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Ideias

2015-11-15 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

Como a coisa vai, só mesmo uma justificação bíblica para legitimar um governo de António Costa. Os últimos são os primeiros, e vice-versa. A citação é livre, mas não há quem não a conheça. Sabemos que o unigénito era dado a parábolas rocambolescas, mas, no fundo, quem somos nós para lhe remendar as palavras? Embora nos tempos que correm já não seja chamada à sagração dos poderosos, no caso em apreço parece-me importante invocar argumento que remeta para a Santa Sé: quem melhor do que o Papa para desfazer a embrulhada em que Portugal se encontra? Não sei se o Passos Coelho se deixará impressionar, mas tenho o Paulo Portas por homem piedoso, muito dado às invocações de Nosso Senhor e da Virgem Santíssima, muito apegado à Stª Bárbara para efeitos de trovoada, e ao S. Sebastião em contingências de fome, peste, guerra, enfim, por uma troika de aflições como outra qualquer.

Podemos dizer cobras e lagartos do Costa, mais da Catarina e do Jerónimo, mas ninguém é obrigado a sinalizar coligações ou arranjos pós eleitorais, como Passos Coelho bem sabe. Há eleições, depois há resultados, e depois logo se vê. A coisa corre mal? Pior para os visados, e melhor para quem ficou a gozar de camarote. Mas não, agitam-se os despejados de S. Bento, e todos os que com eles comungam da ideia de que a grande esquerda é nociva, uma vez que, com a pequena esquerda socialista, bem têm eles podido desde os tempos longínquos em que Soares fechou a ideologia a sete voltas, em gaveta da qual nunca mais ninguém se lembrou.

A litania é de agonizar: que uma combinação na asa esquerda é espúria, que no fim de contas eles não se entendem, que estão tão próximos de se misturar como a água e o azeite, que nem os bem-intencionados eleitores de cada um deles valida a combina... Que é melhor que se faça eleições outra vez, que é para que os cidadãos doravante avisados possam dar melhor rumo aos seus votos, que uma revisão constitucional é muito bem vista, e já para amanhã...

Eu não sei, mas ficamos com a sensação de que a política portuguesa resvala para a insanidade, e é engraçado como a revisão constitucional ressurge na ribalta. Passos Coelho já não ia à bola com a Constituição antes de ser instituído no Poder, agora parece que ainda menos. Acredito que seja grande a sua contrariedade, a ponto de não estranhar que pondere trocar Portugal por país irmão de Constituição mais a seu jeito. Será doloroso, é certo, para ele e por extensão para todos nós. Mas muito homem é o primeiro-ministro cessante, sólido e determinado, imune a pieguices e a apegos lamechas. Será mais um cérebro que se vai, entre os poucos que no rectângulo restam. Porém, mágoas se afoguem, e que ninguém se entreponha entre o homem e o seu destino.

Pela combatividade que lhe reconhecemos, também acreditamos que finque calcanhares no chão pátrio e se apreste para luta sem quartel. A ser assim, um pouco mais de jogo de cintura e de honestidade intelectual seriam trunfos a não desdenhar. Por exemplo, poderemos nós levar a sério alguém que se entrincheire na ideia melosa de que na política é tudo transparente, que nada se joga por baixo da mesa ou de modo dúbio, que não se faz uso de artimanhas e de toda uma panóplia de golpes baixos e arranjos mirabolantes? Lá bonito era, mas não é assim que a coisa corre, como bem sabemos. E Passos Coelho também sabe, pelo que não lhe assenta assim tão bem o papel de virgem inocente. Olha a Ferreira Leite é menina para ter umas coisitas engraçadas para lhe dizer ao ouvido.

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