única eleição (descontando as regionais e as Presidenciais que, como é sabido, têm características muito próprias e pouco ligadas às lideranças nacionais) em que tivesse apostado ou aparecido como protagonista.
Teremos forçosamente de concordar com Isabel Meireles, uma das várias figuras inefáveis da direção que seguiram Rio acriticamente, quando esta culpa o povo português pelo desaire eleitoral do PSD. Devemos, contudo, ser mais específicos e não apontar indistintamente a todo o povo, reduzindo o âmbito da acusação àquele conjunto de portugueses que partilham a condição de eleitores com a de militante do PSD. Esses sim, como a generalidade dos portugueses demonstraram à saciedade, falharam de modo inapelável.
Não excluo aqui ninguém. Falharam, antes de mais, os que elegeram Rio repetidamente, mesmo depois de derrotados e avisados pelos restantes portugueses. Falharam também os que não conseguiram afirmar uma alternativa vencedora dentro do partido, embora se não lhes possa atribuir um grau de culpa semelhante, atenta a atenuante da coragem que tiveram para avançar contra o líder em funções. Falhei eu que não consegui mobilizar e convencer gente suficiente para uma mudança interna no partido que pudesse não só impedir a maioria absoluta do PS, mas sobretudo apresentar uma via reformista vencedora para Portugal e à altura dos pergaminhos do PSD.
O que resta, hoje, é um conjunto de cacos divididos entre rioístas frustrados com o país e os portugueses, anti-rioístas frustrados com esses rioístas e um sem número de militantes que seguramente se sentirão perdidos entre batalhas internas e derrotas pesadas. As tais que fizeram desperdiçar um legado sólido de confiabilidade e respeito que a vasta maioria dos eleitores, ainda que potencialmente críticos de determinados rumos traçados, sempre sentiu pelo “partido mais português de Portugal”.
Nesta amálgama de negativas, tem de surgir uma solução positiva, comprometida com um caminho longo, difícil, mas essencial. Não se trata de reerguer o partido, antes de reconectá-lo com o país.
Já aqui escrevi – então a propósito daquilo que entendia que Paulo Rangel deveria ter feito ou proposto nas eleições internas de novembro passado – sobre a imprescindibilidade de "mexer com os fundamentos em que o PSD se sustenta, sem os destruir. Te[eríamos] de ser capaz[es] de apelar à modernização do Estado sem parecer querer obliterá-lo. Te[eríamos] de dar o mote para a superação do paradigma do partido da troika, sem enjeitar o patriótico e incontestável protagonismo liderante do PSD na ultrapassagem da crise da bancarrota de 2011”.
Hoje, perante a hecatombe eleitoral a que assistimos incrédulos, esta síntese torna-se especialmente premente. E ela não prescinde de ninguém.
No tempo que durar este mandato, o PS terá um poder absoluto que importa controlar politicamente com uma mensagem alternativa e clara.
Esperemos não ter de voltar à denúncia da “claustrofobia democrática”, sendo certo que todos receiam a sua reedição, mas a prioridade tem de passar pela proposição de soluções e caminhos que construam um ambiente de concertação cívica e transversal suficientemente forte para que o povo português volte a depositar no PSD um voto de esperança e de progresso.
Teremos de voltar às pessoas, aos trabalhadores, aos empreendedores, às universidades, às escolas, à administração pública, aos hospitais, ao setor social, às pequenas lojas e serviços, ao desporto, aos campos, à floresta, ao mar e aos rios, ao mundo, à Europa, à cidade e à aldeia, à inovação e à tradição, onde quer que o PSD possa e deva fazer a diferença, para, junto dos melhores, reparar as feridas que nos afastaram da sociedade civil e do espaço preferencial das maiorias eleitorais que sempre soubemos cativar.

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