António Braga: uma escolha amarrada ao passado
Ideias
2023-09-17 às 06h00
Pouso repetidamente o olhar em aviso de que nunca percebi realmente o sentido: «Montra em Recomposição». Reparo eu, como muito quem passe e a vista lhe vagueie, retendo a nota, menos o recheio atrás de vidraça que abra para a via pública.
Tabuleta que resta, quanto igual a si permaneça o arranjo de miudezas de pouco apelo. Terá o bazar a sua clientela, ou nem tanto; não chegará o apuro para os gastos, salvo se a chafarrica pertença aos próprios, e o nome comercial persista por um imobilismo sem trespasse, porque abra a boca quem a detém, logo que sangue novo e artigo mais na moda tente a chance.
Estou como quem vê a sociedade Montenegro & Soares de letreiro, desenhado porventura a letra simpática, porque legível apenas sob certas condições, mas de sentido que os próprios e acólitos cotem como antipática, o que de todo não me aflige. Não tem a Montenegro & Soares artigo ou reclame que faça frente aos barateiros do lado, ou que é que constata quem os surpreenda em momento televisionado? Discurso monocórdico, elocução que não inflama, carisma que nem a equivalente de detector de metais liberta um bip que desperte intelecto e infunda emoção.
Ouvindo-os, quem dirá: «São eles!», pensando em próximo elenco governativo? Não têm letra, não têm música, não têm coreografia, não são solistas, nem justificam senão a quarta fila de coro, e isto com a condescendência do maestro, em atenção ao efeito benéfico que exerçam involuntariamente em intérprete com algum talento, mas com deficit de auto-estima.
Porque tem a sociedade Montenegro & Soares que varejar ante ventanias de Ventura? Apenas porque nada de sério e bem embrulhado avancem para envergonhar o propagandista do Costa. Não têm os sócios quem lhes explique que a seriedade não é sensaboria? Não têm quem lhes mostre a diferença abissal entre uma sopa de robot de cozinha e um caldo saliente de couves, com troços delidos e feijão a encher a boca, mais uns ossitos ou toras de toucinho?
Talvez ninguém lhes mostre o que eles não queiram ver, o que eles não saberiam ver, porque não lhes chegue a sensibilidade ao genuíno, porque não lhes chegue o arroubo para imaginar para lá de amanhã. Porque não lhes chegue, enfim, a ambição para elevar um povo.
Talvez não lhes chegue horizonte para se insurgirem contra o liberalismo que produz uma náusea contrária a progresso postiço de pregão. Fazer oposição a Costa implica ter verbo para criticar o destempero de vinte e tal anos de moeda única, de prepotências de quem nada sofre com o que determina que se faça. E implica, em complemento, uma mundividência que comparação não tenha com os abrires de boca de basbaque.
Alargamento? Se fosse eu a dizê-lo corriam-me a chuto. Sendo a Úrsula é determinação. Lampedusa: cento e tal mil neste ano? Quem vive em negação? Ou seremos todos xenófobos? E a energia, e os combustíveis, e a inflação? Quem monta o puzzle ao contrário?
Sociedade sem mercadoria, sem cotação, sem clientela. Seriam eles, porque chegada a hora, mas o problema é que não têm discurso por alma própria, e nem espaço farão para que apareça. Seriam eles, se lhes víssemos respaldo que nos confortasse. Seriam eles, se percebêssemos como melhor andariam, para pavor do partido mais à direita de esquerda caduca.
Entretanto, com que plataforma se apresentarão a urnas no próximo pleito europeu? Eleição que nunca é especialmente favorável a quem esteja em governo, mas que o duo de montra em recomposição suspeita que não ganhe. Manequins que um destes dias aparecerão na Feira da Ladra, ou na tal fila, com uma sinecura, para que não macem.
11 Dezembro 2024
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